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sábado, fevereiro 02, 2008

Na Carretera Austral

Agora o destino passa pelo Chile. A entrada foi demorada pois desta vez quiseram ver todas as minhas bagagens. Não querem deixar entrar produtos animais ou vegetais por causa de doenças que podem transmitir!!! Fizeram-me desmontar tudo e abrir todos os sacos e malas. Depois tive de montar tudo outra vez.
A partir de Chile Chico a estrada segue junto ao lago General Carrera, Buenos Aires do lado Argentino. O piso está muito degradado mas em certo ponto já estão a arranjar e tem um pedaço que está bom. Grande parte do percurso tem relevo tipo lavadouro em que é preciso ir mesmo devagar porque a moto treme toda e não é fácil segurar.
A paisagem é espectacular. A estrada vai subindo e descendo naquelas encostas na margem do lago. Quando vai mais por cima há sítios em que se vêem pequenas quintas com muita verdura na margem do lago, mas também há precipícios que assustam.
Pouco antes de chegar à Ruta 7, a Carretera Austral, perto de El Maiten, numa pequena subida estava um carro deitado de lado e atravessado na estrada. Tentei ajudá-los a endireitar o carro, um pequeno jipe Suzuki, mas não conseguimos.

InFELIZmente não sou só eu que deito o meu veículo. Passei entre o carro e a parede e fui ver se encontrava uma casa de onde pudessem ir dar uma ajuda. No primeiro sítio não havia ninguém mas depois mais à frente já perto da cidade encontrei um restaurante e aí telefonaram para a polícia para providenciar o necessário.
A partir daí ainda mais cuidado tinha.
Continuei para Cochrane, novamente para sul. Tinham-me dito que valia a pena ir até Galeta Tortel que fica na ponta dessa estrada. Esta também tem um piso muito mau, com muitos buracos e lavadouros. Nalguns pontos há subidas e descidas que tinha de fazer quase a vinte à hora. Mas a paisagem também era muito bonita. Quase sempre junto ao Rio Baker.

O grande problema nestas estradas é que nem sempre se pode apreciar a paisagem porque é preciso ir sempre com os dois olhos bem virados para o piso para tentar descobrir a tempo os buracos ou os lavadouros para poder abrandar a tempo, o que nem sempre se consegue e então vai-se um pedaço a abanar por todos os lados enquanto a moto vai perdendo andamento. Mas o pior é mesmo nas descidas, aí é preciso travar e reduzir para não deixar embalar mesmo também por causa da gravilha.
Em Cochrane disseram-me que mais para sul a estrada ainda estava pior e que se calhar não valeria a pena fazer tantos quilómetros. Fui, então, dar uma volta pelos arredores. Vi a laguna Esmeralda e depois ainda fui ver o Salto do rio Salto. São quinze quilómetros por uma estradinha ao longo de um vale muito verde. Tem muitas subidas e descidas, algumas bem acentuadas.
Quando cheguei ao lugar do salto verifiquei que este ficava dentro de uma propriedade. Um pouco mais à frente havia uma ponte pênsil. Passei-a para ver se havia algum acesso do outro lado do rio, mas não havia. Regressei e pouco depois de parar chegaram uns cavaleiros que eram os moradores da casa onde deveria entrar.
Autorizaram-me a entrar e fui até à cascata. É impressionante a quantidade de água que por ali salta pelos rochedos.




Ao final do dia apareceram quatro mochileiros franceses que vieram de Caleta Tortel e também um ciclista brasileiro que confirmaram que a estrada estava muito má. Tive de recordar o meu francês que não falava há muito tempo, mas deu para conversar um pouco.
O ciclista brasileiro, Nelson Muller, ficou um dia e pude, finalmente, falar português. Assim já não me esqueço.
Quando saí a meio da manhã em direcção a norte já o ciclista tinha saído, quase de madrugada. Alguns quilómetros à frente encontrei o Nelson numa ponte a descansar. Parei para falar com ele uns minutos e fazer uma foto e segui. Realmente esta estrada com as suas constantes subidas e descidas deve ser desgastante para um ciclista, além de que o piso é muito irregular. Até eu de moto sinto essa dificuldade.

A Carretera Austral, como chamam à Ruta 7, passa em lugares magníficos mas não somos como os camaleões e além disso o piso está muito mau, com muitas zonas de lavadouro.
Numa ocasião ia a pensar que há quatro meses que ando pela América do Sul e ainda não saí da Patagónia. Realmente, com este ritmo daqui a um ano ainda não saí da Argentina. Bem, agora até estou no Chile.

Ia muito entretido nestes pensamentos quando de repente comecei a sentir que a direcção estava muito leve e pensei: Estranho! O piso nem tem areia! Ou? Queres ver que…
Era! Tinha a roda da frente vazia.
Nem ia muito depressa, não dá, e parei para apreciar a situação. Andei mais uns metros para fugir um pouco da curva e parei do lado esquerdo pois com o peso da moto e a inclinação da estrada nem conseguia pô-la no descanso lateral. Comecei a tirar a tralha toda para pôr a moto no descanso central. Apareceu um carro e fiz sinal ao condutor, um rapaz novo, que parou e me ajudou a puxar a moto para o descanso central, pois por azar até tinha ficado numa descida e puxar a moto para trás ainda se tornava mais difícil.
A coisa nem estava mal, numa estrada poeirenta, à uma da tarde, sem uma sombra e sob um sol quente, consertar um furo não seria tão mau como isso. Seria pior se estivesse a chover.
Ao fim de uma hora estava outra vez a rolar.

