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segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Melipeuco, próximo do vulcao Llaima, Chile

A estrada de Junin de los Andes até à fronteira segue por um vale interessante. Ao fundo vai-se vendo o vulcão Lanin a deitar um pouco de fumo. A certa altura o trânsito estava parado e pensei que teria sido um acidente, mas não. Havia uma ponte que estava meia avariada e uns operários estavam a arranjá-la. Era uma ponte de madeira, como às vezes encontro nas estradas de rípio, só que esta era numa estrada de asfalto. Mesmo nas estradas de rípio as pontes que tenho passado são quase todas de cimento.

Próximo da fronteira voltou o rípio e desta vez quiseram passar a mochila pelo raio X para ver o que levava dentro. Do lado chileno a estrada estava mais degradada.

Parei num pequeno restaurante para almoçar e aí confirmaram-me o que um francês me tinha dito. Pucón, cidade onde tinha pensado ficar, era muito cara e Villarrica seria mais barata.

Entretanto ia surgindo no horizonte mais um vulcão, o Villarrica, e também este deitava fumo.

Ao longo do lago Villarrica havia muitas praias e alguns parques de campismo, mas ficavam muito longe da cidade e fui seguindo até à cidade com o mesmo nome. No posto de turismo informaram-me de um parque de campismo que fica mesmo junto ao lago.

Há praias mesmo em frente ao parque e para quem gosta é só atravessar a estrada e está na água.

Nota-se que esta é uma região de turismo pois desde a cidade de Pucón havia muitos hotéis e cabañas e nesta cidade também os há. Além disso as lojas de artesanato estão por todo o lado. Também há uma espécie de galerias e praças onde se reúnem muitas lojinhas com artesanato.

À noite quando estava a escrever reparei que a lua estava a desaparecer. Estranho, pensei, ainda há bocado estava lua cheia. É um eclipse! Não sabia. Tentei tirar umas fotos mas não tenho máquina para isso. Não dá.

Pouco depois passou o vigilante do parque que disse que iria durar até perto das duas da manhã, mas eu não estava para ver até ao fim.

Na manhã seguinte fui ao centro da cidade e reparei que havia uns painéis informativos sobre os alarmes para a actividade vulcânica. Por acaso o vulcão Villarrica estava a deitar fumo e não muito longe daqui o vulcão Llaima esteve em actividade há bem pouco tempo.


Estive a pensar para onde continuar e lembrei-me que se calhar Valdívia seria um destino a considerar. Eu tenho a minha viagem programada ao pormenor (tanga!), só que a cada dia e a cada quilómetro vou alterando.

Em vez de ir pela estrada principal optei por ir pela estrada para Lican Ray que contorna o lago Calafquen até Panguipulli. Também por aqui há muito turismo pois vêem-se muitas cabañas em oferta e também aparecem alguns parques de campismo. O lago não se vê muito por causa das árvores à face da estrada. Algumas das praias que vi são de areia preta, pois esta é uma região vulcânica.

Mais à frente já começaram a aparecer muitos campos de trigo, notava-se bem o contraste do amarelo das searas com a verdura das árvores que serviam de divisão. Há muito poucas aldeias por aqui.

Vi que a auto estrada, a Ruta 5, passava perto e resolvi experimentar. Tem pouco movimento e na saída para Valdívia tive de pagar cem pesos de portagem.

Próximo de Valdívia reparei que havia muito mais movimento na estrada. Esta também será uma zona turística. A cidade é grande e ainda andei um pedaço às voltas para encontrar um parque de campismo. O que encontrei, tinha lido no Lonely Planet, fica numa ilha ao lado da cidade e é muito caro. 9.000 pesos, quase treze euros, é mais do que já paguei numa hospedaje com pequeno almoço. Mas desta vez já a tarde ia a meio e não quis andar mais às voltas e resolvi ficar apesar do preço.

Fui até à cidade e vi que havia muita animação. Há festas este fim de semana e há muita gente na rua. Os artistas também são bastantes, principalmente índios do Peru. Os vendedores ambulantes também vendem de tudo e são às dezenas.


No sábado de manhã encontrei um sujeito com a camisola do FCP e perguntei-lhe de onde era. Ele disse que era dos EU e tinha comprado a camisola na Tailândia. Ariel, era o seu nome, andava com o Willy, outro americano, e três chilenos. Tinha vindo conhecer o país de origem dos seus pais.

