terça-feira, fevereiro 12, 2008

Passagem por El Bolson, Argentina de novo

Continuando pela Carretera Austral em direcção a Cerro Castillo a estrada tem um piso que até nem está muito mau, mas nos últimos vinte quilómetros fica muito mau com muita pedra solta.Depois de Cerro Castillo já está pavimentada primeiro com cimento e depois com asfalto. O percurso é muito bonito sendo quase sempre nos vales dos rios.

Durante muitos quilómetros a estrada atravessa a montanha para Coyhaique e o panorama parece de planalto de média montanha, com muita verdura e árvores nas encostas até à linha de neve, mas a altitude que o GPS vai indicando é entre os 100 e 300 metros.

Depois de Coyhaique a estrada, pavimentada, acompanha o rio Aysen até ao mar.

Em Puerto Aysen não há parque de campismo, só um sítio para acampar junto ao rio mas sem serviços. Andei às voltas até encontrar uma “hospedaje” onde ficar. Nas três primeiras onde tentei os responsáveis não estavam, tinham ido até à praia. Encontrei uma, Hospedaje Marclara, em que fiquei. Ainda não era tarde, mas não queria estar sentado à porta de uma das outras à espera. Nesta hospedaje até havia internet “wi-fi” e aproveitei para ir vendo o que se passava.

A cidade não me pareceu muito interessante e como tinha ouvido dizer que Puyuhuapi o seria continuei para lá.
O percurso na ruta 7, agora com bastantes quilómetros de asfalto, continua espectacular acompanhando lagos e rios. Quando passa a rípio já não se pode admirar devidamente. Muitas vezes por causa do piso que apesar de não ser mau de todo exige muito cuidado. Às vezes também será já o cansaço de ver tanta coisa bonita. Pode ser um exagero mas começo a não ligar muito às montanhas com neve e aos rios correndo pelos vales.
Para alguns que lêem o que vou escrevendo pode parecer uma blasfémia dizer estas coisas mas realmente ao fim destes meses já não vou achando que as paisagens sejam tão diferentes umas das outras. Claro que há sempre pontos com interesse.
Os últimos trinta quilómetros antes de Puyuhuapi foram mais difíceis. Estão a alargar a estrada pois há muitos quilómetros em que quase não se cruzam dois carros e neste troço a estrada ainda não está compactada e é muito macia e tem muita pedra solta. Em muitos pontos as subidas ou descidas são acentuadas e seria complicado cruzar com um autocarro, o que vale é que o movimento é muito reduzido.
Procurei um parque de campismo, só que não havia. Apenas uma casa tinha um quintal onde podia acampar. Já acampei outras vezes assim, aqui no Chile, e tirando o parque nas Torres del Paine ainda não fiquei num verdadeiro parque de campismo. Já vi sinais mas ficam todos muito fora das cidades e penso que serão mais para quem quer fazer os ditos desportos radicais.
No quintal onde fiquei, não havia mais gente, o chuveiro ficava no interior de um barracão que também dava para utilizar como cozinha. As tábuas estavam um pouco separadas e se estivesse vento não o conseguiriam parar. Já fiquei noutros que nem isto tinham.

Afinal Puyuhuapi também não me pareceu nada de especial e segui a meio da manhã com a ideia de ir ficar a Chaitén para depois atravessar para a ilha de Chiloé.
Seriam já duas da tarde quando parei para comer alguma coisa numa sombra junto ao rio. Olhei para o mapa e vi que o nome de Futaleufú estava, mais para o interior, à mesma distância de Chaitén e assim de repente resolvi seguir para lá.
A estrada até não estava má de todo. Procurei uma hospedaje, pois os parques ficam muito longe da cidade, e encontrei uma que também tinha campismo no quintal. A diferença de preços era tão pequena que fiquei num quarto.
Um israelita que estava aí disse-me que na cidade não havia nada. Só o “rafting” é que fazia a cidade viver e na verdade por todo o lado havia empresas dedicadas a isso.
Andam por aqui muitos israelitas, também já os tinha encontrado na Argentina, e segundo um deles quando acabam o serviço militar alguns vêm até à América do Sul passear antes de começarem a trabalhar.
Tem estado calor e nesta zona foi o único lugar até agora onde vi incêndios nas montanhas.