Ao longo do lago a estrada durante muitos quilómetros vai subindo, para andar lá por cima nas encostas, e descendo, para passar junto à água, sempre com uma paisagem magnífica, mas que nem sempre se podia apreciar devidamente, pois o piso requisitava a atenção.

Pensei que não valeria a pena fazer muitos quilómetros e quando cheguei ao desvio para Bahia Murta segui por aí. É um pequeno povoado, na margem do lago, e encontrei uma Hospedaje, Bahia de seu nome, que nem é cara e fiquei por lá.
Depois de um duche fui andar um pouco ao longo do lago e quando voltei vi que a família da senhora da “hospedaje” estava a colher cerejas no quintal. Fui até lá para ajudar e claro está que algumas não chegaram ao cesto.
Este lugar é um dos tais em que a gente chega e até apetece ficar indefinidamente. A paisagem é fantástica, o sossego é demais, a comida é boa, a hospedeira é simpática. Só que é preciso ir continuando para a frente.


Puerto Sanchez fica do outro lado da montanha junto ao lago, como o nome indica. A estrada vai até lá e acaba. São 25 quilómetros por uma estrada que sobe muito de início e passa numa espécie de planalto. Na parte final volta a descer até ao lago.
Ao final da manhã antes de sair para ir visitar Puerto Sanchez fui ao supermercado comprar gasolina. Aqui em Puerto Murta não há postos de combustível mas no supermercado também a vendem. Ainda teria suficiente para ir e voltar e continuar para norte, mas mais vale prevenir aqui por estes lados.
A estrada começa por subir bastante e depois atravessa a montanha numa espécie de planalto e volta a descer até ao nível do lago. Na parte inicial e também na final vê-se uma paisagem sobre o lago que é espectacular. Puerto Sanchez é uma aldeia com poucas casas e quando procurei almoçar não havia onde. Perguntei numa pequena loja e a senhora através de rádio contactou outra que lhe disse onde poderia ir. Deu-me o nome de uma outra senhora, Alfita assim se chamava, que às vezes fazia uns almoços para fora. Fui até lá e por sorte ela tinha frango estufado.


No regresso começou a chuviscar mas parou. Na parte do planalto havia muito gado e ao passar uma lomba tive de estacar pois meia dúzia de metros à frente estavam dois touros no meio da estrada a lutar. Nem me ligaram, ainda bem, e ao fim de alguns minutos foram saindo para o bosque e pude continuar.


Agora só espero que não chova, pois o tempo parece que está mudar e fazer estas estradas com piso molhado ainda deve ser pior.
KM 03998, Puerto Murta, S 46º 27,776’ W 72º 40,395’
***
Isto era o que eu tinha preparado para publicar ontem só que a internet estava tao lenta que desisti e resolvi continuar o meu caminho hoje de manhá. Quando fui pegar na moto vi que a roda da frente estava outra vez vazia.
Tive que consertar o furo, que era mais o remendo do furo de dois dias atrás que por ser na parte lateral da câmara ia dobrando e descolou um pouco e perdia ar. Posto o pneu no sítio, tirei a mota do descanso central e poff! O pneu foi abaixo. Desmontei tudo outra vez e vi que tinha traçado a câmara. Consertei novamente mas desta vez nem fora conseguia dar pressao ao pneu.
Procurei a câmara suplente que tinha trazido mas afinal só trouxe uma para a roda de trás. Tanto cuidado na preparaçao e...
Desisti e fui a uma "gomeria", que por sorte há neste povoado e aí consertaram-me os furos vulcanizando os remendos. Espero que agora nao tenha furos tao cedo.
Já nao saio daqui hoje. Agora de tarde aproveito para actualizar o blog.
Nesta vida de andar a viajar nem sempre corre tudo bem. Nao considero isto um problema, só que tenho de comprar uma câmara logo que tenha oportunidade.
Nao me posso queixar destes, até agora, quatro meses e tomara eu que mais amigos meus, e nao só, pudessem andar por aqui como eu ando.
As paisagens sao fantásticas, apesar de às vezes, o piso requerer mais atençao.
Vou continuar para norte e ficar mais uns dias no Chile e depois vou voltar para a Arentina. No início de Março quero ir até Azul, na província de Buenos Aires, e depois tentar fugir do inverno.