Também passei pelo mercado municipal da fruta e do peixe.

As festas da cidade incluíam um corso de barcos pelas dez da noite e no final uma sessão de fogo-de-artifício. Alguns dos barcos eram interessantes mas outros apenas levavam luzes acesas. O fogo-de-artifício não foi nada de especial comparado ao que já vi em Portugal.

Como o parque era caro resolvi sair logo no domingo de manhã. Estava quase pronto quando uma família de chilenos me ofereceu um café. Não pude recusar e fiquei um bocado na conversa.

Fui até Niebla, na ponta da ilha, para ver o forte que não tinha muito que ver. Do outro lado da baía havia mais dois mas tinha de ir barco para os ver. Achei que seriam como este e não valeria o dinheiro da passagem. No regresso a Valdívia parei na fábrica de cerveja Kuntsmann para experimentar uma cerveja. Esta região foi uma das que os alemães colonizaram no final do século XIX início do século XX.

Desta vez consegui atravessar a cidade sem grandes problemas e pensei seguir um pouco pela costa. Em San José de la Mariquina devo ter-me enganado nalgum desvio e a certa altura já estava a entrar na auto-estrada. Não fazia mal pois assim poderia chegar mais cedo a Melipeuco, pequena povoação que serve de base para a entrada no Parque Nacional Conguillo onde fica o vulcão Llaima que esteve em actividade durante uns tempos.

Numa pequena hospedaje onde fiquei, Hospedaje Icalma, por 7.000 pesos e com banho privativo e pequeno almoço, conheci um jovem vulcanólogo americano, Jason Jweda, da Columbia University, N.Y., que veio até cá para estudar o vulcão e recolher amostras de rochas para analisar. Havia mais dois suíços mas não cheguei a estar com eles. O americano disse-me que o vulcão entrou em erupção no dia 4 de Fevereiro quase só com emissão de gases e um pouco de lava e tinha parado no dia 14. Por isso cheguei tarde para ver alguma coisa diferente, até porque a área está vedada para acesso público, apenas os cientistas podem entrar pelo menos por agora. Felizmente o Jason deu-me meia dúzia de fotos do vulcão em actividade, pois logo pela manhã vai sair com os outros dois e regressar a casa.


Não sei o que me fez mal mas ao final da tarde, já na hospedaje, tive uma sensação esquisita e de repente tive de ir quase a correr ao quarto de banho. Estava com diarreia. Se calhar foi uma sandes que comi numa área de serviço da auto estrada.

Esta segunda-feira vou ficar por aqui, na hospedaje, para não arriscar e a ver se melhoro. O tempo também está a mudar e agora que estou a preparar este texto está a chover e a trovejar. Há muito tempo que não chove e as pessoas dizem que este verão tem sido muito seco.

Por mim não me importo.


Só mais uma coisa, nesta parte final as duas fotos do vulcão são do vulcanólogo Jason Jweda, da Columbia University, New York, USA. É a primeira vez que uso alguma coisa que não seja meu original. Até o nome do blog é original e não o copiei de ninguém como já vi escrito nalgum lado, pelo menos quando fiz a publicação da primeira página não havia mais nada na internet com esse nome.

KM 06130, Melipeuco, S 38º 51,123’ W 71º 41,327’

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Junin de Los Andes, na Fiesta del Puestero

Em El Bolsón sente-se um ambiente de festa apesar de os dias serem normais. Há muita gente nas ruas e pode-se apreciar alguns artistas nos parques ou jardins da cidade, à sombra pois está calor e o sol é muito forte.
Apesar do calor que fazia durante o dia, na manhã em que saí de El Bolsón estava mesmo fresco. Mas nem era pior.
Rolar nas estradas asfaltadas é uma maravilha. Passar nestes vales com os lagos de água muito azul ou então acompanhar os rios com a água cristalina é um prazer enorme.

Agora a estrada tem subido ligeiramente e passou a andar entre os setecentos e oitocentos metros. O ar fresco tem-se mantido.

