quinta-feira, abril 30, 2009

De saída do México com gripe porcina

Após Acapulco a estrada segue ao longo da costa. Há bastante movimento e não consigo parar para fazer fotos.
Há muitas plantações de coqueiros. Vê-se cocos por todos os lados.
Depois de Lázaro de Cardenas a estrada vai mesmo junto da costa e dá para apreciar as praias e todo o litoral. De vez em quando a estrada vai um pouco para o interior e sobe e desce por pequenas elevações.

Ao fim do dia parei numa pequena cidade, El Ojo de Agua, pois já tinha andado muitos quilómetros. Estive na conversa com o dono e um filho durante um par de horas. Por acaso disse que estava a precisar de mudar as pastilhas de travão da frente e eles disseram que mais à frente em Tecomán havia um agente da Honda e aí encontraria.
Tenho uma revisão marcada para a próxima terça-feira e pensava trocar as pastilhas nessa ocasião. Mas já andava a espreitar constantemente para os travões e com medo de travar. Ainda tinha mais de dois mil quilómetros pela frente e já não andava à vontade.
Passei na Honda e arranjaram umas pastilhas que dessem para a moto. A troca não demorou e pude continuar com mais confiança.
Em todas as aldeias ou cidades há lombas que obrigam a abrandar a velocidade. Muitas vezes não estão assinaladas e só mesmo em cima é que se vêem e é preciso uma travagem forçada para evitar um salto na passagem.
As lombas que há por aqui, em todos os países da América do Sul e Central, obrigam mesmo a quase parar.
Quando cheguei a Puerto Vallarta foi o cabo dos trabalhos para encontrar um hotel com garagem. Simplesmente não tinham ou eram demasiados caros perguntei.
Finalmente falei com um taxista que me guiou a uma rua onde há vários hotéis mas com o mesmo problema, nenhum tem garagem. Mas num disseram que poderia meter a moto num pátio interior. O problema é que no passeio à entrada havia uma floreira que não deixava pôr a moto de frente para a entrada, além de que o passeio era alto. Tive de subir por um acesso a uma garagem e depois ir pelo passeio até umas tábuas que se puseram para poder subir o degrau. Um americano que estava por ali deu-me uma ajuda, e bem boa, se não iria ser mais complicado. Obrigado, Tod.
Andei pela cidade e ao longo da praia, no passeio. Achei uma cidade bem mais interessante do que Acapulco. Há muito mais gente.
À noite depois de jantar Ainda fui ver uma sessão de fogo preso. Havia festas na cidade.
Depois de Puerto Vallarta a estrada entrou numa zona subidas e descidas e o trânsito arrastava-se atrás dos camiões. Era muito difícil ultrapassar.
Antes de Mazatlan desviei para Durango e fiquei logo no início em Concordia.
O Johan, sul-africano que conheci na Colômbia, tinha-me dito que a estrada até Durango era interessante e como tenho de ir mais para o interior optei por vir por esta.
O início nem foi mau. A estrada ia subindo a montanha enquanto a região seca ficava para trás.
Curvas e mais curvas que às vezes se tinham de fazer a 30 à hora. Muitos camiões quase paravam nalgumas curvas a subir.
E noutras?! Como eram muito fechadas os camiões apareciam fora de mão nalgumas curvas.


