Para cá chegar, depois de visitar o Yellowstone Park, fui continuando para norte procurando sempre seguir por estradas secundárias, nas principais há muito movimento e andam muito depressa.
Um dos pontos a visitar era o Glacier National Park mas ainda ficava longe. Parei para dormir em Drummond onde conheci um casal muito simpático, estivemos na conversa e a beber umas cervejas durante algum tempo.
No dia a seguir de manhã estava a chover mas parou pouco depois. Tentei fugir da estrada inter-estatal mas não deu. Quando estava a virar para o acesso vi um sinal a dizer “Garnet Ghost Town”. Fiquei a magicar se valeria a pena passar por lá ou não mas já estava na estrada e não podia voltar atrás.Segui até perto de Missoula onde virei à direita para ir por uma estrada mais secundária. Mais à frente havia outro sinal para a cidade fantasma e sempre fui lá ver.
Tive de seguir alguns quilómetros por uma estrada de terra e finalmente cheguei à cidade que tinha meia dúzia de casas, dizia lá que era a cidade fantasma mais bem conservada de Montana.
Andei lá pelo meio a imaginar o que seria a vida daquela gente nos tempos da corrida ao ouro.
Em Kalispell, no dia seguinte, tive de mudar o pneu traseiro que já estava a ficar mais careca do que eu. Comprei um pneu de taco para ver se consigo fazer melhor as estradas lá mais para o norte.
Cheguei ao Glacier Nat.Park, na entrada oeste em Apgar, ao início da tarde. Montei a tenda e fui dar uma volta pela estrada para o Sol, nome da estrada. A estrada estava fechada a partir de certo ponto por causa de desabamentos e pela neve.
Mesmo no ponto da barreira havia um trilho para o lago Avalanche. Fui até lá e era uma maravilha. Ao redor as montanhas tinham neve e havia algumas quedas de água.
Como o parque tinha outra entrada tive de o contornar para chegar lá. Nessa ligação vi um urso negro na berma da estrada.
Entrei por St. Mary e fui para o campismo em Rising Sun. Fui dar uma volta até à barreira na estrada. Não havia nada para ver. Mais abaixo um trilho levava a umas cataratas e meti por lá.
As primeiras cataratas não eram nada de especial mas as segundas, Virginia Falls, já eram mais grandiosas. Como sempre veio uma chuvada no regresso.
No parque de campismo, ao meu lado, estavam quatro americanos e um deles, o Jay, convidou-me para me juntar a eles e beber uma cerveja. Claro que aceitei e estive a contar um pouco da viagem que ando a fazer. De manhã deu-me um cartão e disse que se passasse no Minnesota para os ir visitar.
Daqui até ao Canadá era uma distância curta. Na fronteira deixei o cartão verde que me deram na entrada dos Estados Unidos. O funcionário carimbou-me o passaporte para provar que tinha saído do país. Entrar nos Estados Unidos é um problema.
No Waterton Lakes National Park tentei levantar dinheiro mas as ATMs não tinham o meu sistema de cartão. Tive de levantar algum a crédito.
Não tinha muito para ver, para mim, e continuei no dia seguinte.
As estradas tornaram-se muito longas. São muitos quilómetros de rectas sempre por planícies com muito gado.
Ao passar em Frank Slide fui ver o que seria e vi que era sobre uma antiga cidade que foi quase toda soterrada por um desabamento da montanha sobranceira. Ainda vi um documentário sobre isso.A tarde foi quase toda de chuva. Passei em Fort Steele, uma outra cidade antiga, mas bem reconstruída.
Em Skookumchuck, a chuva já tinha parado, vi que havia um parque de campismo e ainda por cima com internet. Fiquei aí.
Tinha uma mensagem da Cheryl a perguntar quando passava por Victoria. O Narko, o Orkatz e o Axel já passaram por lá. Eu disse que também iria passar mas não sabia quando.
Em Radium Hot Springs tinha de pagar a entrada no parque Kootenay. Achei que seria melhor comprar o passe anual pois por cada dia é preciso pagar uma taxa.
Ao subir a montanha vi uma cabra montesa na estrada, por acaso ia devagar e pude parar para tirar umas fotos.
Cheguei a Lake Louise ao final da tarde e arranjei lugar no parque de campismo, que é meio caro. Ainda fui ao centro da vila, caminhando ao longo do rio, para comprar alguma comida.Fui ver o famoso Lake Louise, tinham-me dito que não o podia perder.
Era bonito mas na hora em que cheguei lá começou a chover. Fui andar na borda do lago e entretanto a chuva parou. Mais à frente havia um outro trilho que levava até uma casa de chá no planalto dos seis glaciares. Foi preciso subir bastante e algumas vezes atravessar a neve, poucos metros mas mesmo assim fazia impressão.