Quando cheguei a Bariloche procurei um parque de campismo e não encontrei. Como a tarde já estava a adiantar-se parei num restaurante para almoçar. O preço foi meio caro mas já estava a ficar com fome. Depois teria mais tempo para ir à procura de um parque.
O único que encontrei deixou-me amedrontado. Pediram-me 50 (cinquenta) pesos e era a taxa mínima. Até agora tenho pago entre 10 e 15 pesos. Já houve ocasiões que paguei 8 ou até 17, mas isto era um exagero. Se os preços eram assim não queria ficar por ali.

Olhei para o mapa e pensei continuar para San Martin de los Andes, mas ainda eram cento e sessenta quilómetros e tinha a hipótese de haver alguma parte em rípio e isso iria fazer-me chegar muito tarde. Ali é que não queria ficar.
Vou seguindo e depois páro onde calhar, pensei.
Pouco depois da saída de Bariloche vi placas de sinalização com o nome de Villa La Angostura, que ficava muito mais perto, e de que tinha lido qualquer coisa. Deixei a estrada que seguia e inclinei para lá. Inclinar é mesmo o termo pois há já bastantes dias que não tinha apanhado vento na estrada. Sempre tive de parar e vestir o forro do blusão pois já estava a ficar com frio e a altitude ia aumentando lentamente.

Afinal nesta vila os preços também são turísticos. O parque de campismo só custa 29 pesos mas, mesmo assim, ainda é muito caro. Quando passei no posto de turismo deu para ver os preços dos "hostels" e "cabañas" que oscilavam entre 110 e 150 pesos para quarto simples e acima dos 190 para duplo. Preços para turistas!!! E a cidade é só para turismo.
Por acaso foi aqui que encontrei o preço mais baixo para ir à internet, 1,5 pesos por hora, e até nem era muito lenta.
O tempo mudou e a chuva começou a aparecer. Chuvisca de vez em quando e durante o dia está frio e de noite arrefece mesmo.No porto de Bahia Mansa, no lago Nahuel Huapi, vêem-se os barcos para as excursões turísticas no lago. A vista sobre o lago é muito bonita.

Continuo em direcção a San Martin de Los Andes, desta vez pela estrada de montanha.
Os primeiros quilómetros, uns dez se tanto, são em asfalto e contornam o lago até que no desvio começa o rípio. Foram quase cinquenta quilómetros numa estrada em obras e em que nalguns pontos a terra macia e a humidade da chuva do dia anterior ainda me assustava mais. Não chegava a fazer lama só que com a passagem dos carros formava regos em que eu tinha medo de cair.
Havia muitos lagos, chamam a esta estrada a “Ruta de los 7 lagos”, mas alguns mal se viam por causa das árvores. Também porque era preciso olhar para o chão para não tropeçar nas pedras. Quando entrei novamente no asfalto já deu para relaxar e apreciar melhor.

Ao aproximar-me e passar por San Martin de Los Andes vi que afinal a cidade se parece com as outras.

Cheguei a Junin a meio da tarde e depois de umas voltas lá dei com parque de campismo. É barato, 10 pesos, mas com o serviço curto para tanta gente.
Este fim de semana são as festas na cidade e o parque está cheio. Há um outro mais ao lado que está esgotado. Um rio passa mesmo aqui ao lado.
Apesar de estar a oitocentos metros, mais ou menos como Villa la Angostura, aqui em Junin faz calor durante o dia, à noite arrefece um pouco.
À noite o barulho dura até que horas, apesar de haver avisos para fazer silêncio a partir da meia-noite. Não adianta com toda a gente a fazer os assados a partir das dez/onze horas. Depois também há a canalha que grita, joga à bola e faz pó e anda de bicicleta e faz pó.

A “XX Fiesta del Puestero” decorreu até domingo, dia 17. Puestero é como chamam por aqui aos gaúchos ou vaqueiros, os que tratam do gado.
Quando passei em El Bolsón vi um cartaz sobre esta festa e pensei que estava sempre a chegar atrasado às festas que aconteciam em alguns lugares e desta vez resolvi que iria chegar a tempo. Foi também uma das razões que me levou a não parar em Bariloche e depois em San Martin de Los Andes.

No sábado de tarde fui até um recinto onde estavam a acontecer algumas actividades relacionadas com a festa. Quando cheguei estava a decorrer uma prova em que equipas de dois “puesteros” tinham de ordenhar vacas para ver quem tirava mais leite. Com muitos homens e vacas em campo aquilo era uma confusão tremenda.
Depois foram as novilhadas, em que montavam novilhos para ver quem aguentava determinado tempo em cima deles. Trambolhões para quase todos.
A seguir foram as “jinetadas” em que os “puesteros” montavam cavalos bravos em pêlo e também tentavam aguentar determinado tempo. Foi muito interessante ver isto ao vivo.


