terça-feira, julho 21, 2009

Agora sim, no ponto mais a norte da América

Na semana passada fui até Inuvik que é o segundo ponto mais a norte pois algumas pessoas tinham-me dito que o tempo estava mau para os lados do Alasca.
Afinal tive sorte e o tempo tem estado espectacular, até com algum calor.
Saindo de Dawson City segui pela Top of The World Highway, uma estrada que liga ao Alasca passando pelas montanhas. O Peter tinha-me dito que seria uma estrada meio difícil de passar mas não houve problema nenhum. Muitos quilómetros de asfalto, meio estragado, intervalado com vários quilómetros de pista de gravilha. O tempo estava seco e não houve problema.

A entrada no Alasca não deu grande trabalho na fronteira, apenas preencher o impresso verde e pagar os seis dólares.

Passei em Chicken, povoação com três ou quatro casas, lá no meio da montanha. Alguns quilómetros mais à frente começava o asfalto até Fairbanks.

Ao longo deste trajecto via-se muito fumo no ar devido a incêndios florestais. Por vezes não se conseguia ver mais que uns quinhentos metros.

Fui ao centro de visitantes em Fairbanks para saber como estaria a estrada Dalton Highway.
No parque de campismo onde fiquei um motociclista que tinha vindo do norte, Prudhoe Bay, disse-me que a estrada estava boa e não teve grande dificuldade em fazer todo o percurso da Dalton Highway. Isso animou-me.
Desta vez queria ver se conseguia ir até ao ponto mais a norte em Deadhorse na Prudhoe Bay.
Quando arranquei o tempo estava bom e depois de uns cento e trinta quilómetros chegava ao início da tal Dalton Highway.
Os primeiros quilómetros eram de piso de terra com gravilha mas pouco depois aparecia um troço com asfalto. Até à passagem do rio Yukon a terra e o asfalto iam-se alternando.
Muito fumo ao fundo nas montanhas não deixava ver grande coisa, por vezes havia espaços mais claros e via-se um tapete de flores cor-de-rosa.

Na passagem do rio Yukon foi preciso atestar para chegar a Coldfoot, sensivelmente a meio caminho para Deadhorse.
No primeiro ponto onde havia obras na estrada nem foi difícil passar mas no segundo já foi mais complicado pois a terra removida pelas máquinas estava molhada e escorregadia. Mas deu para passar sem problemas.
Mais uns quilómetros de terra e depois começou um longo troço de estrada de asfalto até Coldfoot. Ao passar no círculo polar Árctico deixei lá uns autocolantes na parte de trás do painel de informações, já lá havia muitos mais.
Ao chegar a Coldfoot pensei montar aí a tenda e ficar para continuar no dia seguinte mas dois motociclistas que já tinha visto várias vezes disseram que iam seguir mais 100 milhas, 160 kms, para acampar mais perto do destino.
Achei que era boa ideia e depois de jantar, eram umas sete da tarde, arrancámos.
Próximo do Atigun Pass a estrada seguia um vale ladeado por montanhas muito verdes.
Na base do monte via-se a subida pela encosta acima e fiquei a pensar que se estivesse a chover iria ser meio difícil, mas felizmente estava seco.
Ao passar o alto do Atigun a descida em frente quase que assustava. Via-se que era uma descida acentuada e às curvas. A subida tinha sido mais a direito.
Mas lançámo-nos encosta abaixo, uns mais rápidos que outros e chegámos sem problemas ao fundo do vale onde já voltava a haver asfalto, mas com muitos buracos. Era preciso ir com muita atenção para evitar a maior parte deles.
Pouco depois das dez da tarde chegámos a Galbraith Lake. Há lá um lugar onde se pode montar a tenda mas não tem apoio nenhum, nem água nem quarto de banho nem nada.
O lugar era bonito, mas os mosquitos finalmente fizeram a sua aparição. Todos me diziam que havia muitos mosquitos por estes lados mas só aqui havia alguns, mesmo assim não tantos como esperaria. Melhor para nós.