Depois de a estrada subir aos 2.700 metros e baixar até aos 2.500 começou uma zona de planalto e então já se podia rolar muito melhor, descendo até cerca de 1.900 metros em Durango.
Procurei um hotel e não encontrei no centro. Vi dois mas nem perguntei o preço, só pelo aspecto seriam demasiado caros. Resolvi sair da cidade e continuar.
Ao seguir o desvio para Torreon vi um mesmo a seguir ao cruzamento e fui ver. Preço razoável e apesar de um pouco afastado do centro resolvi ficar, também já não queria seguir mais.
Os quase 300 quilómetros tinham sido cansativos.
Quando estava para almoçar, no McDonalds(!!!), um sujeito chamou-me para a sua mesa. Apresentou-se como sendo chileno, Daniel Lavanderos emigrado e casado com uma mexicana. Disse que notou que eu era estrangeiro e andava só por isso me chamou.
Conversámos um pedaço e depois ele levou-me a conhecer um pouco da cidade. Perguntei-lhe se conhecia o centro de filmagens que havia e ele disse que sabia onde era e até me foi indicar a saída da cidade que levava ao lugar. Também disse que o actor John Wayne tinha tido aí um rancho onde faziam filmes.
Como estava meio interessado em visitar o centro de filmes fui por essa saída.
O Daniel tinha-me dito que seriam cinco minutos até Chupaderos e Villa do Oeste. Quase sempre são uns exagerados e eu pensei que pelo menos seriam uns vinte minutos e fui andando sempre atento a ver se via alguma indicação. Ao fim de meia hora não tinha visto nada e como já ia lá para a frente resolvi continuar por essa estrada. Afinal dava uma pequena volta mas ia ter à estrada de ligação de Durango para Torreon.
A paisagem era muito interessante, parecia daqueles cenários dos filmes do oeste. Também era bastante deserto em termos de povoações, só de longe a longe se viam casas.

Ao chegar a Torreon pensei que seria melhor continuar e ficar mais à frente numa pequena cidade chamada Matamoros. O problema é que não havia hotéis ou melhor havia um que um polícia não me aconselhou pois ficava numa zona um pouco perigosa. Ainda me disse que até Saltillo não deveria encontrar nenhum. Teria de voltar a Torreon.
Se era assim lá teria que ser. Voltei à estrada e regressei a Torreon, mas mesmo na saída vi um letreiro de hotel e fui lá ver. Era um daqueles que aluga quartos à hora.
Tive mesmo de voltar a Torreon. Foi o cabo dos trabalhos para encontrar um hotel decente. Só via desses de aluguer à hora. Já tinha pensado que se não encontrasse nenhum teria de ir para um desses. Finalmente encontrei um, bastante caro mas já estava farto de andar às voltas. A cidade é grande em comprimento e qualquer volta são uns quilómetros.
Agora o destino é a fronteira. A paisagem tem sido sempre meio desértica. Ao passar em Saltillo e Monterrey ainda era relativamente cedo e pensei que seria de ir continuando em direcção à fronteira, Nuevo Laredo. Iria chegar já ao anoitecer mas talvez fosse possível. Mas ao passar em Sabinas Hidalgo entrei na cidade, vi um hotel e resolvi ficar.
Cheguei a Nuevo Laredo, na fronteira, por volta da meia hora da tarde.

Pelo caminho ia pensando o que deveria fazer. Se ficar do lado mexicano ou atravessar a fronteira e ficar em Laredo. O Lou tinha-me dito para cruzar.
Depois de almoçar dirigi-me à fronteira. Fui tratar de dar saída do México e tive de pagar uma taxa de turismo que não tinha pago na entrada. Só depois me carimbaram o passaporte.
Quando fui à alfândega para entregar o documento de importação temporária a sujeita disse que tinha de levar lá a moto. A moto estava do outro lado do parque de estacionamento e tinha de voltar atrás para dar uma grande volta. Achei que não valia a pena entregar o papel. Um indivíduo ainda me disse que poderia entregá-lo no consulado em Austin. Depois verei.
Estive quase uma hora numa bicha para poder preencher o formulário de entrada. Quando me perguntaram para onde ia eu disse que iria andar por muitos sítios mas disseram-me que tinha de dar uma direcção específica. Tive de ir à moto buscar a direcção do Lou para me darem a autorização de entrada. Sem uma direcção não me deixariam entrar e se o funcionário resolvesse que não entrava nem adiantava apelar para o presidente. Não entrava e pronto!
Mas já estou na terra dos “camones”.
Fiquei logo na cidade. Já não daria para chegar a Buda.

