terça-feira, agosto 05, 2008

Em Sucre, capital constitucional da Bolívia

Potosi é uma cidade onde se sente e vê a influência da colonizaçao espanhola nas igrejas e ruas e casas com varandas.

Na segunda-feira à noite houve uma manifestação de mineiros no centro de Potosi. Ainda falei um pouco com alguns deles para saber se iriam avançar para um bloqueio de estradas. Disseram que não.
Um pequeno, relativamente, monte sobranceiro à cidade alberga algumas minas no seu interior. No início da colonizaçao espanhola havia muita prata e chamaram a esse morro “Cerro rico”. Agora há muito menos prata mas continuam a sua extracçao e de outros metais, como estanho e zinco.
Na terça de manhã juntei-me a um grupo de italianos para uma visita às minas.
Antes de sair da cidade parámos num pequeno mercado para comprar algumas coisas para oferecer aos mineiros, cigarros, bebidas, folhas de coca, álcool e até dinamite. É uma tradição que os visitantes ofereçam alguma coisa aos mineiros durante a visita. Nesta cidade é permitido vender e comprar dinamite.
Depois foi necessário vestir um fato impermeável e calçar galochas para evitar sujar a roupa e molhar os pés.
Antes de entrar na mina subimos a um pequeno morro onde um ajudante da guia, que se tinha juntado ao grupo, foi levar uma barra de dinamite um pouco mais longe para a fazer explodir. Foi um estouro jeitoso, mas apenas levantou alguma poeira.
Ao entrar na mina que fica a uns 4.200 metros de altitude uma italiana voltou para trás ao fim de poucos metros. Não se sentia à vontade para continuar.
Prestámos homenagem ao “Tio”, espécie de diabo protector dos mineiros. Foram os espanhóis que no início da exploração da prata nessas minas puseram esse diabo aí e disseram que era o “dios” dos mineiros. Os indígenas não tinham o “d” no seu vocabulário e começaram a chamar-lhe “tios” até que ficou conhecido para sempre como “tio”.

Segundo conta a história, durante a ocupação espanhola, terão morrido nas minas mais de cinco milhões de mineiros. A maioria escravos indígenas obrigados a trabalhar mais de seis meses sem sair das minas. Se agora as condições são más nesses tempos deveriam ser terríveis.
O trabalho é bastante duro e todo manual. Apenas um ou outro mineiro usa um martelo pneumático. Nessa zona o pó é demasiado.
As vagonetas para o transporte do minério são puxadas por três homens. Nada de máquinas. Os carris por onde andam essas vagonetas estão muito degradados e muitas vezes descarrilam e é preciso voltar a carrilá-las apenas com o esforço físico.
Realmente, passar uma vida dentro daqueles túneis deve ser terrível.
Ainda fui visitar a Casa de Moneda. Antiga construção, recuperada para museu, onde eram fabricadas as moedas de prata que seguiam para Espanha.
Tinha uma colecção de moedas e medalhas bastante grande, tudo de prata.
Numa sala havia vestígios de antigos habitantes.
Ao início da noite perguntei na polícia se haveria bloqueios na estrada para Sucre e disseram que não. Como tinha visto a manifestação da noite anterior queria saber se podia sair da cidade ou não.
Confiante de que tudo ia correr bem, como correu, arranquei para Sucre a meio da manhã.
Estrada fora havia alguns pontos muito interessantes. Sempre numa região montanhosa a estrada ia subindo e descendo pelos vales dos rios, uns secos e outros apenas com um fio de água.
A uns cinquenta quilómetros de Sucre havia uma ponte pênsil bem bonita cuja recuperação tinha sido acabada em Maio de 2008.
A uns dez quilómetros da cidade comecei a ver muitos camiões parados mas pensei que fosse um lugar de restaurantes, era uma e tal da tarde. Fui seguindo devagar e a certo ponto vi um carro a fazer inversão de marcha e a vir para trás. Então vi o que se passava.
Havia um “bloqueo”. Alguns troncos no meio da estrada, uns carros e uma barreira de terra com mais de um metro de altura a ocupar toda a largura da estrada.
Afinal sempre havia bloqueios. Parei e fiquei a pensar o que fazer. Os homens sentados na berma disseram-me que podia passar que não havia problema. Olhei meio desconfiado mas eles voltaram a dizer que podia seguir.
Desmontei e fui a pé ver se o espaço era suficiente para passar entre um poste e a parede. Parecia que dava.
Voltei à moto e disse que ia ver se passava. Eles disseram que me ajudavam se fosse preciso. A moto passou mesmo à justa. Voltei-me e acenei a agradecer.
Em Sucre procurei o Hostal Pachamama, na Calle Aniceto Arce, que a Carola me tinha indicado como agradável e com lugar para guardar a moto. Parece bom.
O Hartmut ainda está por aqui e fui ter com ele. Depois de acabar o seu curso de castelhano ainda ficou mais duas semanas. Mas vai ficar mais uma por causa dos bloqueios nas estradas. Também vou ficar uns dias a ver quando posso sair.
No hostal encontrei um casal de suíços que tinha conhecido em S. Pedro de Atacama e fizeram o percurso inverso até Uyuni na sua carrinha Volkswagen. Tentaram sair da cidade mas não conseguiram por causa dos bloqueios regressando ao hostal.


