terça-feira, julho 07, 2009

A corrida ao ouro no Yukon

Estes últimos dias foram um pouco monótonos em termos de coisas novas para contar. Sei que há sempre qualquer coisa que acontece mas desta vez foi só rolar até Dawson City, cá no extremo do Canadá e já muito próximo da fronteira com o Alasca.
Quando saí de Revelstoke as previsões do tempo eram de pouca chuva e tem sido assim. Ao passar em algumas zonas mais altas lá vem uma chuvada mas ao fim de uns quilómetros volta a parar.
Parti rumo ao oeste sob um sol radioso e pela mesma estrada que tinha percorrido para chegar a Revelstoke. Ao fim de duzentos quilómetros, em Kamloops, saí para uma outra que passava numa zona muito seca. Já não havia as florestas verdes das montanhas. Ao passar em Clinton lá veio um chuveiro. Como por aqui já havia chuva também voltaram as zonas de floresta.
A chuva parou e lá mais para a frente, talvez uns três quilómetros depois de uma cidade chamada Hixon, pareceu-me ver dois cães na berma da estrada a correr no meio da erva. Quando me aproximei mais eles atravessaram a estrada a uns cinquenta metros à minha frente e então vi que eram dois ursos, um castanho e um preto. Foi um susto e uma satisfação. Veados ao longo da estrada também são mais que muitos.
No parque de campismo em Williams Lake conheci um sujeito que vinha do Alasca, num jipe, que me disse que havia muitas obras nas estradas e gravilha. Ao princípio fiquei meio assustado mas depois pensei que não seria nada demais. Farto-me de ver motos a vir em sentido contrário. Deve ser a época da migração.

Ao passar em Dawson Creek, início da “Alaska Highway” fui ao posto de turismo para saber onde fica o poste da milha zero, “Mile 0 poste”. No estacionamento havia um monumento sobre a estrada e estava lá um sujeito que me tirou uma foto. A seguir fui até ao poste que fica no meio de um cruzamento e tirei-lhe uma foto.
Queria uma foto com a moto junto ao poste e hesitei durante uns segundos. Pus a moto lá no meio do cruzamento para mais uma foto e ninguém disse nada. Os condutores se calhar pensaram que era mais um maluco que ia seguir essa estrada.

Durante uns quilómetros não havia nada de interessante mas apareceu um sinal a indicar uma ponte antiga em curva e fui lá ver. Era uma ponte de madeira da antiga estrada. Estava muito bem conservada e o piso era de madeira.

Voltei à estrada principal e a partir daí foi sempre a andar até Fort Nelson. De vez em quando vinha uma chuvada mas depois parava.
O parque de campismo não era grande coisa mas era o que havia. Os mosquitos é que não faltaram.
Ao longo da estrada Vi um moose, penso que será o que nós chamamos alce. Também não faltaram os ursos. Também vi um coiote, na berma da estrada, a comer um veado que teria sido atropelado por algum carro ou camião.



Ao chegar a Watson Lake fui ver a floresta de postes de sinais e também lá deixei um sinal. Em casa do Peter fiz uma placa com o nome da Trofa e Portugal e trouxe-a para a pregar. Ficou lá no meio das outras.
Esta floresta foi iniciada por um dos trabalhadores que estava na construção da estrada no início dos anos quarenta, século XX. O homem estava com saudades de casa e da família e pregou num poste o nome da sua terra. Outros começaram a fazer o mesmo e depois toda a gente que por lá passava ia deixando alguma coisa mais. Agora fui eu.

Ao arrancar ainda pensei que já estava de regresso a casa pois vi um nome conhecido numa placa da estrada.