Era bonito ver o vale lá ao fundo com um rio de cor azulada a correr. De vez em quando lá vinha uma chuvada.
Ao anoitecer, no parque de campismo conheci a Annita, uma moça suíça, que anda numa auto-caravana a passear sozinha pelos Estados Unidos e Canadá. Disse-me que tinha tirado dois meses para dar uma volta pois estava a precisar de desanuviar.
Quando acordei de manhã a chuva já tinha parado e estava tudo meio seco. Abasteci, pois havia uns avisos a dizer que seriam 230 quilómetros até Jasper sem gasolina mas mais tarde vim a ver que havia um posto a uns setenta quilómetros. Arranquei com o céu nublado mas sem chuva. Pelo caminho ia parando para tirar umas fotos e ainda fui ver mais umas quedas de água.
Fui ver o Peyto Lake que por acaso foi interessante por causa da sua cor azul esverdeada.
Ao entrar no Jasper Nat. Park em Columbia Icefields havia um glaciar e montes de gente para ver o gelo. Até havia um autocarro preparado para andar na neve que levava as pessoas lá pelo meio do glaciar. Se calhar era interessante mas nem perguntei o preço. Não estava interessado, até porque estava um frio danado.
Em Jasper fui para o parque de campismo Whistlers, a uns quatro quilómetros da cidade. Ao montar a tenda começou a chover e mesmo no final carregou.
Fui até à cidade, ao final da manhã, para conhecer um pouco e ver algumas informações sobre onde ir. Andei pela velha estação de comboios e ao longo das avenidas.
Após almoçar segui para o Maligne Lake, tinha visto que seria interessante. Fui subindo na estrada, até cerca dos dois mil metros onde fica o lago.
A meio caminho fica o Medicine Lake, assim chamado pelos índios pois era um lago com uma grande medicina ou magia. O lago durante o verão quase fica seco e a água de um rio desaparece. Os geólogos descobriram que havia umas fendas no fundo do lago por onde a água saía e ia aparecer num outro lago a uns dezassete quilómetros.
À medida que ia subindo ficava cada vez mais frio. Junto ao Maligne lake apenas dei uma volta e decidi regressar a Jasper.
Ao passar junto do Medicine Lake havia umas cabras na estrada e toda a gente parava para tirar fotografias, também parei. Ao fim de um pedaço as cabras começaram a vir para o espaço onde tinha a moto estacionada e aproximaram-se demasiado. Disse a uma delas para se afastar e ela começou a rosnar para mim. Eu tinha visto quando ia para cima que uma das cabras se roçava num dos carros e não queria que fizessem o mesmo na moto pois podiam deitá-la ao chão. Arranquei antes que houvesse algum problema.
Ao final da tarde, no parque de campismo, um motociclista americano chamou-me e disse que me queria apresentar alguns outros motociclistas. Eram canadianos da ilha de Vancouver. Estivemos a conversar um pedaço e um deles disse que se passasse por lá podia ficar em sua casa e deu-me um cartão. Não sei o que se irá passar.
O percurso que queria seguir passava por uns lugares muito bonitos. A certa altura pensei que daria para chegar a casa do Peter e da Carol antes da noite mas ao chegar a Vavenby a estrada que o GPS me indicava para seguir era de terra batida. Cortava pelas montanhas e até era boa mas estava a chover e não queria arriscar. Ainda andei uns dez quilómetros mas resolvi voltar atrás, seriam uns 140 quilómetros até ao final, pois tinha medo de cair e aquela era uma estrada pouco utilizada.Fiquei num parque campismo em McLure eantes que a chuva voltasse a aparecer. De manhã o tempo já estava melhor e até o sol ia espreitando pelo meio das nuvens.
Vi num cartaz uma indicação de um ponto de interesse e fui ver. Era o lugar onde foi colocado o último prego para completar a ligação por caminho de ferro entre a costa oeste e a costa leste do Canadá.
Ainda parei em mais um lago antes de chegar a Revelstoke.
O Peter estava em casa e a Carol chegou pouco depois. Vou ver se fico uns dias por aqui para preparar a ida até ao norte. A moto está pronta e já tenho um kit de transmissão para trocar quando voltar a passar por aqui.
Agora só falta mesmo estudar as estradas a percorrer, não há muitas, e ver os pontos de abastecimento de água, comida e gasolina. Sei que haverá algumas partes onde a autonomia da minha moto não será suficiente e terei de levar gasolina suplementar.
Mas espero que tudo vá correr bem. Quero ver o sol da meia-noite e se tiver sorte alguma aurora boreal.
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O desenho do percurso destes últimos dias já foi actualizado.
Revelstoke, N 50º 59,918’ W 118º 11,265’