A estrada de Junin de los Andes até à fronteira segue por um vale interessante. Ao fundo vai-se vendo o vulcão Lanin a deitar um pouco de fumo. A certa altura o trânsito estava parado e pensei que teria sido um acidente, mas não. Havia uma ponte que estava meia avariada e uns operários estavam a arranjá-la. Era uma ponte de madeira, como às vezes encontro nas estradas de rípio, só que esta era numa estrada de asfalto. Mesmo nas estradas de rípio as pontes que tenho passado são quase todas de cimento.
Próximo da fronteira voltou o rípio e desta vez quiseram passar a mochila pelo raio X para ver o que levava dentro. Do lado chileno a estrada estava mais degradada.
Parei num pequeno restaurante para almoçar e aí confirmaram-me o que um francês me tinha dito. Pucón, cidade onde tinha pensado ficar, era muito cara e Villarrica seria mais barata.
Entretanto ia surgindo no horizonte mais um vulcão, o Villarrica, e também este deitava fumo.
Ao longo do lago Villarrica havia muitas praias e alguns parques de campismo, mas ficavam muito longe da cidade e fui seguindo até à cidade com o mesmo nome. No posto de turismo informaram-me de um parque de campismo que fica mesmo junto ao lago.
Há praias mesmo em frente ao parque e para quem gosta é só atravessar a estrada e está na água.
Nota-se que esta é uma região de turismo pois desde a cidade de Pucón havia muitos hotéis e cabañas e nesta cidade também os há. Além disso as lojas de artesanato estão por todo o lado. Também há uma espécie de galerias e praças onde se reúnem muitas lojinhas com artesanato.
À noite quando estava a escrever reparei que a lua estava a desaparecer. Estranho, pensei, ainda há bocado estava lua cheia. É um eclipse! Não sabia. Tentei tirar umas fotos mas não tenho máquina para isso. Não dá.
Pouco depois passou o vigilante do parque que disse que iria durar até perto das duas da manhã, mas eu não estava para ver até ao fim.
Na manhã seguinte fui ao centro da cidade e reparei que havia uns painéis informativos sobre os alarmes para a actividade vulcânica. Por acaso o vulcão Villarrica estava a deitar fumo e não muito longe daqui o vulcão Llaima esteve em actividade há bem pouco tempo.
Estive a pensar para onde continuar e lembrei-me que se calhar Valdívia seria um destino a considerar. Eu tenho a minha viagem programada ao pormenor (tanga!), só que a cada dia e a cada quilómetro vou alterando.
Em vez de ir pela estrada principal optei por ir pela estrada para Lican Ray que contorna o lago Calafquen até Panguipulli. Também por aqui há muito turismo pois vêem-se muitas cabañas em oferta e também aparecem alguns parques de campismo. O lago não se vê muito por causa das árvores à face da estrada. Algumas das praias que vi são de areia preta, pois esta é uma região vulcânica.
Mais à frente já começaram a aparecer muitos campos de trigo, notava-se bem o contraste do amarelo das searas com a verdura das árvores que serviam de divisão. Há muito poucas aldeias por aqui.
Vi que a auto estrada, a Ruta 5, passava perto e resolvi experimentar. Tem pouco movimento e na saída para Valdívia tive de pagar cem pesos de portagem.
Próximo de Valdívia reparei que havia muito mais movimento na estrada. Esta também será uma zona turística. A cidade é grande e ainda andei um pedaço às voltas para encontrar um parque de campismo. O que encontrei, tinha lido no Lonely Planet, fica numa ilha ao lado da cidade e é muito caro. 9.000 pesos, quase treze euros, é mais do que já paguei numa hospedaje com pequeno almoço. Mas desta vez já a tarde ia a meio e não quis andar mais às voltas e resolvi ficar apesar do preço.
Fui até à cidade e vi que havia muita animação. Há festas este fim de semana e há muita gente na rua. Os artistas também são bastantes, principalmente índios do Peru. Os vendedores ambulantes também vendem de tudo e são às dezenas.
No sábado de manhã encontrei um sujeito com a camisola do FCP e perguntei-lhe de onde era. Ele disse que era dos EU e tinha comprado a camisola na Tailândia. Ariel, era o seu nome, andava com o Willy, outro americano, e três chilenos. Tinha vindo conhecer o país de origem dos seus pais.
Também passei pelo mercado municipal da fruta e do peixe.
As festas da cidade incluíam um corso de barcos pelas dez da noite e no final uma sessão de fogo-de-artifício. Alguns dos barcos eram interessantes mas outros apenas levavam luzes acesas. O fogo-de-artifício não foi nada de especial comparado ao que já vi em Portugal.
Como o parque era caro resolvi sair logo no domingo de manhã. Estava quase pronto quando uma família de chilenos me ofereceu um café. Não pude recusar e fiquei um bocado na conversa.
Fui até Niebla, na ponta da ilha, para ver o forte que não tinha muito que ver. Do outro lado da baía havia mais dois mas tinha de ir barco para os ver. Achei que seriam como este e não valeria o dinheiro da passagem. No regresso a Valdívia parei na fábrica de cerveja Kuntsmann para experimentar uma cerveja. Esta região foi uma das que os alemães colonizaram no final do século XIX início do século XX.
Desta vez consegui atravessar a cidade sem grandes problemas e pensei seguir um pouco pela costa.
Numa pequena hospedaje onde fiquei, Hospedaje Icalma, por 7.000 pesos e com banho privativo e pequeno almoço, conheci um jovem vulcanólogo americano, Jason Jweda, da Columbia University, N.Y., que veio até cá para estudar o vulcão e recolher amostras de rochas para analisar. Havia mais dois suíços mas não cheguei a estar com eles. O americano disse-me que o vulcão entrou em erupção no dia 4 de Fevereiro quase só com emissão de gases e um pouco de lava e tinha parado no dia 14. Por isso cheguei tarde para ver alguma coisa diferente, até porque a área está vedada para acesso público, apenas os cientistas podem entrar pelo menos por agora. Felizmente o Jason deu-me meia dúzia de fotos do vulcão em actividade, pois logo pela manhã vai sair com os outros dois e regressar a casa.
Não sei o que me fez mal mas ao final da tarde, já na hospedaje, tive uma sensação esquisita e de repente tive de ir quase a correr ao quarto de banho. Estava com diarreia. Se calhar foi uma sandes que comi numa área de serviço da auto estrada.
Esta segunda-feira vou ficar por aqui, na hospedaje, para não arriscar e a ver se melhoro. O tempo também está a mudar e agora que estou a preparar este texto está a chover e a trovejar. Há muito tempo que não chove e as pessoas dizem que este verão tem sido muito seco.
Por mim não me importo.
Só mais uma coisa, nesta parte final as duas fotos do vulcão são do vulcanólogo Jason Jweda, da Columbia University, New York, USA. É a primeira vez que uso alguma coisa que não seja meu original. Até o nome do blog é original e não o copiei de ninguém como já vi escrito nalgum lado, pelo menos quando fiz a publicação da primeira página não havia mais nada na internet com esse nome.
KM 06130, Melipeuco, S 38º