Arrancámos volta das nove da manhã seguinte. O percurso continuava bonito e a certa altura começou a acompanhar um rio.
A certa altura mais obras na estrada, mas que nem foi difícil passar. Depois uns 40 quilómetros de asfalto. Os últimos 50 quilómetros terão sido os menos fáceis, não os mais difíceis, pois o piso estava molhado durante uma parte e a seguir havia muita gravilha. Mas deu para atravessar sem cair.
Numa das vezes que parei tive de vestir o forro interior pois estava a ficar frio.

Em Deadhorse fiquei no hotel Prudhoe Bay, que vi num panfleto que seria o mais barato para uma pessoa, e os outros dois, o Jeff e o Marty, ficaram num outro que era mais barato para dois.
Quando cheguei a Deadhorse nem pensei que já tinha chegado ao ponto mais a norte da América, apenas queria saber onde era o hotel onde iria ficar. Estava um vento frio que não deixava andar ninguém na rua.
Depois de instalado fiquei a magicar sobre todos estes meses que andei por aí, desde o ponto mais a sul até este ponto mais a norte – N 70º 12,022’, W 148º 27,493’.

Tudo o que se passou, ou melhor quase tudo pois houve pequenas situações muito pessoais que não têm interesse para mais ninguém, fui contando ao longo destes quase dois anos no blogue tenho vindo a escrever, às vezes sem grande pachorra mas sei que a família e os amigos estão sempre à espera de saber como vão correndo as coisas. Até agora, felizmente, bem.
Às cinco horas fui juntar-me a um grupo para ir numa visita pelas instalações petrolíferas e para ir até ao oceano Árctico. A visita não teve nenhum interesse e apenas serviu para entrar numa zona privada que dava acesso ao mar.


O oceano era como os outros mares e a água até nem estava muito fria. Apenas pus as mãos na água mas um dos rapazes do grupo foi dar um mergulho e disse o mesmo. O pior era fora de água. Estava algum frio e fazia vento.
Lá pelo meio das instalações andavam alguns caribús.

O regresso para Fairbanks decorreu sem problemas.

A estrada estava quase igual. Por aqui, como em todo o lado, bastam algumas horas para alterar as condições, especialmente nas zonas de terra.
Ao chegar a Coldfoot o Jeff e o Marty disseram que iriam continuar até ao rio Yukon mas eu disse-lhes que preferia ficar por ali, nos últimos quilómetros tinha sentido alguma falta de concentração e achei melhor não continuar.
No final do jantar desejei-lhes boa viagem e fui montar a tenda. Como ainda era muito cedo para ir dormir fui beber uma cerveja ao bar. Passados uns minutos já estava a dormitar.
Melhor ir dormir, pensei.
Às oito da tarde adormeci quase logo e apenas acordei pelas seis da manhã. Afinal, precisava mesmo de dormir.
Seriam umas oito e meia quando arranquei.
Ao chegar ao final da Dalton Highway, ou melhor ao princípio, parei para tirar uma foto e deixei uns autocolantes na placa, também havia lá alguns mais.
Consegui percorrer toda esta estrada sem problemas de maior, até as motos de estrada andavam por lá e não apenas a meio do caminho pois também as vi em Deadhorse.
Foi agradável, às vezes com algum receio, fazer aquelas muitas subidas e descidas, grande parte das vezes sem saber como estaria o piso do outro lado da lomba e sempre acompanhando o oleoduto que leva o petróleo até Valdez, na costa do Pacífico.
A meio da tarde já estava em Fairbanks.
O tempo parece manter-se bom e vou tentar andar mais uns dias por aqui. Afinal não é todos os dias que se pode ir ao Alasca.
Como disse o meu irmão Cândido, a Sibéria é mesmo aqui ao lado mas não dá para atravessar, pelo menos no verão e no inverno deve ser muito difícil andar de moto no gelo, cá para mim.
Mas essa ideia não é nova na minha cabeça e se calhar ainda se poderá concretizar. Quero ver se deixo a minha moto em New Jersey, quando atravessar para a costa leste e depois regressar a casa. No próximo ano voltar e depois se verá…
***O desenho do percurso já está actualizado.
Fairbanks, N 64º 50,425’ W 147º 50,022’

13 comentários:

Anónimo disse...

