quarta-feira, dezembro 31, 2008

De regresso ao hemisfério norte

Ao redor de Vilcabamba há alguns lugares interessantes para visitar. Fui caminhar um pouco e ver uma ponte pênsil só para peões.

Noutro dia fui ver a cascata del Palto. A cascata fica num terreno privado e é preciso subir durante umas três horas monte acima para lá chegar. É interessante, mas fica um pouco encravada num canto da montanha.
Aqui no Equador utilizam o dólar americano como moeda oficial. Quando abasteci pela primeira vez achei que a gasolina nem era muito cara. A super, de 95 octanas, custa 2,18 dólares o galão e a extra, de 85 octanas, custa 1,48. O gasóleo custa 1,02 por galão.
Continuei para Cuenca. Sempre na zona de montanha.
Cheguei ao final da tarde e no hostal onde fiquei disseram-me que ao domingo à noite quase não havia restaurantes abertos.
Fui procurar e realmente não vi nada aberto próximo do hostal. Como já era de noite não quis andar para muito longe e numa loja comprei algumas coisas para comer no quarto.
A cidade tem um centro interessante, mas como tantas outras.

Andei a fazer contas e comecei a ver que ainda tenho muitos quilómetros pela frente para atingir o meu objectivo de chegar ao Canadá no início do Verão. Terei de ver se não fico tanto tempo em cada paragem que faço. Talvez tentar fazer mais uns quilómetros em cada jornada.
A caminho de Riobamba encontrei um grupo de motociclistas colombianos, seis em quatro motos, que iam para a Argentina para ver o Rali Dakar.
Depois de ver em dois hotéis, que não tinham espaço para guardar a moto, fui parar ao Whymper onde o Hamish e a Emma tinham estado há meses.
Por estes lados, nesta quadra festiva as pessoas fazem uns cortejos tipo carnaval onde desfilam grupos a dançar.


Seguindo para norte encontrei a primeira portagem. Por aqui pagam todos. As motos pagam 20 cêntimos, os carros 1 dólar. Até Quito ainda tive de pagar mais três vezes, sempre o memo.
Ao passar junto a Quito pensei, já tinha essa ideia, que não ia entrar na cidade. As cidades grandes são todas iguais e cheias de trânsito e confusão. No final da Variante Oriental parei para almoçar e conheci um casal muito simpático. Ainda me disseram que devia ir ao museu da “Mitad del Mundo”, que fica na linha do equador, mas a trinta quilómetros numa direcção diferente da que eu estava a seguir. Achei que a estrada que estava a seguir também ia atravessar a linha do equador e se calhar junto a esse museu haveria muita confusão.
Foi meio complicado parar na latitude 0. O GPS tem um ligeiro atraso e quando indicou 0º parei mas logo a seguir já indicava mais umas milésimas a norte. Voltei atrás e muito devagar consegui parar na linha 0. Indicava 0º sul.

Eu queria que indicasse 0º norte. Dei a volta outra vez e lentamente segui até onde me parecia a linha zero. Como não havia nenhuma indicação da linha do equador voltei a passar mas parei logo e vim em marcha atrás até ao ponto 0. O problema é que era à saída de uma curva mas consegui tirar umas fotos com o GPS a mostrar 0º de latitude norte.
Um pouco mais à frente, logo depois de uma portagem, tive de vestir o fato de chuva pois esta começava a cair, não muito forte mas já molhava e ainda faltavam uns 40 kms para chegar a Otavalo. Antes desta cidade há uns lagos mas não dava para fotografar com a chuva e toda a neblina que havia.
O mercado semanal consegue juntar muita gente a vender e a comprar. As mulheres usam um traje diferente de outros que tenho visto. Mas acho que aqui no Equador não tenho visto muito as pessoas com roupas tradicionais.
A cascata de Pegunche fica a pouco mais de meia hora de caminho da cidade. O dia estava bom e fui caminhar um pouco.

Do outro lado da montanha ficava a laguna de San Pablo . Seria mais meia hora caminhada.
Fui até lá. Contornei um pouco mas quase ao nível da água. Os juncos que cresciam nas margens não deixavam ver muito.
A caminho da Colômbia ainda mais uma paragem em Ibarra.
Que 2009 seja um bom ano para todos com saúde e a realizacao de todos os desejos.