Nestes últimos dias tem-se falado muito na gripe dos porcos. O surto epidémico teve início, segundo dizem, no estado de Vera Cruz. Há casos nos E.U. e Canadá de jovens que estiveram de férias no México.
Para tentar suster o avanço da doença o governo tem tomado medidas restritivas quanto a aglomerações de pessoas. As escolas têm estado fechadas, pelo menos até meio da próxima semana, os espectáculos públicos têm sido cancelados, já houve jogos de futebol que foram jogados à porta fechada e a próxima jornada também o será. Uma feira internacional que se deveria realizar em Águas Calientes também foi cancelada. São tudo tentativas para reduzir as aglomerações de pessoas e evitar o contágio. Esperemos que resulte!
Quanto a mim vou continuando bem e procurando fugir do vírus.
Apenas mais umas palavras sobre a segurança que também li e ouvi que não era das melhores. O que posso dizer é que não vi nem senti grande diferença de outros países por onde já passei. Há bastantes controlos de polícia e do exército ao longo da estrada. A mim mandaram-me parar duas vezes e só numa é que quiseram revistar as coisas mas depois de abrir a mochila e o saco da tenda não quiseram ver mais.
Recordo o que disse na última nota. Um rapaz canadiano disse que o autocarro em viajava foi assaltado. Também leio e vejo na televisão o que vai acontecendo. Há muitos problemas e falta de trabalho e as coisas acontecem. Infelizmente não é só aqui.
Mesmo em termos de condução não senti problemas nem vi nada demais. Sempre me respeitaram e apenas duas vezes me senti um pouco mais apertado na estrada, mas tirando isso a gente é simpática e muitos me saudavam.
O México é muito grande e merecia uma visita mais demorada mas desta vez não pôde ser.

Laredo, N 27º 32,912’ W 99º 30,294'

quarta-feira, abril 22, 2009

Acapulco, cidade de turistas

Ao sair de Piste ia com a ideia visitar as ruínas de Uxmal ao passar nessa aldeia. Em Chichen Itzá um sujeito havia-me dito que seriam interessantes e talvez mais bem conservadas.
O problema foi que quando cheguei era uma da tarde e fazia muito calor. Procurei um hotel onde deixar a moto e as coisas e dormir à noite. Fazer uma visita com as botas e calças de andar de moto seria uma tortura. Os preços que encontrei levaram-me a desistir da ideia e a continuar.
Se calhar seriam só mais umas ruínas!
Uns dez quilómetros mais à frente havia uma outra aldeia e ainda procurei mais uma vez um hotel ou outra coisa mas os preços eram altos demais para o meu orçamento.
Continuei para Campeche, capital do estado com o mesmo nome.
Por aqui os preços já eram mais acessíveis e arranjei um hostal sem lugar para guardar a moto. Tive de a deixar num parque de estacionamento numa rua ao lado. Compensava o preço total pago em relação ao dos hotéis.
O empregado ainda disse que podia ficar na rua que não haveria problema, mas eu disse que não ficava tranquilo. Já tinha havido outros que deixaram as motos na rua. Eu ainda disse que se fossem duas motos e ficassem as duas amarradas uma à outra, talvez! Assim não.
A cidade ainda mantém uma grande parte de um antigo forte, bem conservado.
Há alguma animação nocturna pois o calor mantém-se durante muito tempo.
Ao final da tarde estive um pouco na conversa com um rapaz canadiano, o Antoine, que me disse ter sido assaltado, num autocarro, quando seguia de Palenque para San Cristobal. Uns bandidos fizeram parar o autocarro e roubaram o dinheiro das pessoas e a ele também uma máquina fotográfica. Em plena luz do dia.
Na saída para Villahermosa, a polícia mandou-me parar. Só me pediram os documentos e deixaram-me seguir mas ouvi um dos guardas falar em euros, como se quisesse que o que me estava a fiscalizar me pedisse dinheiro. Mas era um rapaz novo e ainda não teria ganho a manha para pedir um suborno. Ainda bem.
Durante muitos quilómetros a estrada seguiu ao longo da costa. Era muito bonito.
Mais tarde foi para o interior e era uma zona de floresta mas muito escassa. Mais tarde apareceu uma zona com muitos espaços cobertos de água.

