Comodoro Rivadavia é a capital da região onde há cem anos descobriram petróleo. Foi só nesta região que vi aerogeradores. Em mais lado nenhum me lembro de os ter visto e na Patagónia há vento constantemente, dizem.
Fui dar uma volta pela cidade para andar um pouco a pé e procurar um quiosque para comprar um jornal, Crónica, pois na véspera à entrada da cidade umas pessoas num carro fizeram-me sinal para parar que me queriam tirar uma foto. Conversamos um pouco e eles disseram-me que eram de um jornal e que quando viam algum viajante de bicicleta ou moto procuravam fazer-lhe uma pequena entrevista e publicavam a notícia no jornal. Assim aconteceu comigo e na manhã seguinte, sábado, lá saiu uma pequena notícia.
As cidades na Argentina têm quase todas as ruas com sentidos únicos e são alternados. Esta tem a particularidade de uma parte da cidade ser numa encosta e aqui os veículos que “têm” prioridade são os que sobem ou descem as ruas e não interessa se vêm da direita ou da esquerda. Já me tinham falado nesta situação, mas noutra cidade, e agora pude comprovar que era assim.
Antes de sair fui a um café para tomar o pequeno-almoço e estar com um português que vive perto pois no dia anterior o dono disse-me que ia avisá-lo que eu estava ali e era quem tinha saído no jornal. Foi interessante estar ali a conversar com um compatriota tão longe. Lá ficou o autocolante do MCP.
Quando saí de Comodoro Rivadavia a minha ideia era seguir para sul mas pelo caminho encontrei o Alistarir e a Maria e estes disseram-me que iriam até Puerto Deseado par ver os pinguins. Achei a ideia interessante e ao chegar ao desvio meti para lá e fui nessa direcção.
Ainda era meia tarde e pensei que daria para ir numa visita. O problema é que não consegui encontrar o parque de campismo a tempo de montar a carpa, por aqui é o que chamam às tendas, e sair numa excursão. O dono do parque contactou um amigo que me arranjou a ir num grupo na manhã seguinte, mas logo às sete da manhã.
A visita era a uma ilha, reserva natural, que demorava uma hora a atingir. Com o mar agitado pois fazia um vento forte o barco, tipo semi-rígido, com sete pessoas a bordo ia saltando de onda em onda e eu a pensar que às tantas lá vinha uma e íamos todos tomar banho sem querer. Molhados já estávamos pois os salpicos da água eram constantes. Quando chegámos à ilha foi preciso saltar para as rochas já que não havia cais. Em cada onda lá ia um a saltar. O ajudante do capitão, que era o guia, levou o barco para fora da zona de ondas e prendeu-o numa bóia e ficou lá durante quatro horas que foi o tempo da visita.
A ilha era muito rochosa e por todos os lados havia pinguins magallanes, os mais comuns por estas bandas. Todos os sítios abrigados serviam para fazer os ninhos ou então eram buracos no chão. Havia também os pinguins de penacho amarelo, por terem um penacho por cima dos olhos e que eram vermelhos, além de gaivotas de duas espécies e outra passarada. Era preciso muito cuidado pois havia ninhos por todos os lados e todos no chão. Uns com ovos outros já com os filhotes. A colónia de pinguins de penacho amarelo é a maior na área continental da América do sul.
Depois de regressar ao parque de campismo, como era cedo na tarde, resolvi levantar o acampamento e continuar.
Ao final da tarde já estava a ficar cansado e achei melhor parar em Tres Cerros para arranjar onde dormir e reabastecer, pois achava que não daria até outro posto de gasolina.
Não há nafta, disse o gasolineiro, podes montar a carpa atrás do posto e aguardar, talvez ainda hoje ou amanhã de manhã.
Fui espreitar a ver como era o sítio e não parecia mau. Como já lá estava outra tenda, de um casal alemão, e estava a pensar ficar por aqui montei a tenda e fui comer.
Entretanto chegou o camião da gasolina. Agora vou ficar na mesma, aqui atrás da bomba!
No dia seguinte fui ficar em Rio Gallegos, uma cidade grande mas sem um interesse especial.
No parque de campismo onde fiquei, perto da Ruta 3, foi o primeiro sítio onde encontrei gente sem simpatia nenhuma depois destes quase três meses na estrada.
Pelo contrário quando cheguei a Rio Grande, ao Albergue Hotel Argentino, foi quase o oposto. Gente de uma simpatia extrema e um lugar bem agradável para ficar.
Pelo caminho foi preciso atravessar o Chile e tratar dos trâmites fronteiriços por duas vezes. Na primeira fronteira encontrei o Alistair e a Maria que já estavam quase despachados.
Mais à frente na passagem do estreito de Magalhães eles já lá estavam à espera do barco e eu só tive tempo para comprar um chocolate e ir logo para o barco. Fui quase o último a entrar. A partir daí seguimos juntos pelas estradas de rípio sob uma chuva fina mas que tornava a condução cansativa. Além das poças de água que havia algumas vezes os carros e os camiões em sentido contrário davam-nos banhos de água barrenta. Na saída para a fronteira com a Argentina deu para ver como estava sujo.
Depois de um café continuamos até Rio Grande.
Aproveitei o dia que fiquei aí para lavar a moto e todo o equipamento pois estava tudo sujo.
Também acabei por trocar de óleo que já estava a precisar e os pneus pois já estava cansado de os transportar. Ushuaia é já ali.
Foi já ao final da manhã que saí de Rio Grande. A Maria e o Alistair que saíram algum tempo antes de mim ainda foram entrevistados pela televisão local.
Agora sem os pneus até parece que a moto está muito mais leve.
Como no dia da chegada tinha enchido o depósito de gasolina nem pensei em atestar outra vez pois só tinha feito oitenta quilómetros e até Ushuaia seriam duzentos, dava para chegar.
Ao fim de uns quilómetros o vento lateral começou a sentir-se e fiz logo contas de cabeça aos quilómetros que faltavam para ver se a gasolina chegaria. Reduzi um pouco o andamento mas assim não apanharia o Alistair e a Maria. Eles iam ficar noutro sítio em Ushuaia e depois nos encontrariamos outra vez.
Quando parei em Tolhuin para meter gasolina aproveitei para comer alguma coisa. Logo a seguir vi-os passar na estrada, pois deviam ter ido ao centro da cidade.
Assim iria continuar sozinho. Também iria mais à vontade para parar e tirar umas fotos.
Ao aproximar-me de Ushuaia começou a chuviscar mas não durou muito tempo. Ia chovendo e parando. Comecei a ver ao longe cumes com neve e a sentir que arrefecia um pouco mas nunca cheguei a sentir frio. A paisagem finalmente começou a mudar e já se viam florestas e montanhas. Apetecia-me parar depois de cada curva para tirar fotografias.
À entrada de Ushuaia começou a chover mais forte mas pouco depois parou.
Agora serão uns dias para explorar esta cidade e arredores.
A todos os que têm paciência, e também para os que não têm, para ler estes apontamentos de viagem desejo um FELIZ NATAL e que o novo ano que se aproxima lhes traga tudo o que anseiam desta vida.