terça-feira, abril 14, 2009

México, na península de Yucatán

Pensei que seria uma boa ideia contornar o lago Atitlán apesar do fumo que não deixava ver grande coisa do lago. Talvez nalgum ponto houvesse mais visibilidade. Agora o objectivo seria ir visitar Tikal, ruínas de uma antiga cidade maya.
Arranquei e logo a seguir tive de encostar numa sombra e esperar que uma procissão acabasse para poder seguir.
A estrada sobe e desce à volta do lago mas nunca dava para ver pois a neblina era constante.
Perto de San Pedro a estrada de asfalto acabou e começou a terra. Numa subida com muito pó e pedras não consegui evitar que a moto me caísse para o lado direito. O pior foi que as rodas ficaram para a parte de cima. Depois de desmontar toda a equipagem consegui levantar a moto e levá-la até uma parte mais plana. Tive de voltar atrás para transportar tudo e montar outra vez. Foram apenas uns cinco quilómetros de terra mas suficientes para cair. Será a falta de treino de há bastante tempo não andar na terra.
Finalmente a estrada subiu até aos 2.600 metros e entrou numa zona mesmo fresca. Bem precisava. Tem feito um calor abrasador, salvo pequenos pontos onde se sobe mais. A subida era mesmo a subir. Em poucos quilómetros passei dos 1.500 para os 2.600 metros e era preciso ir muitas vezes em primeira.
Quando cheguei à estrada principal parei para comer. Num pequeno restaurante estavam dois guatemaltecos, o Aldo Vielman e o Luis Gonzalez, que começaram a falar comigo sobre o costume. No final um deles deu-me o endereço de internet e o telefone para o caso de necessitar de alguma coisa. Acabou por pagar-me a comida.
Na estrada para Chichicastenango havia subidas e descidas que faziam arrepiar. A inclinação era brutal e havia muitos ganchos para a direita e para a esquerda. Mas depois de passar essa cidade continuava e se calhar ainda pior.
Acabei por ficar em Sacapulas pois já eram cinco da tarde e como vi uma hospedaje que não era cara achei que era melhor parar.

No dia seguinte ao atestar soube que tinha havido um deslizamento de terras e seria quase impossível seguir pela estrada que estava a pensar.
Teria de dar uma volta por uma estrada secundária ou regressar à capital e seguir por esse lado.
Tentei a primeira hipóteses mas quando entrei nessa secundária os buracos no asfalto eram mais que muitos. Ainda subi uns quilómetros e parei num miradouro. Perguntei a algumas pessoas como era a estrada mais para a frente e disseram-me que ainda estava pior e haveria muitas dezenas de quilómetros de terra. A terra não seria o problema o pior eram os buracos enormes nas curvas e nas rectas.
Enquanto ia descendo em direcção à estrada principal ia pensando se devia seguir para o México ou ir visitar Tikal.
Todos me dizem que não devo perder Tikal e a região de Petén. Assim, tenho de lá ir.
Volto para trás em direcção à cidade de Guatemala mas fico novamente em Antigua. Já conhecia e era o final da tarde.
Domingo de ramos. Uma procissão andou desde as onze da manhã até às nove da noite pelas ruas da cidade. Não deverá ter falhado uma.
Arranquei para Tikal. Ao passar na cidade de Guatemala não dei com o desvio para evitar a cidade e tive de ir pelo periférico, o que foi uma grande seca. Muito trânsito e sempre no pára arranca nos semáforos, debaixo de um calor insuportável.
Estou sempre a falar no calor mas é verdade. Sempre muito calor.
Segui a estrada principal até Cobán. Aqui fui por uma secundária que era boa e seriam menos oitenta quilómetros. Fiquei em Chisec num pequeno hotel.
Durante a noite choveu que se fartou. Pensei que continuaria durante a manhã mas parou.
Os primeiros quilómetros decorreram no meio da selva tropical e numa zona montanhosa, bonito. Depois veio a planície e tornou-se monótono. Sempre alguma verdura mas rasteira.
Na cidade de Sayaxché foi preciso atravessar um rio de barco.
Cheguei a Flores ainda era cedo e fui para o Parque Nacional Tikal. Sabia que haveria onde acampar.
Quando cheguei ao parque falaram-me dos preços dos hotéis e resolvi mesmo acampar.
Manhã cedo fui visitar as ruínas. Andei por ali um pedaço e fiquei na mesma. Eram umas ruínas diferentes de outras que já vi mas não achei assim tão espectaculares como pensei que iria encontrar. Num dos templos subi até lá cima e fazia impressão. Nos tempos dos mayas deveria ser assustador ver aquelas escadas com gente.