Ao passar em Villahermosa ainda pensei ficar por aí mas enquanto atravessava a cidade não vi nenhum hotel e fui seguindo.
Já perto de Teapa havia enormes campos de bananeiras. Aqui encontrei uma pequena hospedaje em que o quarto parece uma chocadeira. Até as paredes queimam. Tem estado um calor terrível, bem acima dos 35 ou 40 graus.
Depois de sair de Teapa a estrada entra numa zona de montanha. Não dá para andar muito mas é interessante, sempre curvas e contracurvas. O pior é a névoa provocada pelos incêndios que não deixa ver a paisagem em condições.
Ao chegar a Tapanatepec já ao fim da tarde fiquei numa hospedagem à face da estrada.
Foi um dia sem história. Depois de sair da zona de montanha a estrada passa a seguir por zonas muito secas. Em muitos lugares as pontes estão sobre rios secos.
Apenas um ou outro leva água e pouca.
O Lou tinha-me dito que a estrada ao longo da costa a partir de Puerto Angel era interessante mas para já, uns 60 quilómetros depois em Puerto Escondido, ainda não vi nada especial. É certo que tem mais verdura nalguns pontos.
Talvez tenha de entrar nalgumas estradas que vão mesmo até às praias, mas não estou para isso.
Em Puerto Escondido há uma pequena praia. Como era fim-de-semana estava superlotada. Andei um pouco ao longo da costa num passadiço feito no meio das rochas e dava para apreciar as pequenas baías que havia por ali.
Acapulco fica na rota que levo e pensei ficar ali um dia para ver como era este famoso ponto turístico.
Ao entrar na cidade fui seguindo para o centro e para a zona costeira.
O trânsito é infernal. Os carros e autocarros metem-se por todo o lado tentando furar para arranjar o melhor lugar nos cruzamentos. Muitos dos táxis, talvez a maioria, são os antigos carochas.
Perguntei onde haveria hotéis que não fossem caros e indicaram-me uma zona junto do mar.
Mesmo ali ao pé fica a praia e o porto dos barcos que fazem viagens turísticas ao longo da costa.
Tudo está virado par o turismo. Até quando fui ver “La Quebrada”, uma zona mais alta junto ao mar, me queriam cobrar 35 pesos só para poder descer lá abaixo até ao mar. Aquilo não me pareceu ter nada de especial para quererem cobrar esse dinheiro, mas não era só eu pois também ouvi outras pessoas a dizer que não deviam cobrar nada.
Há muitos barcos para levar turistas a ver o fundo do mar mas quase não há turistas para os encherem.
As praias estão quase desertas. A época de férias da Páscoa já passou.
Não consegui descobrir porque se tornou Acapulco um centro turístico tão conhecido e afamado. Eu não sou um turista normal e talvez por isso não consigo achar esse encanto na cidade.
Chegou um daqueles enormes navios de cruzeiro à cidade. Mais turistas para ver se alguns dos barcos pequenos vão fazer umas voltas pela costa.
Há muitos barcos para levar turistas a ver o fundo do mar mas quase não há turistas para os encherem.
As praias estão quase desertas. A época de férias da Páscoa já passou.
Não consegui descobrir porque se tornou Acapulco um centro turístico tão conhecido e afamado. Eu não sou um turista normal e talvez por isso não consigo achar esse encanto na cidade.
Chegou um daqueles enormes navios de cruzeiro à cidade. Mais turistas para ver se alguns dos barcos pequenos vão fazer umas voltas pela costa. Agora tenho andado mais quilómetros por dia pois ainda tenho muitos pela frente até chegar aos Estados Unidos, onde quero ver se entro no dia um ou dois de Maio. A seguir vou até Buda, Texas, para visitar um amigo e ficar durante uma semana.
Depois começar a cruzar para oeste e norte.

