domingo, junho 15, 2008

Em Uyuni para ver o salar

Em Tarija foi muito difícil encontrar um mapa da Bolívia. Quando fomos a uma bomba de gasolina para abastecer perguntei se tinham mapas e disseram que não. O gerente telefonou para o Instituto Geográfico Militar e de lá disseram que excepcionalmente me venderiam um.

Abastecemos de gasolina “especial” com 85 octanas pois não havia da “Premium” com 90.

Passei depois no IGM e comprei um mapa.

Saímos de Tarija ao final da manhã e fomos subindo a encosta com um certo receio de que a chuva aparecesse. Iria ser muito difícil subir a montanha com o piso enlameado.


Já no planalto ao fim de alguns quilómetros apareceu um piso pavimentado com cimento. Uma estrada muito boa numa descida para um vale muito bonito. Serpenteando ao longo de uns vinte quilómetros entrou num povoado, El Puente, e voltou a ser terra. Mas aqui seguia ao longo de um rio, seco.

Mais uma vez voltou o cimento e um vale de tons avermelhados que foi um gozo percorrer.


Parámos em Villa Abecia num hostal que o sujeito da gasolineira em Tarija nos havia indicado. O Hostal Cepas de mi Abuelo é muito agradável. Uma antiga casa agrícola recuperada onde os quartos têm o nome de cepas de videiras, Malbec, onde ficámos, Sauvignon, Chardonay e outras… Deve ser muito bom passar aqui uns dias mais no verão. Há muito a ver.

A estrada vai sempre num vale espectacular, as paredes são de rocha vermelha.


Em Camargo ao abastecer só havia gasolina sem octanas. O Hartmut perguntou quantas octanas tinha e o gasolineiro só disse que tinha gasolina e diesel.

Perguntei como era a estrada de Palca Grande para Cotagaita e um condutor disse que era razoável. Ele tinha feito essa estrada de manhã num carro baixo e não teve problemas de maior. Veio por essa estrada pois à saída de Potosi havia um bloqueio na estrada e ele teve de fazer um desvio e vir por secundárias.

Fomos tomar um café para nos despedirmos. O Hartmut vai seguir para Sucre e eu quero seguir para Uyuni.

Voltei um pouco atrás a Palca Grande e entrei na estrada que seguia para Cotagaita. Sempre num vale fantástico fui seguindo estrada fora. O piso não era muito mau.

Subindo e baixando segui esse vale com pequenas aldeias longe umas das outras. Numa delas bateram palmas quando passei.

Num certo ponto havia uma estrada que subia pelo outro lado do rio. Olhei para o GPS e fiquei a pensar se seria essa estrada para seguir. Por aqui o GPS não faz os cálculos de rota e só indica a direcção a seguir. Um pouco mais à frente parei e voltei atrás. Perguntei a um sujeito e ele disse-me que era a outra estrada para Cotagaita.

Desci ao rio, seco, e atravessei-o. Subi a outra margem e continuei vale acima.

Nos últimos quilómetros houve um rio para atravessar, mas desta vez com água, e uma subida com pedra solta e regos. Consegui chegar sem problemas de maior.


Na bomba de gasolina não havia gasolina. Só em Atocha, serão uns 100 quilómetros.

Encontrei um alojamento com sítio para guardar a moto.


Há um caminho que corta pela montanha em direcção a Atocha e pensei ir por aí mas um camionista disse que não seria seguro subir o rio Atocha e seria melhor dar a volta por Tupiza. Havia muitos lugares com areia e outros em que tinha de atravessar a água. Ficaria molhado e com o tempo frio iria ser duro.

Fui por Tupiza, que é uma cidade muito pequena, as estradas são uma miséria mas a paisagem é fantástica. Num certo ponto tive de atravessar um rio, não muito largo, mas meio fundo. Estava a ver que desta vez caía.


Depois de abastecer a moto e o estômago apontei para Atocha.

Outra vez uma paisagem espectacular, pena o muito pó. A estrada ia subindo e descendo até perto dos 4.000 metros. Muitas vezes andava quilómetros em segunda e terceira e raramente metia a quarta velocidade. Não falando nas vezes que tinha de andar em primeira, principalmente nas curvas. Nalguns cruzamentos não havia indicações nenhumas, o que valia era o GPS, sempre ia indicando a direcção a seguir.




Atocha também não é muito grande. É uma cidade construída para albergar os mineiros de um complexo para extracção de estanho, prata, volfrâmio e outros metais.


