segunda-feira, setembro 17, 2007

Os preparativos

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No início de Outubro vou seguir para a Argentina para iniciar uma viagem que já há longos anos quero fazer. Passear no continente americano, começando pelo Sul.
Apenas idealizei um trajecto a efectuar sem compromissos para visitar isto ou aquilo. Ir simplesmente passear com o objectivo de chegar até à cidade mais a sul, Ushuaia, e depois tentar alcançar o ponto mais a norte, Prudhoe Bay.
Pelo caminho não quero deixar de passar nalguns sítios que são considerados míticos, como uma das novas maravilhas do mundo "Machu Picchu" no Peru ou a tristemente célebre "estrada da morte" na Bolívia.
Como gosto de andar a pé, sempre que tiver hipótese também quero fazer algumas caminhadas. Subir a algumas montanhas e acampar durante uns dias é das coisas que não quero deixar de fazer.
Mas, antes de tudo, é preciso chegar ao ponto de partida.
Os preparativos são a parte mais desgastante. Não pelo esforço mas pela ansiedade que vai aparecendo à medida que os dias vão passando e é preciso tratar da preparação da moto e depois do transporte.
A moto foi toda revista e depois de andar uns quilómetros para ver se estava tudo bem já foi encaixotada e está pronta para seguir.
Agora só espero pelo dia em que tenha a moto fora da alfândega em Buenos Aires e em ordem de marcha.

domingo, setembro 16, 2007

Austria e Jugoslavia 1990

Viagem pela Europa

Esta foi a primeira viagem de moto que fiz, poderei dizer.
Não considero uma ida, um ano antes, a Jerez de la Frontera para ver o Grande Prémio como uma “viagem”. Na ocasião para nós que lá fomos, sete em quatro motos, já foi um fim de semana espectacular e uma aventura.
Naquela época costumávamos dar umas voltas até ao Gerês e pouco mais. Havia poucas concentrações e a moto que tinha era quase nova. Tive de fazer a rodagem antes de ir. O Pimenta foi com a moto de um dos meus irmãos.
As outras duas que foram eram de amigos que já as tinham há algum tempo. O grupo era formado por 2 Suzuki Djebel, 1 Aprilia Tuareg e 1 Honda Dominator.
Sentir todo aquele ambiente que havia em volta do G.P. com toda aquela gente e as motos que por ali havia fez-nos pensar em algo maior.
Fomos até à Holanda, também na ocasião do seu Grande Prémio. Essa já foi uma viagem maior, mas de carro. O Pimenta tinha uma moto pequena e iria ser uma seca ir sem ser em motos semelhantes. Optámos por ir de carro e foi uma experiência muito boa. Aquela sexta à noite em Assen foi inesquecível. Uma coisa diferente, também, foi ver em acção as Norton de motor rotativo nos treinos e corrida de TT, especialidade que havia na altura e de que também houve provas no circuito de Vila Real. Tinham um som de escape “melodioso”, se se pode dizer.
No sábado de manhã quando chegámos ao circuito quase não havia lugar para nos sentarmos. Parecia que todos tinham feito uma directa e ainda estavam a dormir.
Nesses dias de viagem começámos a planear uma viagem pela Europa, mas de moto.
Entretanto o Pimenta comprou uma Dominator e começámos a ir mais vezes às concentrações. Conhecemos muita gente. Algumas pessoas já tinham viajado de moto e isso ainda nos fazia crescer a vontade de sair também.
Entre muitos destinos que haveria, acabámos por escolher a Áustria e a Jugoslávia pois haveria o Campeonato do Mundo de Velocidade em dois fins de semana seguidos e juntaríamos o útil ao agradável, como se costuma dizer.
Viajar e conhecer um pouco desses países e ainda assistir aos G.Ps.
Como estaríamos perto ainda dava para dar um salto à Hungria.
O Pimenta escreveu um resumo do que foi essa viagem de três semanas que a “motojornal” publicou.

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(no fim tenho mais umas palavras)