Passei de novo para a Argentina e fui em direcção ao Parque Nacional de Los Alerces.
Fiquei num parque de campismo junto do Vila de Futaleufquen, o parque de Los Maitenes.
Procurei conhecer um pouco mas está muito calor e não se pode andar muito. É mais agradável ficar no parque de campismo à sombra ou ir até à praia no lago.
Durante a noite, como era sábado, houve festa até às quatro da manhã.


Quando saí do parque pensei que teria de pagar mais alguma coisa, pois o bilhete de entrada era válido por 48 horas e fiquei três dias, mas afinal não foi preciso. Só um controlo de saída para verificar se tinha pago entrada.
A estrada para sair do parque de Los Alerces passava em pontos muito agradáveis. O problema era o pó já que havia muito movimento e alguns andavam bem depressa.
Depois do desvio em Cholila a estrada ficou do piorio. Andam a repará-la e havia muitas zonas em que mal se podia andar. Foram quase trinta quilómetros de sofrimento, poderei dizer. Nalguns sítios a gravilha era tanta que nem dava para escolher um trilho para seguir. Várias vezes saí da estrada e fui pelos antigos desvios para poder andar melhor, mas mesmo assim foi um troço de estrada muito cansativo e desgastador.

Quando cheguei à estrada asfaltada até parece que a moto também ficou contente. Foram uns quilómetros numa região muito bonita com a estrada a subir e descer e com curvas que dava gosto fazer. Já havia bastante tempo que não ia aos cem à hora e depois de muitos dias e muitos quilómetros a trinta e quarenta à hora até soube bem.
Cheguei a El Bolson a meio da tarde sob um calor abrasador. Encontrei um parque de campismo quase junto da cidade.
A cidade parece um centro hyppie pois vêem-se muitos jovens e menos jovens com aquele ar e roupas dos anos sessenta. Num jardim havia uma sessao de ensino de capoeira. À noite houve música na praça.
Como estava muito calor aproveitei para comer um gelado. Por menos de dois euros compra-se um quarto de quilo com três ou quatro sabores. Bom!
Hoje é dia de feira de artesanato. Há quanta bugiganga se possa imaginar e ainda outras coisas mais elaboradas, como relógios com base de madeira, pedras trabalhadas, roupas, doces, sei lá, tanta coisa.
Vou continuar para norte na Argentina, por aqui nao se pode fazer nada com o calor e tenho que ir continuando, pois o meu plano é chegar no verao de 2009 ao ponto mais a norte do continente.
Km 05048, El Bolson, S 41º 58,115’ W 71º 31,574’

11 comentários:

Anónimo disse...

Caro Queirós é natural que para ti as coisas comecem a não ser tão pelativas como o foram no início da tua viagem, isso dever-se-á à tua natural habituação aos cenários grandiosos que tens atravessado, mas deixa-me alertar-te para o sentimento que irás ter quando chegares outra vez a casa ou, antes disso, a alguma cidade que te lembre a tua região.

Provavelmente irás querer dar meia volta e regressar à estrada novamente...

Sei que corro o risco de te aborrecer com insistência mas tenta aproveitar a tua viagem numa vertente mais etnográfica. Perde algum tempo a conhecer as pessoas e os seus costumes.

Julgo que se o fizeres te vais sentir muito mais preenchido e as paisagens deixarão de ser o teu principal foco de atenção.

Estás a travessar mais do que paisagens, vidas de pessoas que provavelmente jamais voltarás a ver. Marca a diferença, para ti e para elas. Troca algumas das tuas vivências com as vivências delas...

Eu sei que cada um vive a vida à sua maneira por isso não me leves a mal estas sugestões.