Ibarra, N 00º 21,548’ W 78º 08,032’

sexta-feira, dezembro 19, 2008

Já cheguei ao Equador, país

Deixando para trás as praias de Huanchaco segui em direcção a norte. Havia vento forte que arrastava areia para a estrada mas não suficiente para impedir a passagem.
Próximo de Chiclayo comecei a magicar que seria melhor passar a cidade, que é enorme e não muito segura segundo me disseram, e ficar mais à frente em Lambayeque. Esta cidade é como muitas outras. Tem a sua praça central com a igreja e o município só que aqui a maior actividade era próximo da estrada que liga a Chiclayo e Piura.
A partir daqui voltei a seguir para o interior montanhoso.
Alguns rios descem por vales abertos e nas suas margens há muitos campos de arroz. O clima por aqui deve ser muito favorável ao cultivo deste cereal pois viam-se campos onde andavam a plantar, outros a ceifar e ainda alguns onde estavam a preparar o terreno para a plantação. Não esquecendo de mencionar que havia muitos onde as plantas estariam a meio do seu crescimento.

Depois de passar o rio Marañon começa a região do Amazonas. O rio passa a chamar-se Amazonas depois de Iquitos, numa região com outro nome.
A estrada passava por um vale muito agradável. Obras em muitos pontos onde às vezes era preciso esperar um pedaço para se poder passar. Mesmo ao cair da noite cheguei a Pedro Ruiz Gallo, onde havia o desvio para Chachapoyas.
No dia seguinte foi preciso levantar-me às cinco da manhã para poder passar antes que fechassem a estrada. Havia um troço que fechava ao trânsito durante o dia.
Cheguei bastante cedo à cidade e no hostal onde fiquei disseram que tinham uma visita às ruínas de Kuélap às nove horas. Achei que era de aproveitar e fui também.
Peguei na mochila e meti-lhe água e comida e ainda o casaco do fato de chuva, não fosse dar-se o caso de ser preciso. Nas montanhas o tempo muda depressa e a época das chuvas começou agora em Dezembro.
Foram duas horas e meia para fazer setenta quilómetros por caminhos, quer dizer estradas, que nos levaram até aos 3.000 metros para visitar as ruínas de uma cidade pré-inca.
O povo chachapoya foi submetido pelos incas e a sua civilização desapareceu. Falta ainda fazer muito trabalho de limpeza e tratamento de todo o conjunto para se ter uma ideia melhor do que seria esta cidade.
O guia contava as histórias da cidade fortaleza com uma convicção que impressionava.

Ao início da tarde veio uma chuvada daquelas que quase não adianta ter impermeável. Além disso também caiu granizo e veio um vento frio que gelava as mãos.
No regresso já a chuva quase tinha parado mas a água ainda corria pelo monte abaixo. Em três ou quatro sítios pensei que íamos ficar bloqueados. Havia deslizamentos de terra e pedras que entupiam o caminho, mas lá se conseguiu passar.
Na cidade disseram que já há muito tempo não tinham uma chuvada tão forte e repentina.
Ainda me falaram se queria ir visitar mais umas ruínas mas eu disse que já chegava de ruínas por uns tempos. Estas ruínas de Kuélap têm algum interesse mas para mim já são só mais umas ruínas.
Agora tinha de voltar para trás pois queria ir ver a catarata de Gocta. Afinal a estrada que fechava ao trânsito também abria do meio-dia à uma e desta vez não foi preciso levantar-me tão cedo.
Quando cheguei a San Pablo a dona do único “alojamiento” não estava. Perguntei onde poderia almoçar e disseram-me que uma senhora à entrada da aldeia servia almoços. Fui até lá e a senhora disse que não servia almoços mas podia fazer-me uma refeição, só que tinha de esperar. Eu disse que não havia problema.
Andei um pouco por ali com o neto e fui ver os “chanchos” que tinham nascido no dia anterior.
A cascata de Gocta foi descoberta para o mundo por um alemão há uns cinco anos atrás. Dizem que é a terceira mais alta do mundo com 771 metros.
Para lá chegar foi preciso caminhar duas horas e meia quase sempre a subir. Mas valeu a pena pelo espectáculo e pela paisagem que se via durante o percurso.
Ainda tentei ir à base do primeiro degrau mas a nuvem de água que se levantava era tal que parecia chuva. Fazia vento e andar nas rochas era assustador. Melhor voltar para trás.
No dia seguinte parti com a ideia de chegar próximo da fronteira para no outro dia de manhã atravessar para o Equador.
Depois de passar Pedro Ruiz havia um deslizamento de terra de um morro que quase tapava a estrada. Esperei até perto das onze da manhã para ver se daria para passar mas o que via era a terra e as pedras a rolar monte abaixo. Voltei para trás uns dois quilómetros e fiquei no mesmo hotel onde tinha ficado antes.
Só perto das seis da tarde o trânsito foi aberto.
Na manhã seguinte quando arranquei ia na dúvida se poderia passar pois não tinha ouvido nem visto camiões a passar desde que acordara. Tinham-me dito que se podia passar.
Ao chegar ao ponto crítico era a mesma situação do dia anterior. O trânsito parado pois não se podia passar. Mas andava uma máquina na estrada a limpar as pedras e passados uns cinco minutos os carros começaram a passar um de cada vez, sempre sob indicação dos trabalhadores que estavam a tratar da limpeza.
Apesar de ainda caírem algumas pedras e terra dava para passar sem grande problema.
Os últimos cinquenta quilómetros antes de San Ignacio passaram a ser de terra ou melhor o asfalto estava em tão mau estado que quase não existia e era só terra.
A estrada até à fronteira não era má de todo e não tinha movimento.
No lado peruano foi só carimbar a saída e entregar o papel da moto.
Entrei no Equador por volta das onze da manhã. Dirigi-me às Migrações para carimbar o passaporte mas estavam lá duas pessoas e o funcionário da alfândega disse-me para ir lá para ir adiantando. Disse que tinha de entregar três fotocópias do passaporte, do livrete e da carta de condução para tratarem da importação temporária da moto.
O problema é que não havia onde tirar fotocópias. Tive de regressar ao Peru para isso. Ninguém disse nada quando voltei a atravessar a ponte e fui a uma loja tirar as tais fotocópias.
Quando regressei ao Equador começaram a preencher o formulário, no computador, e tinha de ir ajudando a dizer o que precisavam. Mas houve um problema pois diziam que a matrícula e a placa de circulação não podiam ter o mesmo número. Finalmente, depois de muito falar e tentar saber o que eles queriam lá puseram um número que aparece no livrete. Espero que não haja problema quando for a saída. Ao fim de quase duas horas consegui arrancar.
Ao fim de uns dez quilómetros havia um controlo do exército e tive de mostrar o passaporte.
O percurso é espectacular sempre pelas montanhas verdes. A estrada vai quase sempre a meia encosta e vêem-se as montanhas do outro lado do vale cheias de árvores.
Os últimos quilómetros são numa zona de pastagens e as encostas fazem lembrar os vales suíços.
Ao passar em Yantanga o asfalto fez a sua aparição. Depois foi só rolar uns vinte quilómetros até Vilcabamba.
Aproveito para desejar a todos, os que têm paciência para ler isto que escrevo e para os que não lêem, um Feliz Natal e um Novo Ano cheio de coisas boas (não sei quando vou voltar a escrever).
Vilcabamba, S 04º 15,669’ W 79º 13,204’