Umas semanas antes da partida, no dia 31 de Maio, começámos a pensar se deveríamos ir ou não, pois começaram a surgir notícias de que haveria possibilidade de problemas na Jugoslávia, como infelizmente veio a acontecer uns quatro meses depois com a guerra que dividiu esse país.
Mas já estávamos com tal ansiedade em seguir que fomos. Tudo correu bem e ninguém se meteu connosco.
Ao chegarmos à Suíça, a Monthey, nem foi preciso dizer nada. Vieram logo ter connosco umas pessoas perguntando se éramos o cunhado e o amigo do Alcino, cunhado do Pimenta. Todos, passe o exagero, os portugueses da cidade sabiam que íamos chegar ali de moto indo de Portugal. Para eles foi uma alegria e “mostrar a estes suíços que os portugueses não são só emigrantes”.
Atravessar a Suíça vendo aquelas montanhas e vales foi sensacional. E então aquelas estradas num sobe e desce às curvas nem se fala.
A Áustria também era um espectáculo.
Na Jugoslávia o que mais me impressionou foi o Parque Natural de Plitvice. Acho que foi das paisagens mais bonitas que vi até hoje. Uma sucessão de lagos e quedas de água que será difícil esquecer. Para percorrer a maior parte do parque havia uma passarela de madeira que permitia descer por um lado do vale e subir pelo outro, passando por cima de todos os pequenos rios que por ali corriam. No fundo havia um lago maior onde um barco transportava as pessoas para o outro lado para poder dar a volta completa. Achei uma maravilha.
Depois de uma visita a Budapeste regressámos à Áustria.
Voltámos a atravessar a Suíça em direcção a casa, seguindo-se a França e a Espanha, naturalmente. Por acaso era véspera de S. João quando chegámos a casa por volta das sete da tarde. O Pimenta à noite foi com a família até Vila do Conde e eu fui com uns amigos festejar o santo. Eles só diziam que depois de dois dias da Suíça até à Trofa só quereriam era ir dormir. Eu dizia que andar de moto não cansa desde que se ande devagar. Normalmente a nossa velocidade de cruzeiro andava entre os 110 e 120 quilómetros por hora.
Esta primeira viagem de três semanas ficará sempre na nossa memória.
Quando estávamos a preparar a viagem alguns amigos diziam que as nossas motos, duas Honda Dominator, não eram motos para fazer viagens. Nós só dizíamos que eram as que tínhamos e por isso teriam de ir e voltar.
Foram e voltaram sem problemas, apenas tive de substituir o filtro do ar em Burgos, na ida.
Depois desta viagem ainda fiz mais algumas com a Dominator, que vendi com muita pena. Já estava quase com 135 mil kms e a precisar de alguma mão-de-obra.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Picos de Europa 1992

Esta viagem foi decidida sem mais nem menos e foi bem fixe.
No final o Pimenta escreveu uma pequena historia que foi publicada na "motojornal" passados uns meses.

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Se calhar haveria mais coisas para contar mas o mais importante é que estes cinco dias foram espectaculares.

Pirenéus 1992

Pirenéus 1992

Esta primeira ida aos Pirenéus foi realizada como consequência da ida aos Picos de Europa.
As paisagens dos Picos fascinaram-nos de tal maneira que pensámos que os Pirenéus também deveriam ser fantásticos em termos de beleza.
O Fernandes não podia ir mas o Pimenta e eu preparámos as coisas para irmos no início de Junho. Era mais fácil marcar férias nesta ocasião e também fugíamos à época alta quando anda muita gente e é mais difícil arranjar sítios para dormir ou comer.
O Pimenta sempre foi mais organizado do que eu e estudou um percurso a realizar numa semana.
Poucas semanas antes de partirmos um amigo nosso, o Hernâni Cunha, perguntou se podia ir connosco. Via-nos a falar entusiasmados sobre a viagem e sobre a anterior ida aos Picos que também queria ir. Não haveria problema.
Nós que saíamos sempre de manhã cedo quando queríamos fazer uma volta, desta vez saímos só depois de almoço.
Fomos dormir perto de Valladolid. Procurámos um parque de campismo mas não nos souberam indicar nenhum. Acabámos por acampar num terreno ao lado de um hotel. Correu bem, ninguém nos incomodou.

Seguimos até Andorra que naquela época, penso que ainda hoje, era um destino muito procurado pelos portugueses para compras e turismo.
Ficámos aí acampados dois ou três dias e aproveitámos para subir ao Port d’Envalira, ponto mais alto na estrada para França. A estrada sobe por um vale muito bonito. A chuva é que não nos largava e aumentava as quedas de água.


De volta a Espanha seguimos em direcção a Viella. Num certo ponto a estrada estava em obras e com a chuva ficou um lamaçal que nos sujou todos. O que vale é que a chuva continuava e lavou-nos bem depressa.
De vez em quando havia uma aberta e dava para fazer umas fotografias.
Quando passámos no Port de Bonaigua a 2.072 metros, em Baqueira Beret a zona com mais altitude, a chuva passou a neve. Neve ligeira mas que molhava e era bem fria.




Em Viella arranjámos um hostal pois com a chuva precisávamos de secar alguma coisa e sempre seria mais quente.
A continuação da viagem era em direcção a Somport e segundo nos informaram já podíamos utilizar um túnel acabado de construir uns meses antes e evitar a estrada pela montanha, pois estaria cheia de neve.
Assim fizemos e tanto na subida como na descida depois do túnel deu para ver uma paisagem fantástica. Montanhas verdes com neve até uma certa altitude, aquele contraste era uma beleza.



Entrámos no vale de acesso ao Monte Perdido, que faz parte do Parque Nacional de Ordesa e Monte Perdido. Mais um vale espectacular. Fomos até ao final e regressámos pois a estrada não tinha continuação.



Mais um túnel para atravessar só que desta vez para França. A meio do túnel as placas informativas já estavam em francês.