14 comentários:

  1. Ola Tone! Est�s como queres! Tens fome, uma chamadita e a Alfita serve frango estufado! Tens um furo, queres por o descanso central, fazes paragem e algu�m ajuda! Queres... bem tamb�m n�o precisas de contar tudo!
    Continuo fascinada com a tua viagem! Estamos todos bem ! E o todos inclui a tua Detinha! Est� boa e recomenda-se! Vai em frente, segue o teu rumo que n�s aqui torcemos por ti!
    Beijinhos
    Belacruz

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  2. Como ves os jeeps tambem se deitam na estrada.
    Estou a gostar de seguir as tuas narrativas e principalmente o espírito com que encaras as situações.Bota pra frente e Boa Viagem

    Abraço
    G.Albuquerque

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  3. Caro Tone, continuas em grande!
    Depois da fase dos asaditos vejo que entraste numa da limpeza. Com que então tens andado a descobrir os "lavadouros" na estrada... Isso cheira-me a esturro.
    Quando estavas por cá chamavas a esse piso tela ondulada (tôle ondulé), mas agora já lhe chamas lavadouro?
    Vê lá não descures a tua higiene senão não há índia que te pegue... ;)
    E a D. Aflita ficou mais aliviada de te ver?
    As coxas eram boas?
    Não, não me refiro a essas mas sim às do frango!
    Já estás a subir no ranking de popularidade, já escreves cada vez melhor e, pasme-se, começaste finalmente a fotografar pessoas. Pelo menos já vimos a cara do Nelson...
    Giro, giro seria ver se a fisionomia da D. Aflita condizia com o nome...
    Vai tirando umas fotos dos locais onde pernoitas e das pessoas de lá. Com certeza que lhes agradará a publicidade e saber que mais motociclistas poderão um dia passar por lá...
    Entretanto recebe um forte abraço e vai continuando a dar notícias.
    Continuação de Boa Viagem.
    Mustafá

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  4. Ó queirós,

    Não desfazendo das paisagens de que tem mandado fotografias, destas só posso dizer que são de pasmar. Magníficas. Além do aparecimento das pessoas, note-se o registo dos pormenores por vezes caricatos. Além da escrita em evolução está ficar um fotógrafo de mão cheia.
    Espero que D. Aflita não traga grandes "aflições".
    Um abraço,

    Miguel Ângelo
    P.S. "... e depois tentar fugir do inverno." Porra Queirós. Esta é mesmo de viajante com todo o tempo do mundo.

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  5. Mais um excelente texto com excelentes fotografias... até a mim que sou o cúmulo do comodismo e sedentarismo... quase me apetece estar desse lado...

    pedro leite

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  6. Mingos e Clarinda...

    Ohhh Queiros....tamos pra vida...ja pareces um decomentarista da geografic...com o tempo vais lá vais...ou sao as coxas de frango da D. Aflita que deixam assim???...tamos radiantes com tua viajem...força ai amigao tamos contigo nesta aventura.
    Um abraço e Beijos da Clarinda...ate breve
    Nota: tive com o Pc avariado...caiu como a tua mota no lavadouro ihihihihihih

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  7. Grande Queirós
    Estiveste numa terra que era um sonho e tiveste de te fazer à estrada?
    Qual é a pressa?
    Parece a mesma situação do Glaciar Perito Moreno.
    Não nos disseste que queres andar aí 3, 4 anos?
    Qual é a pressa, Queirós?

    Parabéns pelas fotos. Realmente a Patagónia afigura-se como dos locais mais belos do Globo. saboreia-a bem.
    Vais ter saudades dela quando te meteres no bulício das cidades do Norte. Digo eu.
    Parabéns também pela forma rápida como remendas os pneus. Estás um craque. E a meter-nos a nós no bolso.
    Obrigado por te lembrares da malta quando vês essas magnificiências.
    Já te compramos o DVD de Faro para o Pollo. Será metido ao correio a 7 de Fevereiro.
    Ah, e viva o Trofense que caminha a passos largos para a subida à 1ª divisão.
    Grande abraço
    Nestes

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  8. Chefe Queirós, cada vez melhor...
    estamos contigo....
    inveja...de não andar por ai!!!
    Vai dando noticias que nós cá estamos para ler!!!
    noddy Hélio

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  9. ena queirós, cerejas e frango estufado, a falar francês e comer na D. Aflita...ui ui! boas fotos que nos envias e sonhos que nos transmites ;-)
    A. Pedro

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  10. Parabens pelos relatos e pelas fotos.

    Um Abraço deste lado do Oceano

    Rui Baltazar

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  11. ENTÂO??? Não há mais fotos???? Acabou-se o rolo????
    Deixa-te de preguiças,que o pessoal quer novidades...

    abraço,
    pedro leite

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  12. Sim senhor, grandes paisagens! Pelos vistos a coisa está a correr muito bem, sempre que precisas aparece ajuda, quando ficas "Aflito" com a fome aparece um frango estufado, assim até eu me "reformava", eh... eh...

    Agora só um conselho em relação aos furos, a câmara de ar traseira apesar de maior, para desenrascar podes montá-la no pneu da frente, como a roda tem um diâmetro maior compensa a maior largura da câmara. Numa emergência funciona.

    Diverte-te. Nuno Feliz

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  13. olá caro Queirós, nós somos 3 jovens portugueses q estamos na argentina na cidade de Mendoza, qdo quiseres passar por cá temos todo gosto em receber-te. Continuação de boa viajem. Abraço.

    deixo aqui o mail caso queira contactar:
    covasm@portugalmail.pt

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  14. Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu

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