terça-feira, dezembro 09, 2008

Nas praias de Huanchaco

Já estava com saudades de rolar outra vez. Até parecia que a moto estava contente.
Saindo de Lima para norte, a estrada ainda continua no deserto sempre junto da costa. Desta vez o nevoeiro manteve-se por uns cem quilómetros até Huanco.
Mal apareceu o sol o calor também se fez sentir. Logo depois de passar Pativilca estava o cruzamento para Huaraz. Queria ir pela montanha para apreciar a Cordilheira Branca. Tinha lido e também me tinham dito que era espectacular.
Quando entrei no desvio pensei que iria chegar tarde pois a estrada estava em obras. Foram vinte quilómetros no meio da terra e cascalho. Depois voltou o asfalto, com buracos mas ainda dava para andar bem.
Já perto do final da subida, pelos três mil metros, voltaram as obras e até chegar a Conococha ainda levei dois banhos dos camiões que andavam a espalhar água para a terra assentar melhor e não fazer pó. Fiquei num lindo estado com o pó que levava e água e depois outra vez mais pó. 


Mas ainda foi preciso passar dos 4.000 metros para voltar a descer, agora numa descida suave e fria. Ainda não havia neve e as montanhas estavam cobertas de verdura.




Só mesmo ao chegar a Huaraz havia uns cumes cobertos de neve.
Tentei encontrar um hostal que o Nuno e a Joana me tinham indicado mas não gostei da localização e fiquei mais no centro. Ainda não recuperei a confiança nesta gente e mais vale prevenir.

A cidade não é nada de especial e apenas teria interesse uma visita ao Parque Natural de Huascaran, mas neste momento não estou com pachorra para andar a pé. Mais para a frente…
Afinal a cordilheira não era tão branca como pensava encontrar. Só mesmo junto a Huaraz se vê neve.

Alguns quilómetros depois de Caraz a estrada passa a ser de terra e pedras quando começa o “Cañon del Pato” do rio Santa.
Achei esta passagem espectacular. O desfiladeiro poderá não ser muito profundo mas gostei de ver. A estrada passa em vários túneis, alguns bem compridos e em curva, e lá dentro era um problema. Os olhos demoravam alguns segundos a adaptarem-se à escuridão, estava um dia de sol forte, e com o pó que o vento levantava era difícil ver.
Neste ponto havia umas represas que desviavam a água para túneis e só mais abaixo, em Huallanca onde havia uma central, o rio voltava a ter a água normal.
A estrada tinha muita pedra e às vezes algumas bem aguçadas e ainda pensei que tinha de ir devagar senão podia furar e não convinha.