Fomos dormir em Fabian. Quando estávamos a chegar a um pequeno hotel uma senhora que estava a entrar num carro parou e olhou para nós. Voltou para trás e perguntou se queríamos ficar ali.
Dissemos que sim e que também queríamos comer alguma coisa. Para comer seria mais complicado, só se fosse umas omeletas e batatas fritas.
-Que maravilha, dissemos nós.
A senhora abriu a porta do hotel e disse para nos instalarmos pois ia a casa e voltaria mais tarde. Queria ir ver o final de um jogo de futebol entre França e Suécia, se não estou em erro, para o campeonato europeu desse ano.
Pouco depois de nos instalarmos e de um banho quente para nos reanimar a senhora voltou.
Fez-nos então o jantar e regressou a casa. Ficámos sozinhos no hotel.
Fomos a um bar beber um copo que eu tive de pagar pois fazia anos nesse dia. Mas quando regressámos ao hotel eu disse que ainda tínhamos de beber uma garrafa de vinho do Porto que eu tinha levado para comemorar e não queria carregá-la mais tempo. Ajudou a combater o frio.
No dia seguinte fomos ver uns lagos que havia perto. Com a neve que tinha caído nos dias anteriores estava um espectáculo.



Passámos perto de Lourdes mas não fomos em peregrinação até lá.
A nossa ideia era regressar a Espanha um pouco mais à frente mas a estrada a partir de La Mongie estava bloqueada pela neve. Ainda estivemos um pedaço a pensar em tentar mas depois achámos melhor não arriscar. Um francês passou a barreira e tentou seguir de carro mas ao fim de uns metros teve de parar e ao vir em marcha atrás caiu na valeta. Tivemos de o ajudar a sacar o carro senão a polícia ainda era capaz de o multar.

Voltámos a descer pelo Col d’Aubisque até uma estrada que nos levasse mais à frente de modo a podermos subir novamente a montanha e atravessar para Espanha.
Perto do cruzamento para o Col du Portalet a moto pediu a reserva e fiquei na dúvida se seria melhor descer mais um pouco e ir à próxima cidade meter gasolina. Mas depois pensei que haveria algum posto de combustíveis no caminho e não valia a pena fazer o desvio.
Continuámos a subir apreciando a paisagem nestas estradas que normalmente fazem parte da volta a França em bicicleta.
Depois de passar a fronteira e começar a descer no lado espanhol a moto ficou mesmo sem gasolina. Afinal deveria ter ido atestar mais abaixo em França. Valeu-me o Hernâni que com a sua Africa Twin pôde ir procurar um pouco de gasolina. Voltou pouco depois com alguma e dizendo que havia um posto a meia dúzia de quilómetros.
A estrada até Biescas passa por uma paisagem fascinante. Vêem-se algumas aldeias nas encostas e mesmo junto da água numa barragem. Ainda fizemos um desvio para ir ver um velho mosteiro abandonado.
No primeiro hotel em que parámos em Biescas disseram-nos que não havia lugar. Se calhar foi por verem três indivíduos de moto um pouco sujos. Mas mais no centro arranjámos quem nos abrigasse.



Uma visita ao Parque de Ordesa e Monte Perdido não podia falhar.
Seguimos as placas indicativas que havia e fomos passando por zonas bem bonitas. Na estrada que subia para o parque já dava para apreciar a beleza que seria. Andámos um pouco a pé mas o parque é enorme e só deu para ter uma pequena ideia da grandiosidade que tem. Merecia uma visita mais demorada.
Felizmente já tivemos, eu e o Pimenta, oportunidade de lá voltar mais algumas vezes e fazer umas caminhadas pela montanha. Só posso dizer que é uma maravilha!





Na volta entrámos num caminho que subia a par de um rio e resolvemos dar um mergulho. Estava sol e pensámos que seria bom.
O pior foi ao entrar na água. A água estava como gelo. Até apetecia berrar.
Continuámos em direcção a Huesca para começar o regresso casa.
No entroncamento com a estrada para Saragoça parámos para abastecer e o Pimenta perguntou onde ficavam os “Mallos de Riglos”, formação rochosa que aparecia em livros como uma beleza a visitar. Cerca de quarenta quilómetros para trás nessa estrada onde chegámos.
Uma pequena conferência entre os três e resolvemos ir até lá para ver.
Valeu a pena essa deslocação. Pouco mais à frente de Ayerbe saímos à direita e entrámos numa estrada que nos levava ao sopé da montanha. Aquilo impressionava mesmo. Uma espécie de colunas rochosas com trezentos metros de altura. É um lugar para onde muitos escaladores vêm treinar.
Seguindo outra vez em direcção a casa parámos pouco depois de Saragoça para dormir. No dia seguinte chegámos a casa cansados mas satisfeitos.
Uma semana com muita chuva e alguma neve mas quando tudo corre bem e as paisagens e a companhia são boas só se pode dizer: foi muito bom!

A partir de 1996 tive oportunidade de ir várias vezes até aos Pirenéus, tanto no verão como no inverno, para rolar por aquelas estradas de montanha fabulosas e também para fazer umas caminhadas.
Aquela cordilheira tem ainda muito que me falta conhecer. Espero voltar lá mais vezes.

Escrevi este texto com a ajuda do meu amigo Humberto Pimenta que fez uma revisao para nao haver erros com os nomes dos lugares.