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domingo, dezembro 30, 2007

Ushuaia, fin del mundo

Estes dias em Ushuaia serviram para descansar e conhecer um pouco da cidade e sua história.
No final do século XIX começaram a ser enviados para esta região os presos mais perigosos de todo o país. Os pavilhões dos presos ficavam isolados e longe do que hoje é a cidade de Ushuaia e as ligações eram feitas através de carruagens que andavam em carris de madeira puxadas por cavalos. Só mais tarde a madeira foi substituída por ferro e os cavalos por pequenas locomotivas a vapor.
No início do século passado foi construído um novo centro penitenciário, que hoje é um museu, mais perto da cidade mas depois já em meados do mesmo século a penitenciária foi encerrada e os presos deixaram de ser enviados para cá.
O tempo tem estado muito bom, só chuvisca de vez em quando, e não tem feito muito frio.
Só no dia 25 é que se levantou um vento mais frio.
Nos arredores da cidade há alguns trilhos antigos que andei a investigar e o Sendero dos Presos foi o primeiro que fui conhecer. Não tem nenhum interesse, pois é muito curto e plano. É parte da antiga linha do comboio que unia o centro da cidade com os primeiros pavilhões dos presos e que ficavam nos arredores.
A seguir subi o sendero do Glaciar Martial. Este já foi mais interessante. No cimo do monte havia neve mas o glaciar estava muito pequeno, não sei se por ser verão. Estava um vento muito forte que me obrigou a tapar a cabeça, antes de ficar com frio.
Pela manhã estava a chuviscar e eu ainda fiquei meio indeciso mas depois arranquei e se a chuva aumentasse voltava para trás. Felizmente a chuva parou e até ficou claro e via-se bem a baía lá em baixo.


O Cerro del Medio era outro trilho a tentar e manhã cedo, pelas nove, comecei a subida. O tempo estava encoberto e a temperatura estava boa.
Ao chegar ao final do bosque que cobre a encosta tive uma surpresa desagradável. Havia nevoeiro no topo do monte e começou a chover. Não quis arriscar a entrar no nevoeiro e esperei um pouco a ver se levantava, pois havia pontos mais claros no céu. Mas ao fim de meia hora, entretanto ia comendo alguma coisa, tive mesmo que desistir e regressar à base.

Depois de uns dias num hostal segui para um parque de campismo onde também irei ficar até depois da passagem de ano. No parque de campismo já lá estavam alguns conhecidos e alguns desconhecidos. São muitos.
Ainda fui até ao Parque Nacional Tierra del Fuego para caminhar um pouco e tirar a foto da praxe, que todos tiram quando chegam ao final da Ruta 3, que acaba já dentro do parque.








Espero que todos tenham tido um umas festas felizes e que o novo ano seja melhor que este que está a acabar.

sábado, dezembro 22, 2007

Na Tierra del Fuego

Comodoro Rivadavia é a capital da região onde há cem anos descobriram petróleo. Foi só nesta região que vi aerogeradores. Em mais lado nenhum me lembro de os ter visto e na Patagónia há vento constantemente, dizem.
Fui dar uma volta pela cidade para andar um pouco a pé e procurar um quiosque para comprar um jornal, Crónica, pois na véspera à entrada da cidade umas pessoas num carro fizeram-me sinal para parar que me queriam tirar uma foto. Conversamos um pouco e eles disseram-me que eram de um jornal e que quando viam algum viajante de bicicleta ou moto procuravam fazer-lhe uma pequena entrevista e publicavam a notícia no jornal. Assim aconteceu comigo e na manhã seguinte, sábado, lá saiu uma pequena notícia.
As cidades na Argentina têm quase todas as ruas com sentidos únicos e são alternados. Esta tem a particularidade de uma parte da cidade ser numa encosta e aqui os veículos que “têm” prioridade são os que sobem ou descem as ruas e não interessa se vêm da direita ou da esquerda. Já me tinham falado nesta situação, mas noutra cidade, e agora pude comprovar que era assim.
Antes de sair fui a um café para tomar o pequeno-almoço e estar com um português que vive perto pois no dia anterior o dono disse-me que ia avisá-lo que eu estava ali e era quem tinha saído no jornal. Foi interessante estar ali a conversar com um compatriota tão longe. Lá ficou o autocolante do MCP.
Quando saí de Comodoro Rivadavia a minha ideia era seguir para sul mas pelo caminho encontrei o Alistarir e a Maria e estes disseram-me que iriam até Puerto Deseado par ver os pinguins. Achei a ideia interessante e ao chegar ao desvio meti para lá e fui nessa direcção.
Ainda era meia tarde e pensei que daria para ir numa visita. O problema é que não consegui encontrar o parque de campismo a tempo de montar a carpa, por aqui é o que chamam às tendas, e sair numa excursão. O dono do parque contactou um amigo que me arranjou a ir num grupo na manhã seguinte, mas logo às sete da manhã.
A visita era a uma ilha, reserva natural, que demorava uma hora a atingir. Com o mar agitado pois fazia um vento forte o barco, tipo semi-rígido, com sete pessoas a bordo ia saltando de onda em onda e eu a pensar que às tantas lá vinha uma e íamos todos tomar banho sem querer. Molhados já estávamos pois os salpicos da água eram constantes. Quando chegámos à ilha foi preciso saltar para as rochas já que não havia cais. Em cada onda lá ia um a saltar. O ajudante do capitão, que era o guia, levou o barco para fora da zona de ondas e prendeu-o numa bóia e ficou lá durante quatro horas que foi o tempo da visita.
A ilha era muito rochosa e por todos os lados havia pinguins magallanes, os mais comuns por estas bandas. Todos os sítios abrigados serviam para fazer os ninhos ou então eram buracos no chão. Havia também os pinguins de penacho amarelo, por terem um penacho por cima dos olhos e que eram vermelhos, além de gaivotas de duas espécies e outra passarada. Era preciso muito cuidado pois havia ninhos por todos os lados e todos no chão. Uns com ovos outros já com os filhotes. A colónia de pinguins de penacho amarelo é a maior na área continental da América do sul.