Acapulco, N 16º 50,838’ W 90º 54,668'

terça-feira, abril 14, 2009

México, na península de Yucatán

Pensei que seria uma boa ideia contornar o lago Atitlán apesar do fumo que não deixava ver grande coisa do lago. Talvez nalgum ponto houvesse mais visibilidade. Agora o objectivo seria ir visitar Tikal, ruínas de uma antiga cidade maya.
Arranquei e logo a seguir tive de encostar numa sombra e esperar que uma procissão acabasse para poder seguir.
A estrada sobe e desce à volta do lago mas nunca dava para ver pois a neblina era constante.
Perto de San Pedro a estrada de asfalto acabou e começou a terra. Numa subida com muito pó e pedras não consegui evitar que a moto me caísse para o lado direito. O pior foi que as rodas ficaram para a parte de cima. Depois de desmontar toda a equipagem consegui levantar a moto e levá-la até uma parte mais plana. Tive de voltar atrás para transportar tudo e montar outra vez. Foram apenas uns cinco quilómetros de terra mas suficientes para cair. Será a falta de treino de há bastante tempo não andar na terra.
Finalmente a estrada subiu até aos 2.600 metros e entrou numa zona mesmo fresca. Bem precisava. Tem feito um calor abrasador, salvo pequenos pontos onde se sobe mais. A subida era mesmo a subir. Em poucos quilómetros passei dos 1.500 para os 2.600 metros e era preciso ir muitas vezes em primeira.
Quando cheguei à estrada principal parei para comer. Num pequeno restaurante estavam dois guatemaltecos, o Aldo Vielman e o Luis Gonzalez, que começaram a falar comigo sobre o costume. No final um deles deu-me o endereço de internet e o telefone para o caso de necessitar de alguma coisa. Acabou por pagar-me a comida.
Na estrada para Chichicastenango havia subidas e descidas que faziam arrepiar. A inclinação era brutal e havia muitos ganchos para a direita e para a esquerda. Mas depois de passar essa cidade continuava e se calhar ainda pior.
Acabei por ficar em Sacapulas pois já eram cinco da tarde e como vi uma hospedaje que não era cara achei que era melhor parar.