Nestes últimos dias o amortecedor de trás da minha moto deixou de funcionar em condições. Comecei a sentir todos os pequenos ressaltos na estrada que tem sido de asfalto desde que entrei no Chile há quase um mês. Quando passava nalgum ponto em reparação ou ia ver alguma coisa também sentia todas as pequenas pedras.
O Hartmut conhece um mecânico e levou-me lá para ver se poderia arranjar o amortecedor. Levei lá a moto na sexta de manhã e no sábado ao final da tarde estava o amortecedor reparado. Dei uma volta e pareceu-me que o problema estava resolvido. Agora espero que a reparação aguente até regressar a casa. Ainda faltam alguns quilómetros…
No sábado por volta do meio-dia os suíços saíram para tentar furar o bloqueio. Não regressaram ao hostal, por isso devem ter conseguido continuar a sua viagem.
A cidade de Sucre, capital constitucional da Bolívia, é muito interessante. Tem muitas construções antigas e alguns museus que não visitei nem vou visitar. Já me cansei de museus.
A declaração de independência no século XIX foi escrita nesta cidade e a “Casa de La Libertad” é hoje um museu onde se pode ver a História da Bolívia.
Na quarta-feira, 6 de Agosto, é o dia da independência e os festejos na cidade devem ser interessantes.
Neste últimos tempos sente-se uma certa tensão no ar por causa de um referendo que vai haver no próximo domingo. Decide-se se o governo do actual presidente deve continuar ou não assim como quase todos os “prefeitos” das províncias. Algumas províncias efectuaram referendos para exigir autonomia em relação ao governo central, todos foram favoráveis, e se este novo referendo confirmar a continuação do governo poderá haver problemas com essas províncias.
Estou a pensar seguir no sábado para Leste, em direcção ao Brasil para se for preciso sair do país estar mais próximo a fronteira.
Por agora vou aproveitando os dias e as noites.
O Nuno, ciclista português, disse que tinha uns “links” para páginas de ciclistas que ia conhecendo e eu achei a ideia interessante. A partir de agora já tenho também essas ligações a outros viajantes que fui encontrando pelo caminho. Algumas das páginas são em alemão ou até holandês, mas quase todas são em inglês. Espero que se divirtam a visitá-las.

Sucre, S 19º 02,550’ W 65º 15,377’
O mapa do trajecto efectuado, mais ou menos, foi actualizado no dia 9 de Agosto.


5 comentários:

Anónimo disse...

Caro António vejo-te cada vez mais animado e solto na linguagem.

Já aproveitas não só os dias como também as noites...
Pela tua afirmação de qua já estás farto de museus imagino que as noites tenham vindo a ser animadas..;)
Fiquei surpreendido por teres encontrado o Patrick e a Belinda Peck. Não me apercebi, lendo o teu blog, da data e local onde te cruzaste com eles.
Já não os vejo desde que nos visitaram no MCP.
Continua lá com a tua aventura e vai-te preaparando para nos vires relatá-la num próximo encontro HU e no MCP.
Um abraço
Caldeira

Anónimo disse...

Caro António vejo-te cada vez mais animado e solto na linguagem.

Já aproveitas não só os dias como também as noites...
Pela tua afirmação de qua já estás farto de museus imagino que as noites tenham vindo a ser animadas..;)
Fiquei surpreendido por teres encontrado o Patrick e a Belinda Peck. Não me apercebi, lendo o teu blog, da data e local onde te cruzaste com eles.
Já não os vejo desde que nos visitaram no MCP.
Continua lá com a tua aventura e vai-te preaparando para nos vires relatá-la num próximo encontro HU e no MCP.
Um abraço
Caldeira

Anónimo disse...

Olá Queirós,
Srá que é desta que vais arranjar emprego para ganhar uns cobres e vamos ver-te a trabalhar nas minas??
Vá lá, já chega de passear! Tem piedade dos que por cá estão a fazer pela vida...
Abraço
Carlos

ontheroad disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
parkour disse...

ola antónio

Estive a ver o teu blog pelo qual estou a ver que te vais safando.
Continua e disfruta ao máximo

um abraço do Armindo que trabalhou contigo na fábrica das luvas que eu cá vou andando pelas europas mas de camião.

Bons quilómetros : abraço