No domingo de manhã também comemoraram os 125 anos da fundação da cidade com discursos e desfile nas ruas da cidade.
Da parte de tarde voltei a ir ver as “jinetadas”, só que desta vez os cavaleiros já montavam com uma pequena sela. Foi interessante ver e houve alguns que foram mesmo espectaculares.
Km 05458, Junin de Los Andes, S 39º 57,173’ W 71º 03,830’

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Passagem por El Bolson, Argentina de novo

Continuando pela Carretera Austral em direcção a Cerro Castillo a estrada tem um piso que até nem está muito mau, mas nos últimos vinte quilómetros fica muito mau com muita pedra solta.Depois de Cerro Castillo já está pavimentada primeiro com cimento e depois com asfalto. O percurso é muito bonito sendo quase sempre nos vales dos rios.

Durante muitos quilómetros a estrada atravessa a montanha para Coyhaique e o panorama parece de planalto de média montanha, com muita verdura e árvores nas encostas até à linha de neve, mas a altitude que o GPS vai indicando é entre os 100 e 300 metros.

Depois de Coyhaique a estrada, pavimentada, acompanha o rio Aysen até ao mar.

Em Puerto Aysen não há parque de campismo, só um sítio para acampar junto ao rio mas sem serviços. Andei às voltas até encontrar uma “hospedaje” onde ficar. Nas três primeiras onde tentei os responsáveis não estavam, tinham ido até à praia. Encontrei uma, Hospedaje Marclara, em que fiquei. Ainda não era tarde, mas não queria estar sentado à porta de uma das outras à espera. Nesta hospedaje até havia internet “wi-fi” e aproveitei para ir vendo o que se passava.

A cidade não me pareceu muito interessante e como tinha ouvido dizer que Puyuhuapi o seria continuei para lá.
O percurso na ruta 7, agora com bastantes quilómetros de asfalto, continua espectacular acompanhando lagos e rios. Quando passa a rípio já não se pode admirar devidamente. Muitas vezes por causa do piso que apesar de não ser mau de todo exige muito cuidado. Às vezes também será já o cansaço de ver tanta coisa bonita. Pode ser um exagero mas começo a não ligar muito às montanhas com neve e aos rios correndo pelos vales.
Para alguns que lêem o que vou escrevendo pode parecer uma blasfémia dizer estas coisas mas realmente ao fim destes meses já não vou achando que as paisagens sejam tão diferentes umas das outras. Claro que há sempre pontos com interesse.
Os últimos trinta quilómetros antes de Puyuhuapi foram mais difíceis. Estão a alargar a estrada pois há muitos quilómetros em que quase não se cruzam dois carros e neste troço a estrada ainda não está compactada e é muito macia e tem muita pedra solta. Em muitos pontos as subidas ou descidas são acentuadas e seria complicado cruzar com um autocarro, o que vale é que o movimento é muito reduzido.
Procurei um parque de campismo, só que não havia. Apenas uma casa tinha um quintal onde podia acampar. Já acampei outras vezes assim, aqui no Chile, e tirando o parque nas Torres del Paine ainda não fiquei num verdadeiro parque de campismo. Já vi sinais mas ficam todos muito fora das cidades e penso que serão mais para quem quer fazer os ditos desportos radicais.
No quintal onde fiquei, não havia mais gente, o chuveiro ficava no interior de um barracão que também dava para utilizar como cozinha. As tábuas estavam um pouco separadas e se estivesse vento não o conseguiriam parar. Já fiquei noutros que nem isto tinham.

Afinal Puyuhuapi também não me pareceu nada de especial e segui a meio da manhã com a ideia de ir ficar a Chaitén para depois atravessar para a ilha de Chiloé.
Seriam já duas da tarde quando parei para comer alguma coisa numa sombra junto ao rio. Olhei para o mapa e vi que o nome de Futaleufú estava, mais para o interior, à mesma distância de Chaitén e assim de repente resolvi seguir para lá.
A estrada até não estava má de todo. Procurei uma hospedaje, pois os parques ficam muito longe da cidade, e encontrei uma que também tinha campismo no quintal. A diferença de preços era tão pequena que fiquei num quarto.
Um israelita que estava aí disse-me que na cidade não havia nada. Só o “rafting” é que fazia a cidade viver e na verdade por todo o lado havia empresas dedicadas a isso.
Andam por aqui muitos israelitas, também já os tinha encontrado na Argentina, e segundo um deles quando acabam o serviço militar alguns vêm até à América do Sul passear antes de começarem a trabalhar.
Tem estado calor e nesta zona foi o único lugar até agora onde vi incêndios nas montanhas.