Depois de regressar ao parque de campismo, como era cedo na tarde, resolvi levantar o acampamento e continuar.
Ao final da tarde já estava a ficar cansado e achei melhor parar em Tres Cerros para arranjar onde dormir e reabastecer, pois achava que não daria até outro posto de gasolina.
Não há nafta, disse o gasolineiro, podes montar a carpa atrás do posto e aguardar, talvez ainda hoje ou amanhã de manhã.
Fui espreitar a ver como era o sítio e não parecia mau. Como já lá estava outra tenda, de um casal alemão, e estava a pensar ficar por aqui montei a tenda e fui comer.
Entretanto chegou o camião da gasolina. Agora vou ficar na mesma, aqui atrás da bomba!
No dia seguinte fui ficar em Rio Gallegos, uma cidade grande mas sem um interesse especial.
No parque de campismo onde fiquei, perto da Ruta 3, foi o primeiro sítio onde encontrei gente sem simpatia nenhuma depois destes quase três meses na estrada.

Pelo contrário quando cheguei a Rio Grande, ao Albergue Hotel Argentino, foi quase o oposto. Gente de uma simpatia extrema e um lugar bem agradável para ficar.
Pelo caminho foi preciso atravessar o Chile e tratar dos trâmites fronteiriços por duas vezes. Na primeira fronteira encontrei o Alistair e a Maria que já estavam quase despachados.
Mais à frente na passagem do estreito de Magalhães eles já lá estavam à espera do barco e eu só tive tempo para comprar um chocolate e ir logo para o barco. Fui quase o último a entrar. A partir daí seguimos juntos pelas estradas de rípio sob uma chuva fina mas que tornava a condução cansativa. Além das poças de água que havia algumas vezes os carros e os camiões em sentido contrário davam-nos banhos de água barrenta. Na saída para a fronteira com a Argentina deu para ver como estava sujo.

Depois de um café continuamos até Rio Grande.
Aproveitei o dia que fiquei aí para lavar a moto e todo o equipamento pois estava tudo sujo.
Também acabei por trocar de óleo que já estava a precisar e os pneus pois já estava cansado de os transportar. Ushuaia é já ali.
Foi já ao final da manhã que saí de Rio Grande. A Maria e o Alistair que saíram algum tempo antes de mim ainda foram entrevistados pela televisão local.
Agora sem os pneus até parece que a moto está muito mais leve.

Como no dia da chegada tinha enchido o depósito de gasolina nem pensei em atestar outra vez pois só tinha feito oitenta quilómetros e até Ushuaia seriam duzentos, dava para chegar.
Ao fim de uns quilómetros o vento lateral começou a sentir-se e fiz logo contas de cabeça aos quilómetros que faltavam para ver se a gasolina chegaria. Reduzi um pouco o andamento mas assim não apanharia o Alistair e a Maria. Eles iam ficar noutro sítio em Ushuaia e depois nos encontrariamos outra vez.