Já na parte mais baixa o vale abria e havia muitos campos de arroz. Aqui já havia asfalto.
Em Santa ainda me pus a pensar se havia de ficar aí ou continuar mais um bocado, Ainda faltavam uns 150 quilómetros para Huanchaco. Achei melhor atestar e continuar.
Cheguei já ao cair da tarde, mas ainda dia. O hostal fica em frente ao mar, tem um pequeno terreno para acampar mas estava todo ocupado por um grupo de suecos que andam a viajar em três autocarros.
Os pescadores utilizam uns “caballitos de totora” para pescar. Nem sei bem dizer que classe de “barco” será isto. São construídos com uma espécie de junco atado em dois molhos que depois são unidos.


Os dias têm estado com nevoeiro e só a meio da tarde abre o sol. Ainda não será desta que dou um mergulho no Pacífico.

Mais uma muda de óleo e vou ver se volto à montanha outra vez.

Huanchaco, S 08º 04,827’ W 79º 07,247’

terça-feira, dezembro 02, 2008

Pronto para sair de Lima

Finalmente, depois de muitos dias à espera, chegou a licença internacional de condução.
Já estava a ficar um pouco cansado de estar parado.
Nesta paragem houve uns percalços que não deveriam ter acontecido. As minhas duas máquinas fotográficas “mudaram de mãos”, quero dizer roubaram-mas.
A que tinha comprado há poucos meses no Paraguai foi num restaurante. Andava com ela num saco a tiracolo e normalmente nunca o tirava mas nesse dia estava muito calor e tirei-o e pendurei-o numa cadeira ao lado da minha. Mesmo encostado. Quando acabei de almoçar pus-me a pé e saí. Andei uns metros e senti que me faltava alguma coisa. Voltei atrás e já só vi o sítio. Ninguém tinha visto o saco nem se alguém havia pegado. Não sei se foi enquanto comia ou depois de me levantar.
A outra, já a tinha há quatro anos, foi na rua a meio da tarde. Andava com ela num saco preso no cinto e que nem era muito grande. Mas a certa altura um rapaz aproxima-se de mim pelo lado esquerdo e pergunta-me as horas. Eu olho para ele e nem tenho tempo para dizer nada. Pelo meu lado direito vem outro que agarra o saco e puxa-o para ver se o consegue sacar. A princípio nem queria acreditar que me queriam roubar. Eu tento segurar mas outros dois que vêm por detrás fazem-me cair e tentam prender-me os braços e eu tento segurar o saco. Mas os dois primeiros agarram o saco e conseguem rebentar com a asa e fogem. Ainda meio atarantado levanto-me e ainda vou até à esquina mas já não vejo ninguém. Os dois que vi teriam perto de vinte anos. Mais uma vez ninguém viu nada, apesar de haver algumas pessoas na rua.
Mais tarde já meio calmo pensei que, como dizemos sempre, ainda tive sorte. Podia ter levado uma facada ou pior.
Fui à polícia participar, mas apenas foi isso. Participar. Registaram e disseram que tive azar.
Vão-se os anéis mas fiquem os dedos. Eu estou pronto para continuar e só espero que não haja mais encontros destes.
Por falar em encontros. Num destes dias fui jantar com um motociclista espanhol que tinha conhecido em Buenos Aires há um ano. Também se juntaram a nós, além da sua noiva Flávia e do Ivan, um casal de motociclistas suíços que andam a dar a segunda volta ao mundo, o Khim e a Katherina, que têm um sítio na internet muito interessante www.fernweh.ch
Na conversa que mantivemos falou-se da licença internacional e disseram que aqui, na América do Sul, nunca lhes tinham pedido esse documento. Eu disse que no Peru mo haviam pedido duas vezes, ou melhor na fronteira um funcionário da alfândega perguntou-me se tinha mas como não era da polícia não deu em nada, mas depois em Juliaca um polícia pediu-me e disse que tinha de ter.
Por isso esta espera toda, mas agora já posso continuar.
Não tenho fotografias novas para mostrar, mas já comprei uma máquina nova. Espero que da próxima vez que escreva alguma coisa já haja fotos.
Todos estes dias parado fizeram com que me chegasse a preguiça e por isso não há fotos agora.
Mas vou seguir para a Cordilheira Branca e só espero que não chova muito. A época da chuva começou agora e dura até março.

Lima, S 12º 02,774’ W 77º 01,629’