No hostal disseram-me que podia seguir pelo rio acima e uns 10 quilómetros mais à frente podia entrar outra vez na estrada.

Resolvi experimentar e entrei no rio. Em muitos sítios havia água gelada e algumas vezes tive de atravessar por cima do gelo pois era mais baixo que pelos trilhos marcados.

Numa certa zona havia muita areia e estive quase a cair, mas consegui aguentar nem sei como.

Pensei que o camionista tinha razão e se fizesse aqueles cem quilómetros pelo rio iria ser muito cansativo e talvez perigoso.


A estrada era como o costume sempre a subir e descer. Ao chegar à zona de planalto o vento estava mais forte e tornou-se mesmo como uma tempestade. Levantava poeira e areia.

Mais duas vezes estive mesmo quase a cair mas aguentei. Nalguns sítios havia muita areia e era difícil aguentar a moto sempre a direito. Também havia muitos quilómetros de piso tipo lavadouro, demasiados.

Cheguei a Uyuni pela uma e meia da tarde e depois de uma pequena volta encontrei um hotel com lugar para guardar a moto.

O vento abrandou e já deu para andar a conhecer um pouco da cidade.


No dia seguinte de manhã lavei alguma roupa que já estava a precisar. Perto do meio dia vim ao hotel para escrever uns postais que tinha comprado e vi que a roupa estava congelada na parte mais húmida.

Fui visitar o “Cementerio de los trenes” que fica a pouco mais de meia hora a caminhar. É impressionante a quantidade de máquinas a vapor e vagões que estão ali a apodrecer.

Sentia um mal-estar na cabeça e pensei que seria do esforço para andar e da altitude. Masquei umas folhas de coca e pouco depois passou.


Agora estou preso em Uyuni porque as bombas de gasolina estão secas. Numa disseram que talvez segunda-feira e na outra talvez na terça.

Nem posso ir visitar o salar e nem visitar os arredores.

Pensei ir numa excursão, mas estou à espera de um ciclista português que me disse que estaria por aqui nestes dias e talvez ele queira ir e assim iríamos juntos.

Ele já há dois anos que saiu do Alasca e quer chegar a Ushuaia. Nestas últimas semanas tem sido acompanhado por uma amiga.

A página dele na internet é www.ontheroad.eu.com e tem umas fotos e histórias fantásticas.

KM 15852, Uyuni, S 20º 27,794’ W 66º 49,400’

6 comentários:

Eduardo Lima disse...

Grande Tiotone, sempre com a moral para cima, � assim mesmo. Enquanto for quase, quase a cair n�o h� problema d�-lhe para a frente.
Fico contente, sempre que sinto nos teus textos (cada vez melhores) o teu esp�rito aventureiro num n�vel elevado. � muito bom sentir do lado de c� que est�s bem, com vontade e for�a para continuar.
Um grande abra�o,
Eduardo, Liliana e Bernardo.

Anónimo disse...

Ora viva caro amigo! por aquilo que escreves e a julgar pelas fotos essa viagem está sem duvida a ser um espectáculo! Agora o que não havia necessidade era de te meteres na COCA, já tens idade para teres JUÍZO! Um grande abraço e faz o favor de ser feliz!

Anónimo disse...

VIVA QUEIRÓS
DESCULPA O ATRASO A DAR-TE OS PARABÉNS, MAS ESTIVEMOS NOS AÇORES UMA SEMANA COM ALGUMA MALTA DO MCP E NÃO TINHAMOS ACESSO A NET.
SE A NOSSA VIAGEM FOI EXCELENTE, SÓ POSSO IMAGINAR COMO SERÁ A TUA "GRANDE" VIAGEM. CONTINUA EM FRENTE MEU AMIGO ! DESCOBRE, DESFRUTA !
VALENTE E ARMINDA

Anónimo disse...

É incrivel como a falta de gasolina pode ser encarada de forma pacifica na Bolivia e em Portugal seria impensavel, excepto quando os camionistas fazem greve e aí já o verniz estalou.
E como acedes facilmente à net em muito sitio isolado e há que vá para os Açores e tenha dificuldade em estar on-line...!
Abraço

Anónimo disse...

Parabéns António, relatos sempre espactaculares, continua sempre com esse espírito....

Anónimo disse...

Olá, Tone, nunca pensei que para uma simples dor de cabeça, tivesses de te ganzar.
Para a próxima toma só Ben u ron que tambem te faz bem.
Continua com essa viagem espetacular.
Um beijo
Inês, Chico, Clara, Cristina e André