No lago Peten Itza parei para almoçar e tirar umas fotografias. Não se vê muito do lago mas é mais um lago.
Continuei para sul para tentar chegar perto da fronteira e atravessar no dia seguinte.
Não estava com vontade de entrar no Belize para chegar a Chichen Itza, uma das sete maravilhas do mundo, pois tinham-me dito que cobravam umas taxas altas só para entrar no país e não havia nada especial para visitar.
No mapa havia uma estrada que cruzava para o México a meio caminho para sul e resolvi seguir por aí. Um casal que tinha conhecido em Sacapulas tinha-me dito que entraram na Guatemala por aí. Havia um rio para passar de barco mas dava para passar.
Quando cheguei a Bethel não encontrei onde ficar. O hotel que havia estava fechado. Voltei atrás às “Migraciones” para dar saída do país. Não há alfândega e não dei saída da moto. Fui até La Técnica, pequeno povoado fronteiriço, para cruzar o rio e a fronteira.
O problema é que não havia nenhuma barcaça grande para transportar carros ou coisas do género. Apenas umas canoas que transportavam gente e algumas mercadorias. Além disso as margens ficavam altas em relação ao rio. Foi preciso ir mais à frente onde havia uma praia onde foi possível carregar a moto numa canoa, com a ajuda de um homem que me guiou até lá.
Quando iniciámos a travessia do rio vi que só ia um rapaz novo de uns quinze anos, a guiar o barco, e um miúdo de uns dez, além de mim. Como vamos descarregar a moto?, pensei.
Entretanto a noite estava a cair.
Na praia do outro lado não havia ninguém à nossa espera. Foi preciso pedir ajuda a um sujeito que estava lá e a umas mulheres para conseguirmos sacar a moto da canoa para a areia.
Depois de cair uma vez na areia, já era noite, consegui subir a margem e entrar na aldeia mexicana, La Frontera Corozal. O serviço de migrações já estava fechado e fui procurar onde dormir. Os dois hotéis que havia estavam cheios. Tive de acampar no terreno de um deles.
Na manhã seguinte fui ao serviço de migrações para carimbar o passaporte e perguntei onde havia um posto de alfândega para dar entrada da moto. Só para sul ou para norte mas a centenas de quilómetros. Ainda tinha pensado ficar ali mais um dia mas achei que era melhor legalizar a situação e segui para as bandas de Yucatán, onde fica Chichen Itza.
Sempre com o pensamento de que a polícia me poderia fazer paragem fui em direcção a Palenque, a primeira grande cidade. Não havia alfândega e tive de continuar. Primeiro arranjei um mapa, pois sentia-me perdido.
A estrada foi atravessando uma região, Chiapas, onde havia pequenas elevações com uma floresta muito escassa. Havia muito gado ao longo de todo o percurso.
O calor também se fazia sentir muito forte.
O pior foi quando cheguei a Chetumal. Como era sexta-feira santa alfândega estava a fechar quando cheguei, eram duas e pouco da tarde. A funcionária não queria fazer a importação da moto pois eu não tinha fotocópias dos documentos e não havia onde as tirar. Estava tudo fechado. Dizia-me para voltar no sábado de manhã.
Quando já estava para ir embora um funcionário de um outro serviço arranjou-me as fotocópias e voltei outra vez à alfândega. A senhora não queria fazer o documento e eu dizia que não queira voltar ali. Por fim fez-me o papel, eu agradeci e fui procurar onde dormir.
Afinal tive de voltar à alfândega pois havia um erro no documento. Quando a senhora me viu começou logo a dizer que não mas eu disse que havia um erro e ela teve de corrigir. Um pouco contra vontade, pareceu-me, mas fê-lo.
Apesar da cidade estar à beira mar o calor não abranda, mesmo o vento que sopra do mar é quente.
Ainda pensei ir a Cancun, até parece verdade, mas como deve ser uma cidade com demasiados hotéis para turistas e sem nada interessante resolvi ir directo para Chichen Itza. Para ver a tal “Maravilha do Mundo”, só espero que não seja como Machu Pichu.
Fui procurar um hotel e quase ficava paralisado de susto. 1.060 pesos, uns 60 euros, foi o preço que me pediram por um quarto e por estar em promoção. Por ali havia mais hotéis mas os preços seriam semelhantes, disse a recepcionista. Mas também me disse que na aldeia mais à frente haveria preços mais em conta, cerca de 500. Já era metade mas mesmo assim ainda era muito. Ao entrar na povoação vi dois hotéis mas pareceram-me dos tais de 500 pesos e fui seguindo. Mais à frente vi uma “Posada” e fui ver. Eram só 200 pesos, 11,50 euros, por noite. Assim já está bem!