Quando parei em Tolhuin para meter gasolina aproveitei para comer alguma coisa. Logo a seguir vi-os passar na estrada, pois deviam ter ido ao centro da cidade.
Assim iria continuar sozinho. Também iria mais à vontade para parar e tirar umas fotos.
Ao aproximar-me de Ushuaia começou a chuviscar mas não durou muito tempo. Ia chovendo e parando. Comecei a ver ao longe cumes com neve e a sentir que arrefecia um pouco mas nunca cheguei a sentir frio. A paisagem finalmente começou a mudar e já se viam florestas e montanhas. Apetecia-me parar depois de cada curva para tirar fotografias.
À entrada de Ushuaia começou a chover mais forte mas pouco depois parou.
Agora serão uns dias para explorar esta cidade e arredores.
A todos os que têm paciência, e também para os que não têm, para ler estes apontamentos de viagem desejo um FELIZ NATAL e que o novo ano que se aproxima lhes traga tudo o que anseiam desta vida.
















sábado, dezembro 15, 2007

Já na Patagónia

Depois de passar outra vez em Buenos Aires comecei a andar com mais dois pneus em cima da moto, mas várias pessoas me disseram já que tinha feito bem em trocar os pneus e guardar estes para vir para norte.
Uma das fotos que me tinha faltada enviar da regiao da Sierra de La Ventana.
A caminho de Viedma, onde ia para o encontro do Horizons Unlimited, havia um controlo “fitosanitario” para tentar travar a entrada da mosca da fruta na zona sul do país. Assim toda a gente tinha de parar e mostrar o que levava na bagagem. Quando chegou à minha vez eu perguntei se tinha mesmo de desmontar tudo. Vai tudo amarrado com esticadores e fitas e ia ser uma trabalheira tornar a amarrar tudo. Perguntaram-me se tinha comida e eu disse que sim. Conservas, arroz, azeite, sal, alho e maçãs. As maçãs foram confiscadas e pude seguir.
Pouco mais à frente o maquinista de um comboio que passava ao lado deu duas buzinadelas e quando olhei levantou a mão a saudar-me. Também o saudei. Até agora tenho cruzado com muitos camiões e autocarros cujos condutores me cumprimentam. Tinham-me dito para ter muito cuidado com eles mas até agora não me posso queixar. Também alguns condutores de automóveis me saúdam.

Quando cheguei ao parque campismo onde se realiza o encontro já lá estavam alguns conhecidos. Também encontrei o Alistair e a Maria que tinha conhecido no encontro dos H.U. em Góis no ano passado.
No sábado chegou o Arthur, o irlandês que tinha conhecido há duas semanas atrás. Tinha-lhe falado neste encontro e ele foi até lá para ver. Começou a cismar ainda mais em comprar uma moto para viajar em vez de andar de autocarro e à boleia. Da primeira vez que o encontrei ele disse-me que tinha uma moto mas nunca pensara em vir com ela para cá mas agora não pensa noutra coisa.
E pensava eu que trazia muita coisa na moto!

No domingo de manhã quando saímos para ir ver os lobos marinhos, a cerca de 30 quilómetros, começou um vento muito forte. Ia toda a gente devagar pois era preciso ir meio inclinado. Afinal tínhamos de ver os bichos de longe, do cimo da falésia. Não dava para chegar perto deles.
No regresso ao parque de campismo havia uma surpresa pouco agradável à espera de todos. O vento forte que soprou todo o dia fazia levantar pó e areia que conseguiam entrar na tem mais bem fechada.
Os argentinos só diziam que era a Patagónia. Há sempre vento e às vezes é mesmo forte.

O ambiente no encontro é espectacular. Há motociclistas de todo o lado. Alguns vieram do Canadá, viajando há mais de um ano, também há argentinos, australianos, ingleses, norte-americanos, um holandês e, claro, um português no meio destes estrangeiros todos. Alemães, também, numa grande percentagem.
A maior parte vai seguir para sul para passar o natal e fim de ano em Ushuaia. Depois cada um irá para seu lado, que será mais ou menos o mesmo. Seguir em direcção a norte visitando os parques nacionais e naturais da cordilheira dos Andes.
É difícil descrever o que sinto por estar no meio destes viajantes todos. Alguns já repetem mas para a maior parte é a primeira vez. Lembro-me quando há uns anos via os motociclistas estrangeiros, alemães principalmente, a viajar nas suas motos com aquelas malas de alumínio e os sacos e ficava a pensar como seria poder um dia ir assim também mundo fora. Agora estou no meio deles e penso que escolhi a ocasião certa para começar esta viagem. Espero que tudo corra bem como até aqui.
A caminho do sul vou tentar ver algumas das coisas com interesse que há pelo caminho.

