No último dia em El Calafate fui ao Parque Nacional Los Glaciares para ver o glaciar Perito Moreno. A maior atracçao nesta zona doParque. Saí ao final da tarde, sete e meia, pois até às onze e meia há luz do dia e nao queria pagar 40 pesos só para entrar e ver o glaciar. Depois das oito já nao é preciso pagar. Por aqui é precisopagar aentrada nos parques e os estrangeiros pagam muito mais que os naturais do país. Neste eram 12 pesos para os nacionais.
Foram oitenta quilómetros numa estrada monótona que já só dentro do parque era interessante.
Desci as passarelas até ao ponto mais próximo e fiquei ali a apreciar. Realmente é espectacular ver aquela massa de gelo. Algumas pessoas esperavam ver um desprendimento de algum bloco de gelo. Mas é uma sorte.
Pouco tempo depois caiu um pedaço mas nao era bem isso que eu esperava ver. Fiquei mais de uma hora na expectativa de ver o tal espectáculo. Apenas se ia ouvindoo barulho, que era impressionante, que o glaciar fazia.Dava uns estalidos fortes que às vezes pareciam trovoes. Também se ouvia o que parecia pedaços a caírem no interior.
Cansado de esperar, até porque tinha mais uma hora de conduçao e nao queria andar de noite, resolvi regressar. Quando cheguei ao pé da moto ouvi o tal estrondo de algum bloco a cair, e o UAU das pessoas que ainda lá estavam, e que me cansei de esperar.
É sempre assim! Quando saímos é que acontecem as coisas.
Ao chegar a El Calafate já a noite caía.
Ao fim de seis dias no mesmo sítio, de vez em quando é preciso parar por uns dias, era hora de voltar à estrada.Apesar de me levantar antes das nove só saí ao meio dia. Tinha tudo espalhado na tenda e tornar a arrumar tudo no seu sítio foi demorado. Quando fico só um ou dois dias procuro nao desarrumar muito as coisas. Além de que nao ia fazer muitos quilómetros.
Esta zona encostada aos Andes é muito seca e desértica. As montanhas nao permitem que a humidade trazida pelo vento marítimo chegue até aqui. A vegetaçao é composta por arbustos muito pequenos e erva seca. Havia um rio que corria por ali mas mesmo assim nem nas margens havia muita vegetaçao.
Depois de setenta quilómetros de asfalto começou o rípio. Nalguns pontos era um pouco complicado, nao dificil, passar devido às pedras soltas. Estao a fazer uma estrada nova e penso que daqui a pouco tempo a ligaçao de El Calafate a El Chaltén já estará toda asfaltada.
Ao longo do Lago Viedma via-se a montanha seca por trás do lago e ao fundo, para onde me dirigia, a montanha com bastante neve. Foram bastantes quilóñetros com este panorama espectacular.
Procurei o parque de campismo de Madsen, que o Mick tinha indicado por ser de borla, mas só dá para dormir e nao tem água nem serviço nenhum. Preferi pagar alguma coisa e ficar num com equipamento.
No dia seguinte de manha fui até ao Lago del Desierto, de moto, pois disseram-me que era interessante. O percurso até lá é muito bonito, passa-se junto a rios e pelo meio de florestas, mas a estrada é meio complicada. Primeiro tem muita pedra e cascalho grosso o que dificulta o andamento e depois na parte final tem muitos buracos. Até parecia que estavam a nascer quando passava.
Havia um vendedor ambulante com um grelhador junto ao lago e aproveitei para comer um "choripan" e beber uma cerveja fresquinha. A água do lago era o frigorífico.
Quando regressei fui atestar de gasolna e comprar um bidao de cinco litros, pois diziam que nao haveria gasolina até Bajo Caracoles, quase a quinhentos quilómetros, para onde queria continuar.
A subida até ao cerro Fitz Roy fora um dos motivos para a ida até El Chaltén. As primeira três horas sao relativamente fáceis para quem costuma caminhar. Na quarta hora já se encontra um desnível muito acentuado e a parte final é no meio de grandes pedras.
Vale a pena ir até la acima e contemplar aqueles picos no meio da neve e as lagoas com a água muito azul. Fiquei lá, nao sei quanto tempo, admirando aquela maravilha.
Quando saí no dia seguinte, levava dois bidoes de cinco litros cada com gasolina. As distâncias sao muito grandes e às vezes nao há gasolina nos postos de abastecimento.
Afinal em Três Lagos havia gasolina, mas aproveitei para atestar pois mais valia prevenir. Aqui acabou o asfalto e começou o rípio.
Neste troço da Ruta 40 aconteceu uma coisa que nao devia ter acontecido. Cerca de trinta quilómetros depois do começo do rípio deu um trambulhao. Ao sair de uma curva a subir naoa sei como mas a moto começou a atravessar-se e nao consegui evitar o tombo para o lado esquerdo. Talvez um excesso de confiança pois vinha a andar mais ou menos bem e naquele ponto nao consegui manter-me no carril limpo de gravilha. A moto fez piao e ficou virada ao contrário.
Quando me levantei vi que nao me tinha acontecido nada. Lembrei-me de tirar uma foto, poderia ter tirado duas ou três, mas já sentia o cheiro da gasolina a verter. Um casal de brasileiros que vinha de carro em sentido contrário parou e ajudou-me a pôr a moto de pé. Depois tratei de ver o resultado da queda.
A mala do lado esquerdo tinha saltado do suporte e amolgado um pouco. O suporte também empenou mas quase nada. A pretecçao na frente enconstou à carenagem sem esta partir. O que partiu foi o pisca traseiro, mas com fita colei os bocados e ficou bom.
Nos restantes trezentos quilómetros, umas vezes com piso bom outras menos bom, procurei ter mais cuidado mas também pensei que nao seria um simples tombo que me iria desanimar.
Em certas zonas esta parte da Ruta 40 também já está a ser asfaltada. Esta estrada mítica tem os seus dias contados mas ainda fez mais um traço no seu registo.
Bajo Caracoles é um povoado no meio do deserto. Eram quase oito horas quando cheguei pois parei para meter a gasolina que levava e algumas vezes para descansar. Estava muito calor e tantos quilómetros de rípio desgastam.
De manha consegui dar um arranjo na mala esquerda mas nao consegui endireitar o suporte nem a protecçao na frente. Quando encontrar uma oficina trato disso.
Ao final da tarde chegaram o Peter e a Carol, canadianos, numa velha BMW com que já fizeram uma volta ao mundo. Quando chegar ao Canadá querem que os vá visitar.
Tinha pensado continuar por uma estrada de montanha até Los Antiguos mas como nao sabia se teria gasolina suficiente para essa volta resolvi ir por Perito Moreno. Em Bajo Caracoles nao havia gasolina há vários dias e nao sabiam quando viria o camiao. Gasóleo ia havendo mas já estava quase a acabar.
Outra vez na Ruta 40 procurei ver se nao tornava a cair. Alguns quilómetros mais à frente um carro tinha ido à valeta. Uma pequena distracçao e ... Parei para verse precisavam de ajuda, mas estavam mesmo a conseguir sair.
Os últimos sessenta quilómetros daquele troço já estao asfaltados. Que bem que soube rolar naquele piso tao novo e tao lisinho. Em Bajo Caracoles disseram que no máximo quatro a cinco anos toda a Ruta 40 estará asfaltada.
Depois de abastecer em Perito Moreno continuei até Los Antiguos, onde encontrei mais uma vez o Thomas e a Katharina. Esta cidade parece um oásis no meio desta regiao desertica.
KM 03524, Los Antiguos, S 46º 32,694' - W 71º 36,545'