Boa Queiroz, ca te espero!
Eusebio Pedro

Eduardo Lima disse...

Muito bem Tiotone, parabéns.
Já cumpriste o principal objectivo da aventura, ligar Ushuaia no extremo Sul da América a Deadhorse no extremo Norte, não esquecendo algumas voltas pelo meio...
Agora aguarda-mos o teu regresso para ouvir de viva voz a grande odisseia, a Sibéria pode aguardar alguns meses, tens que esperar que a estrada gele, calma.
Um abraço do tamanho desse continente,
Eduardo, Liliana e Bernardo.

Anónimo disse...

Queirós

Só tenho um comentário..........................BRILHANTE.
Força companheiro

G.Albuquerque

Anónimo disse...

Bravo Queirós !
Conseguiste !
és uma fonte de inspiração para quem anda no dia a dia sem grandes feitos.Jafqa

Filipe Couto disse...

Viva Queirós!
É só para te deixar os meus parabens e o desejo de boa viajem de regresso.
Um agraço de um anónimo conterrâneo, que tem seguido a tua viajem desde o início.

Filipe Couto.

Anónimo disse...

Queirós meus parabéns pelo feito, na ligação das Américas.
Agora já só falta tu contares pessoalmente essa grande aventura, (para todos nós roer as unhas de inveja).
Um abraço e continuação de boa viagem.

Mário Almeida (falcaodonorte)

fernando_vilarinho disse...

Viva Queirós!
Renovo os meus Parabéns pelo êxito da tua grande viagem.
Ainda bem que as notícias de tempo desfavorável no Alaska não te obstaram de ir a Prudhoe Bay. até ajuizei que o trocarias por Inuvik. Mas assim foi dois (extremos) em um(a viagem)! Prudhoe Bay foi a cereja em cima do bolo! ;)
a concepção que tinha do Alaska era de um deserto gelado com muito petróleo, alguns alces (da tv)... ah! e claro o famoso Monte Mckinley (ou Denali como chamam por aí) mas com a tua bela crónica já aprendi mais algumas coisas e bem interessantes.
Muitos Parabéns pelo feito.
Continuação de boa viagem.
Abraço,

JFAlves disse...

Às dez da tarde???
;-)
Embora tão longe, e após tanto tempo, parece que iniciaste o regresso a casa depois de concretizado o objectivo.
Congrats!!
Bom regresso, sem perdas de atenção.
TTransAlves

Paulo Q disse...

Pois é, aquilo que~começou com um sonho longinquo concretizou-se...
Ficamos felizes só por ver a tua disposição e empenho, nem dá para sentir o frio do Alaska quando lemos as tuas crónicas,
Agora não te desconcentres e vem com calma que estamos todos ansiosos...

Paulo Q

Anónimo disse...

FDS Queirós, ñ sabia que ando no estado daquele biccho(assim nem de lado entro em casa).Mas é como diz o velho ditado, ele é sempre o ultimo a saber e como pareçe saberes mais que eu vamos têr uma boa conversa e MT séria quando cá chegares,por isso que tenhas o resto de uma boa viagem e sem precalços.
Abraços meus um beijo da Zéza.
Queirós o meu pai não sabe o que diz não anda bonzinho da cabeça!!!
Um abraço meu também.

Anónimo disse...

muitos parabens

e obrigada por partilhares a tua aventura.

um grande abraço

Rui Baltazar

Anónimo disse...

QUEIRÓS FICO CONTENTE POR DECIDIRES REGRESSAR MAS AO MESMO TEMPO TRISTE POR NÃO PODER LER MAIS CRÓNICAS TUAS DESSA INCRÍVEL VIAGEM. CONTUDO REGRESSA BEM E COM CALMA E PARABÊNS PELO TEU EXITO. ( FIRMINO )

Anónimo disse...

EEEEEEh...ohh...ehhh....

Queirós olé. Queirós olé, força Queirós olé !!!

BIG MAN from the north (Trofa)

Valente - MCP