Península Valdez é a primeira só que fica um pouco longe para o que costumo andar. A minha ideia seria parar a meio do caminho, mas como a Ruta 3 tem pouco movimento e rectas quase sem fim deu para andar mais depressa e quando cheguei ao ponto que queria ainda era meia tarde. Resolvi continuar até ao principal objectivo pois assim teria dois dias para percorrer a península. Haveria mais tempo para ver as baleias, os pinguins, os leões marinhos e com sorte algumas orcas.
A Patagónia argentina nesta zona mais a norte é uma região seca e só com vegetação rasteira. Só planícies sem fim.
Em Puerto Pirâmides há um parque de campismo muito pobrezinho mas deu para ficar.
Vi a moto do Gerben mas ele não estava. Foi ver as baleias, disseram-me a Maria e o Alistair que estavam mais abaixo e me tinham visto chegar.
Nesta ocasião reparo que a roda da frente está vazia. Como?!
O primeiro furo na viajem. Como se estava a fazer tarde acabei de montar a tenda e fui comer e de manhã trato do caso. Até parece que foi praga, pois numa das paragens para meter gasolina um indivíduo perguntou-me se já tinha tido algum furo e eu disse que não. Não nesta viajem. Que coincidência!

O Gerben ajudou-me a reparar o furo na roda da frente. Era um pico pequeno de alguma árvore. Havia mais no pneu mas felizmente só um picou a câmara. Ajudou trazer os pneus suplentes pois assim evitava pousar os discos no chão. Pouco depois o Gerben mostrou-me um pequeno prego que tirou da roda de trás da moto dele.

Ao final da tarde sempre fui ver as baleias, só que já é o final da época e só vimos quatro, duas mães com os filhotes, que mamam duzentos litros de leite por dia! As baleias estão nesta zona para reprodução e depois vão para sul, para o mar antártico.

No dia seguinte fui dar uma volta pela península para ver a bicharada e afinal não fiquei assim muito satisfeito com o que vi. Havia realmente os elefantes marinhos e lobos marinhos mas só se podiam ver à distância, apenas os pinguins se podiam apreciar mais de perto porque tinham os ninhos pela falésia acima.
Foram duzentos quilómetros de rípio que serviram para treinar um pouco já que ia com a moto sem bagagem. Mesmo assim estive algumas vezes para cair.
A meio da tarde cheguei ao parque de campismo e fui dar um mergulho no mar que fica mesmo por trás da vedação, que praticamente não existe. A água não estava muito fria e serviu para fazer o meu baptismo nestas águas do Atlântico sul.
De noite levantou-se um vento muito forte e de manhã estava tudo cheio de pó e areia. Para desmontar e enrolar a tenda foi o cabo dos trabalhos, mas depois de um certo esforço lá consegui arrumar tudo em cima da moto.
O vento esteve sempre forte até quase ao final da tarde. Nem sei quantas vezes a moto foi arrastada até quase à berma. Ia constantemente inclinado. O consumo é que foi assustador. Se quando houver distâncias muito grandes entre abastecimentos e estiver vento não sei como vai ser. Mas o vento vai amainar.
As planícies com as suas rectas enormes é que continuam…

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Na Sierra de La Ventana

Desta vez estou só a apresentar estas imagens pois nao consigo enviar mais. Aqui em Sierra de La Ventana nao consegui arranjar internet em condiçoes. Ao fim destas três imagens começou a dar erro e nao envia mais.
É só para dizer que ainda ando por aqui, iniciando a ida até à Tierra del Fuego onde espero chegar lá par meados de Dezembro.
Depois de passar em Buenos Aires segui em direcçao a Azul, onde fiquei na La Posta del Viajero en Moto, um sítio muito simples que tem um dono muito atencioso.
Estou a aperceber-me que por esta ocasiao há bastantes motociclistas, já encontrei alguns, que se preparam para ir até Ushuaia a fim de passarem o Natal e Ano Novo nessa zona. Espero poder participar nesses festejos.
Agora estou a carregar os dois pneus que trouxe de Portugal e que troquei em Buenos Aires antes de ir para o Uruguai e Brasil. Disseram-me que ia fazer muitos quilómetros em asfalto e desgatava os pneus que seriam melhores para utilizar lá mais para o sul na Patagónia e Terra do Fogo. Realmente já fiz uns bons milhares de quilómetros e ainda falta um pedaço até chegar ao sul.
Aqui na Sierra de La Ventana andei a conhecer um pouco da montanha e subi o cerro Bahia Blanca numa tarde e no dia seguinte fui até ao cimo do cerro de La Ventana. Realmente as paisagens sao fantásticas.
Daqui vou seguir em direcçao a Viedma onde quero participar no encontro do Horizons Unlimited. Já encontrei vários motociclistas que também querem lá ir. Depois continuar para sul.
O teclado onde estou a escrever tem algumas letras meio apagadas e é preciso às vezes ir por tentativas. Também nao tem o til, só em cima do ñ. Os outros estao iguais. Mais para a frente espero encontrar um serviço melhor. Esta cidade é muito pequena e fica no meio da serra.