No parque de campismo de Whitehorse conheci dois americanos da Carolina do Sul, o Jim e o Wes, que me disseram que estavam de regresso do Alasca. Tinham ido até Prudhoe Bay e que lá só havia três hotéis que levavam 200 dólares por noite, comida incluída. Não há nenhum parque de campismo mas eles viram uma tenda lá montada. Não há serviços nenhuns, tirando os hotéis. Eles não ficaram e regressaram a Coldfoot, de onde tinham partido e que fica a uns 400 quilómetros. São muitos quilómetros, 800, para fazer num dia. Sei que agora os dias têm 24 horas de luz mas é demasiado cansativo. Ainda disseram que a estrada em muitos pontos estava escorregadia por causa de um produto que lhe põem para não gelar mas com a humidade torna-se pior que lama.
Uns quarenta quilómetros antes de Dawson City fica o cruzamento para a Dempster Hwy, estrada que liga a Inuvik. Há uma estação de serviço com um motel mas era demasiado caro e resolvi continuar. Será mais barato fazer oitenta kms.
Ao chegar a Dawson City fui ao centro da cidade e um parque de campismo que lá há estava lotado. Tive de voltar atrás, uns dois quilómetros, e ficar num outro que também não é mau.
Quando fui dormir já passava da meia noite e ainda havia luz do dia. O GPS diz que o pôr do sol é às 00:32.

Dawson City parece ainda de há um século do tempo da corrida ao ouro, até os passeios para as pessoas ainda são de madeira. No final do século XIX, 1896, descobriram ouro nesta região e foi a corrida. Vieram milhares de pessoas para esta região do Yukon e Klondike em busca de riqueza, mas como de costume muito poucos a conseguiram. Nas histórias do Tio Patinhas também se conta que ele veio para cá.
A barbearia onde fui cortar o cabelo, mas moderna por dentro. Espero seguir a “Dempster Highway” até Inuvik se o tempo se mantiver bom. Tem estado uma temperatura agradável e não tem chovido. Se chover não arrisco.

Dawson City, N 64º 02,448’ W 139º 24,395’

7 comentários:

Anónimo disse...

Olá António, pelo que contas e pelas fotos, esta parte da viagem tem sido fantástica. Podias tentar a sorte para ver se encontras algum ouro escondido.
Um beijo da Inês

JFAlves disse...

E as aventuras continuam!
A Transalp agora transformada numa "TransRockyMontain"
;-)
Neste momento já nem tenho adjectivos para definir esta tua viagem.
Continua a deliciar-nos!

Abraço,
TTransAlves

Anónimo disse...

Queirós

É pena estarmos no verão, pois não podes fazer uma das "Ice Roads", que não são mais q os lagos gelados q viram estradas para as minas longínquas dessa zona.
Cuidado com a fauna local nas estradas. Os alces são duros como o caraças.
Força amigo, já falta pouoco para o extremo norte. Boa Viagem !!!

Valente - MCP

............................................................Santiago Marquez disse...

Caro António.
Mandei um mail a um amigo de Mato Grosso, chamado Zaqueu, que neste momento vai a caminho do Alaska, portanto se ele te contactar, faz um esforço e encontra-te com ele... O Zaqueu vai acompanhado da filha Marcela e de uns amigos brasileiros, residentes nos EUA, julgo que são umas 4 motos e ele conduz uma KTM 990 Adventure preta.
Espero que esteja tudo bem contigo, continua em paz e divertete muito.
Vou regressar em Setembro para Portugal e penso retornar na Argentina no próximo ano para terminar a minha "novela motociclistica".
Um grande abraço e boa sorte.. cuida-te, ok?
Cumprimentos especiais..
Santiago Marquez

Anónimo disse...

Coisas lindas que nos mostras Queirós! Continuação de boa viaga
em. A. Pedro

Anónimo disse...

Ursos, alces e coiotes...
Como andas longe de casa, grande Queirós...

Já que viste a placa para Faro, aproveita e vai à 28ª concentração que começa já nesta 5ª feira, 16 de Julho.

Por aqui o MC Porto comemorou o 23º Aniversário. Gostava de te te ter mencionado na discursalhada mas o local tinha música ao vivo muito alto e os discursos ficaram todos no tinteiro.
A tua viagem continua fabulosa.
Admiro-me como tens pachorra para andar todos os santos fins de tarde à procura de parque de campismo...

Grande abraço
Nestes

Carlos Almeida disse...

Olá Queirós,
Muito interessantes os cenários por onde tens passado. Parece que viajaste no tempo e um destes dias regressas ao futuro. Conta-nos mais pormenores sobre os hábitos e modos de vida dessas populações que conheces.
E boa viagem!
Abraço