Um abraço e continuação de boa viagem.

Mustafá

Anónimo disse...

Queirós
Só quero dizer uma coisa........bota prá frente.
Cont.de Boa Viagem

G.Albuquerque

Anónimo disse...

Não há dúvida, o pessoal já não passa sem as tuas crónicas, e quando demoras mais um pouco a dar notícias, ficamos ansiosos. Estamos sempre à espera do próximo texto e das próximas fotos para nos deliciarmos.

Continuação de boa viagem
Pedro Leite e Catarina

Anónimo disse...

OLá Tio Tone!!!

Daqui fala a Avó Dete, a Alice, o tio Nuno, o Francisco e a Paula!!!! Ainda não derreteste??!! É que com tanto calor nós estamos a ficar preocupados! A Avó está cheia de saudades tuas, e já ha mais de um mês que não lhe ligas... como é?! Tens que lhe ligar!! É que a tua vóz é musica para os ouvidos da vó!!! A Alice manda-te muitos beijinhos e deseja-te muita saudinha! Eu, Paula e o Francisco mandamos-te muitos beijinhos e, desejamos que continues a dar estas noticias maravilhosas. O Tio Nuno, manda aquele abraço! Obviamente que toda a famila já esta com imensas saudades e está a torcer por ti!!!

Muitos beijinhos de todos!!

PS - O Chiquinho já tirou o gesso!!!!

Unknown disse...

Grande Queiros

Estamos aqui a ler os teus relatos e a apreciar as paisagens junto contigo. Não desanime com aquilo que já virou rotina prá você. As fotos são maravilhosas e os relatos também. Mantenha o ânimo e lembre-se que muitos te acompanham na jornada. Boa viagem !!!!!!

Anónimo disse...

Oi, Queirós
Subscrevo o Caldeira Mutafá.
Convive e aprende com as pessoas e guarda recordações delas, fotografando-as.Nós também estamos a aprender com os teus relatos.
Imagino o piloto em que te estás a tornar, devido a tantas horas de condução em pisos péssimos e com a moto sobrecarregada.
Já podes ficar aí para o ano para o Dakar. Vai ser aí, na Argentina e Chile, sabias?
E não ficas em último, com essa experiência toda.
Queres chegar ao Alasca daqui a dois anos? Já?
Ao que temos visto e lido, estás no Paraíso.
Um grande abraço
Nestes

Anónimo disse...

Boas Queirós
As tuas crónicas são dignas da "National Geographic". Vou ao teu Blog quase todos os dias para saber as novidades. Continua a tua aventura e partilhar esses momentos com os amigos do lado de cá.
Abraço

Valente

Anónimo disse...

Olá GRANDE Tio Tone!
Não te percebo, andas para a frente e para trás! O que procuras? Claro que estou a brincar! Tu sabes o que queres e tens o projecto bem definido! Desta vez as notícias nunca mais chegavam e a preocupação crescia! Mas já vi que continuas na maior! As paisagens estão a perder o encanto será que se advinha a despedida? Isto é vais mesmo em 2009 ainda andar por aí? Grande maluco!
Olha continua tranquilo que por cá graças a Deus não há nada a acrescentar - tudo bem! Beijos e saudades!
Belacuz

Anónimo disse...

Grande Queirós,

É com uma vontade devoradora que leio e vejos as fotos que vais mandando.
Pois é tens tanto e tão bonito pela frente que começas a relativisar a beleza que te rodeia.
Mas vá lá faz um esforçozinho e continua a apreciar e fazer dos teus relatos e das tuas fotos a nossa presença nessas paragens.

Continua a fazer Boa Viagem

Um Abraço,
Paulo Oliveira

Anónimo disse...

Pois é Queirós, todos nós te sentimos a falta, mas todos nós desejamos que continues essa tua viagem. Fotos 5 estrelas, descrições que nos fazem sonhar.
Bora lá, andar viajar e comentar para nós aqui ficarmos a sonhar!

A. Pedro

Anónimo disse...

hey


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