Passei de novo para a Argentina e fui em direcção ao Parque Nacional de Los Alerces.
Fiquei num parque de campismo junto do Vila de Futaleufquen, o parque de Los Maitenes.
Procurei conhecer um pouco mas está muito calor e não se pode andar muito. É mais agradável ficar no parque de campismo à sombra ou ir até à praia no lago.
Durante a noite, como era sábado, houve festa até às quatro da manhã.


Quando saí do parque pensei que teria de pagar mais alguma coisa, pois o bilhete de entrada era válido por 48 horas e fiquei três dias, mas afinal não foi preciso. Só um controlo de saída para verificar se tinha pago entrada.
A estrada para sair do parque de Los Alerces passava em pontos muito agradáveis. O problema era o pó já que havia muito movimento e alguns andavam bem depressa.
Depois do desvio em Cholila a estrada ficou do piorio. Andam a repará-la e havia muitas zonas em que mal se podia andar. Foram quase trinta quilómetros de sofrimento, poderei dizer. Nalguns sítios a gravilha era tanta que nem dava para escolher um trilho para seguir. Várias vezes saí da estrada e fui pelos antigos desvios para poder andar melhor, mas mesmo assim foi um troço de estrada muito cansativo e desgastador.

Quando cheguei à estrada asfaltada até parece que a moto também ficou contente. Foram uns quilómetros numa região muito bonita com a estrada a subir e descer e com curvas que dava gosto fazer. Já havia bastante tempo que não ia aos cem à hora e depois de muitos dias e muitos quilómetros a trinta e quarenta à hora até soube bem.
Cheguei a El Bolson a meio da tarde sob um calor abrasador. Encontrei um parque de campismo quase junto da cidade.
A cidade parece um centro hyppie pois vêem-se muitos jovens e menos jovens com aquele ar e roupas dos anos sessenta. Num jardim havia uma sessao de ensino de capoeira. À noite houve música na praça.
Como estava muito calor aproveitei para comer um gelado. Por menos de dois euros compra-se um quarto de quilo com três ou quatro sabores. Bom!
Hoje é dia de feira de artesanato. Há quanta bugiganga se possa imaginar e ainda outras coisas mais elaboradas, como relógios com base de madeira, pedras trabalhadas, roupas, doces, sei lá, tanta coisa.
Vou continuar para norte na Argentina, por aqui nao se pode fazer nada com o calor e tenho que ir continuando, pois o meu plano é chegar no verao de 2009 ao ponto mais a norte do continente.
Km 05048, El Bolson, S 41º 58,115’ W 71º 31,574’

sábado, fevereiro 02, 2008

Na Carretera Austral

Agora o destino passa pelo Chile. A entrada foi demorada pois desta vez quiseram ver todas as minhas bagagens. Não querem deixar entrar produtos animais ou vegetais por causa de doenças que podem transmitir!!! Fizeram-me desmontar tudo e abrir todos os sacos e malas. Depois tive de montar tudo outra vez.
A partir de Chile Chico a estrada segue junto ao lago General Carrera, Buenos Aires do lado Argentino. O piso está muito degradado mas em certo ponto já estão a arranjar e tem um pedaço que está bom. Grande parte do percurso tem relevo tipo lavadouro em que é preciso ir mesmo devagar porque a moto treme toda e não é fácil segurar.
A paisagem é espectacular. A estrada vai subindo e descendo naquelas encostas na margem do lago. Quando vai mais por cima há sítios em que se vêem pequenas quintas com muita verdura na margem do lago, mas também há precipícios que assustam.
Pouco antes de chegar à Ruta 7, a Carretera Austral, perto de El Maiten, numa pequena subida estava um carro deitado de lado e atravessado na estrada. Tentei ajudá-los a endireitar o carro, um pequeno jipe Suzuki, mas não conseguimos.