As ruínas de “Chichén Itzá” foram eleitas como uma das novas sete maravilhas do mundo. Eu devo andar com os meus sentidos de apreciação das coisas um pouco adormecidos. Não achei as ruínas nada de especial ou diferente para ter uma tal categoria, se calhar por causa do sol e do calor que se sentia.
Andei por lá toda a manhã e vi que as construções são imponentes mas… não sei. Não tenho conhecimentos de arquitectura ou história dos povos para ajuizar.
À hora que eu estava a sair é que estavam a entrar os grupos de visitantes. Nem imagino o que será andar por ali durante a tarde, se de manhã já era um calor sufocante.
Agora já começa a ser hora de virar os cavalos para norte, até para fugir do calor.

Piste, Chichen Itza, N 20º 41,867’ W 88º 35,233’

11 comentários:

Eduardo Lima disse...

Viva TioTone,
Vejo que mesmo debaixo de todo esse calor, o ânimo já aumentou de novo.
És tu a sofrer com o calor e nós outra vez com frio, depois de umas semanas de quase verão.
Se as “maravilhas” não te maravilharam, tenta ver as zonas paradisíacas pode ser que até fiques a gostar.
Um grande abraço,
Eduardo, Liliana, Bernardo

Arapongas Moto Club disse...

Achei interessante, mas me diga ai, é seguro ir para o México de moto?!

Me refiro a roubos e assaltos, não a acidentes!!!

fernando_vilarinho disse...

Viva Queirós.

As peripécias não param! Esses países tb são um pouco desorganizados. Mas tem as suas vantagens/desvantagens, e como dizia o Shakespeare "tudo está bem qd acaba bem". E os portugueses têm especial aptidão para o desenrasque e adaptação.
Já deves ter saudade de ouvir por aí falar em português.
Yucatão lembra-me a teoria do meteoro que aí caíu e cujas posteriores consequências extinguiram os dinossauros abrindo caminho ao maior desenvolvimento dos mamíferos e o aparecimento do homem. Mas é um teoria entre várias que se aventa.
Tb se coloca a hipótese que os dinossauros surgiram devido à queda de um meteorito!! É toma lá, dá cá! ;)

Tikal e Chichen Itza já conheceste e agora aconselho-te a conhecer outras belezas em Acapulco que não fica longe daí! ;)
Boa Viagem.

Luis Elias disse...

Um abraço. Continuo a seguir as tuas aventuras, embora rarissimas vezes te escreva. Vai até ao fim, tu mereces.

Anónimo disse...

Um grande Abraço Queiroz e tudo a Correr pelo Melhor .

Força nessa aventura

Rui Baltazar

Anónimo disse...

Olá Queirós

Já conto os dias para ler a tua nova crónica de aventuras. Já estás no México, o início da América do Norte, por isso queria perguntar-te se vais atravessar os EUA da Califórnia até Nova York ou ainda vais "derivar" mais um pouco por ai.
Não que eu queira te apressar, mas quando decidires voltar vais ter muitos amigos a tua espera. Vai preparando as costelas para os abraços e a garganta para o falatório eh.eh...

Grande abraço Amigo

Valente - MCP

Anónimo disse...

"A estrada era a subir,mesmo a subir"
Acho que realmente andas a apanhar sol a mais.Querias que fosse "a subir,mesmo a descer"?
Agora a Sério:
Continua que estamos sempre á espera das crónicas,mas,diverte-te.
Boa Viagem
Graciano

Carlos Almeida disse...

Grande crónica e sobretudo grande aventura esta, já não é só viajar mas encontrar peripécias todos os dias. Devem ser cá uma monotonia esses dias! Há tipos com sorte e nós a vê-los passar! Continua que vais bem! Abraço
Carlos

Anónimo disse...

Olá, Queirós.
Até me rio sozinho ao ler estas últimas crónicas. Dá ideia de que já viste quase tudo no planeta. Então chegas a uma das Sete Maravilhas do Mundo (onde se fizeram montanhas de sacrifícios humenos) e aprecias-la com o mesmo interesse que nós a olhar para um castro qualquer aqui em Penafiel ou Vale de Cambra?
Fónix. Como tu andas...

Será cansaço? No entanto é de te tirar o chapéu o continuares a regalar-nos de 10 em 10 dias com fotos e textos. Uma vez mais, muito obrigado.

E a tua aventura continua 5 estrelas. Entrar no México de canoa, com a moto lá equilibrada e acompanhado só de crianças...
Tu já viste bem?

Grande abraço anímico!!

Nestes

Anónimo disse...

Onde está "humenos" é humanos, claro!
Abraço
Nestes

António Cunha disse...

Viva Queirós
Embora não escreva muito, não deixo de ler atentamente os teus relatos dessa Grande aventura que estás a fazer.
Aproveito para te dizer que o meu irmão Hernani, o Quim Soares (novo mundo)e mais alguns comPANheiros do Clube Pan European, entre o dia 25 de Abril e 10 de Maio, vão andar por aí bem perto de ti.
Isto é, vão de avião até aos Estados Unidos e alugar motas para andar por 4 estados, a começar pela California.

Abraço e que tudo te corra bem.

António Cunha
Trofa