InFELIZmente não sou só eu que deito o meu veículo. Passei entre o carro e a parede e fui ver se encontrava uma casa de onde pudessem ir dar uma ajuda. No primeiro sítio não havia ninguém mas depois mais à frente já perto da cidade encontrei um restaurante e aí telefonaram para a polícia para providenciar o necessário.
A partir daí ainda mais cuidado tinha.
Continuei para Cochrane, novamente para sul. Tinham-me dito que valia a pena ir até Galeta Tortel que fica na ponta dessa estrada. Esta também tem um piso muito mau, com muitos buracos e lavadouros. Nalguns pontos há subidas e descidas que tinha de fazer quase a vinte à hora. Mas a paisagem também era muito bonita. Quase sempre junto ao Rio Baker.

O grande problema nestas estradas é que nem sempre se pode apreciar a paisagem porque é preciso ir sempre com os dois olhos bem virados para o piso para tentar descobrir a tempo os buracos ou os lavadouros para poder abrandar a tempo, o que nem sempre se consegue e então vai-se um pedaço a abanar por todos os lados enquanto a moto vai perdendo andamento. Mas o pior é mesmo nas descidas, aí é preciso travar e reduzir para não deixar embalar mesmo também por causa da gravilha.
Em Cochrane disseram-me que mais para sul a estrada ainda estava pior e que se calhar não valeria a pena fazer tantos quilómetros. Fui, então, dar uma volta pelos arredores. Vi a laguna Esmeralda e depois ainda fui ver o Salto do rio Salto. São quinze quilómetros por uma estradinha ao longo de um vale muito verde. Tem muitas subidas e descidas, algumas bem acentuadas.
Quando cheguei ao lugar do salto verifiquei que este ficava dentro de uma propriedade. Um pouco mais à frente havia uma ponte pênsil. Passei-a para ver se havia algum acesso do outro lado do rio, mas não havia. Regressei e pouco depois de parar chegaram uns cavaleiros que eram os moradores da casa onde deveria entrar.
Autorizaram-me a entrar e fui até à cascata. É impressionante a quantidade de água que por ali salta pelos rochedos.




Ao final do dia apareceram quatro mochileiros franceses que vieram de Caleta Tortel e também um ciclista brasileiro que confirmaram que a estrada estava muito má. Tive de recordar o meu francês que não falava há muito tempo, mas deu para conversar um pouco.
O ciclista brasileiro, Nelson Muller, ficou um dia e pude, finalmente, falar português. Assim já não me esqueço.
Quando saí a meio da manhã em direcção a norte já o ciclista tinha saído, quase de madrugada. Alguns quilómetros à frente encontrei o Nelson numa ponte a descansar. Parei para falar com ele uns minutos e fazer uma foto e segui. Realmente esta estrada com as suas constantes subidas e descidas deve ser desgastante para um ciclista, além de que o piso é muito irregular. Até eu de moto sinto essa dificuldade.

A Carretera Austral, como chamam à Ruta 7, passa em lugares magníficos mas não somos como os camaleões e além disso o piso está muito mau, com muitas zonas de lavadouro.
Numa ocasião ia a pensar que há quatro meses que ando pela América do Sul e ainda não saí da Patagónia. Realmente, com este ritmo daqui a um ano ainda não saí da Argentina. Bem, agora até estou no Chile.

Ia muito entretido nestes pensamentos quando de repente comecei a sentir que a direcção estava muito leve e pensei: Estranho! O piso nem tem areia! Ou? Queres ver que…
Era! Tinha a roda da frente vazia.
Nem ia muito depressa, não dá, e parei para apreciar a situação. Andei mais uns metros para fugir um pouco da curva e parei do lado esquerdo pois com o peso da moto e a inclinação da estrada nem conseguia pô-la no descanso lateral. Comecei a tirar a tralha toda para pôr a moto no descanso central. Apareceu um carro e fiz sinal ao condutor, um rapaz novo, que parou e me ajudou a puxar a moto para o descanso central, pois por azar até tinha ficado numa descida e puxar a moto para trás ainda se tornava mais difícil.
A coisa nem estava mal, numa estrada poeirenta, à uma da tarde, sem uma sombra e sob um sol quente, consertar um furo não seria tão mau como isso. Seria pior se estivesse a chover.
Ao fim de uma hora estava outra vez a rolar.

Ao longo do lago a estrada durante muitos quilómetros vai subindo, para andar lá por cima nas encostas, e descendo, para passar junto à água, sempre com uma paisagem magnífica, mas que nem sempre se podia apreciar devidamente, pois o piso requisitava a atenção.

Pensei que não valeria a pena fazer muitos quilómetros e quando cheguei ao desvio para Bahia Murta segui por aí. É um pequeno povoado, na margem do lago, e encontrei uma Hospedaje, Bahia de seu nome, que nem é cara e fiquei por lá.
Depois de um duche fui andar um pouco ao longo do lago e quando voltei vi que a família da senhora da “hospedaje” estava a colher cerejas no quintal. Fui até lá para ajudar e claro está que algumas não chegaram ao cesto.
Este lugar é um dos tais em que a gente chega e até apetece ficar indefinidamente. A paisagem é fantástica, o sossego é demais, a comida é boa, a hospedeira é simpática. Só que é preciso ir continuando para a frente.


Puerto Sanchez fica do outro lado da montanha junto ao lago, como o nome indica. A estrada vai até lá e acaba. São 25 quilómetros por uma estrada que sobe muito de início e passa numa espécie de planalto. Na parte final volta a descer até ao lago.
Ao final da manhã antes de sair para ir visitar Puerto Sanchez fui ao supermercado comprar gasolina. Aqui em Puerto Murta não há postos de combustível mas no supermercado também a vendem. Ainda teria suficiente para ir e voltar e continuar para norte, mas mais vale prevenir aqui por estes lados.
A estrada começa por subir bastante e depois atravessa a montanha numa espécie de planalto e volta a descer até ao nível do lago. Na parte inicial e também na final vê-se uma paisagem sobre o lago que é espectacular. Puerto Sanchez é uma aldeia com poucas casas e quando procurei almoçar não havia onde. Perguntei numa pequena loja e a senhora através de rádio contactou outra que lhe disse onde poderia ir. Deu-me o nome de uma outra senhora, Alfita assim se chamava, que às vezes fazia uns almoços para fora. Fui até lá e por sorte ela tinha frango estufado.


No regresso começou a chuviscar mas parou. Na parte do planalto havia muito gado e ao passar uma lomba tive de estacar pois meia dúzia de metros à frente estavam dois touros no meio da estrada a lutar. Nem me ligaram, ainda bem, e ao fim de alguns minutos foram saindo para o bosque e pude continuar.


Agora só espero que não chova, pois o tempo parece que está mudar e fazer estas estradas com piso molhado ainda deve ser pior.
KM 03998, Puerto Murta, S 46º 27,776’ W 72º 40,395’
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Isto era o que eu tinha preparado para publicar ontem só que a internet estava tao lenta que desisti e resolvi continuar o meu caminho hoje de manhá. Quando fui pegar na moto vi que a roda da frente estava outra vez vazia.
Tive que consertar o furo, que era mais o remendo do furo de dois dias atrás que por ser na parte lateral da câmara ia dobrando e descolou um pouco e perdia ar. Posto o pneu no sítio, tirei a mota do descanso central e poff! O pneu foi abaixo. Desmontei tudo outra vez e vi que tinha traçado a câmara. Consertei novamente mas desta vez nem fora conseguia dar pressao ao pneu.
Procurei a câmara suplente que tinha trazido mas afinal só trouxe uma para a roda de trás. Tanto cuidado na preparaçao e...
Desisti e fui a uma "gomeria", que por sorte há neste povoado e aí consertaram-me os furos vulcanizando os remendos. Espero que agora nao tenha furos tao cedo.
Já nao saio daqui hoje. Agora de tarde aproveito para actualizar o blog.
Nesta vida de andar a viajar nem sempre corre tudo bem. Nao considero isto um problema, só que tenho de comprar uma câmara logo que tenha oportunidade.
Nao me posso queixar destes, até agora, quatro meses e tomara eu que mais amigos meus, e nao só, pudessem andar por aqui como eu ando.
As paisagens sao fantásticas, apesar de às vezes, o piso requerer mais atençao.
Vou continuar para norte e ficar mais uns dias no Chile e depois vou voltar para a Arentina. No início de Março quero ir até Azul, na província de Buenos Aires, e depois tentar fugir do inverno.