No dia seguinte ao atestar soube que tinha havido um deslizamento de terras e seria quase impossível seguir pela estrada que estava a pensar.
Teria de dar uma volta por uma estrada secundária ou regressar à capital e seguir por esse lado.
Tentei a primeira hipóteses mas quando entrei nessa secundária os buracos no asfalto eram mais que muitos. Ainda subi uns quilómetros e parei num miradouro. Perguntei a algumas pessoas como era a estrada mais para a frente e disseram-me que ainda estava pior e haveria muitas dezenas de quilómetros de terra. A terra não seria o problema o pior eram os buracos enormes nas curvas e nas rectas.
Enquanto ia descendo em direcção à estrada principal ia pensando se devia seguir para o México ou ir visitar Tikal.
Todos me dizem que não devo perder Tikal e a região de Petén. Assim, tenho de lá ir.
Volto para trás em direcção à cidade de Guatemala mas fico novamente em Antigua. Já conhecia e era o final da tarde.
Domingo de ramos. Uma procissão andou desde as onze da manhã até às nove da noite pelas ruas da cidade. Não deverá ter falhado uma.
Arranquei para Tikal. Ao passar na cidade de Guatemala não dei com o desvio para evitar a cidade e tive de ir pelo periférico, o que foi uma grande seca. Muito trânsito e sempre no pára arranca nos semáforos, debaixo de um calor insuportável.
Estou sempre a falar no calor mas é verdade. Sempre muito calor.
Segui a estrada principal até Cobán. Aqui fui por uma secundária que era boa e seriam menos oitenta quilómetros. Fiquei em Chisec num pequeno hotel.
Durante a noite choveu que se fartou. Pensei que continuaria durante a manhã mas parou.
Os primeiros quilómetros decorreram no meio da selva tropical e numa zona montanhosa, bonito. Depois veio a planície e tornou-se monótono. Sempre alguma verdura mas rasteira.
Na cidade de Sayaxché foi preciso atravessar um rio de barco.
Cheguei a Flores ainda era cedo e fui para o Parque Nacional Tikal. Sabia que haveria onde acampar.
Quando cheguei ao parque falaram-me dos preços dos hotéis e resolvi mesmo acampar.
Manhã cedo fui visitar as ruínas. Andei por ali um pedaço e fiquei na mesma. Eram umas ruínas diferentes de outras que já vi mas não achei assim tão espectaculares como pensei que iria encontrar. Num dos templos subi até lá cima e fazia impressão. Nos tempos dos mayas deveria ser assustador ver aquelas escadas com gente.

No lago Peten Itza parei para almoçar e tirar umas fotografias. Não se vê muito do lago mas é mais um lago.
Continuei para sul para tentar chegar perto da fronteira e atravessar no dia seguinte.
Não estava com vontade de entrar no Belize para chegar a Chichen Itza, uma das sete maravilhas do mundo, pois tinham-me dito que cobravam umas taxas altas só para entrar no país e não havia nada especial para visitar.
No mapa havia uma estrada que cruzava para o México a meio caminho para sul e resolvi seguir por aí. Um casal que tinha conhecido em Sacapulas tinha-me dito que entraram na Guatemala por aí. Havia um rio para passar de barco mas dava para passar.
Quando cheguei a Bethel não encontrei onde ficar. O hotel que havia estava fechado. Voltei atrás às “Migraciones” para dar saída do país. Não há alfândega e não dei saída da moto. Fui até La Técnica, pequeno povoado fronteiriço, para cruzar o rio e a fronteira.
O problema é que não havia nenhuma barcaça grande para transportar carros ou coisas do género. Apenas umas canoas que transportavam gente e algumas mercadorias. Além disso as margens ficavam altas em relação ao rio. Foi preciso ir mais à frente onde havia uma praia onde foi possível carregar a moto numa canoa, com a ajuda de um homem que me guiou até lá.
Quando iniciámos a travessia do rio vi que só ia um rapaz novo de uns quinze anos, a guiar o barco, e um miúdo de uns dez, além de mim. Como vamos descarregar a moto?, pensei.
Entretanto a noite estava a cair.
Na praia do outro lado não havia ninguém à nossa espera. Foi preciso pedir ajuda a um sujeito que estava lá e a umas mulheres para conseguirmos sacar a moto da canoa para a areia.
Depois de cair uma vez na areia, já era noite, consegui subir a margem e entrar na aldeia mexicana, La Frontera Corozal. O serviço de migrações já estava fechado e fui procurar onde dormir. Os dois hotéis que havia estavam cheios. Tive de acampar no terreno de um deles.
Na manhã seguinte fui ao serviço de migrações para carimbar o passaporte e perguntei onde havia um posto de alfândega para dar entrada da moto. Só para sul ou para norte mas a centenas de quilómetros. Ainda tinha pensado ficar ali mais um dia mas achei que era melhor legalizar a situação e segui para as bandas de Yucatán, onde fica Chichen Itza.
Sempre com o pensamento de que a polícia me poderia fazer paragem fui em direcção a Palenque, a primeira grande cidade. Não havia alfândega e tive de continuar. Primeiro arranjei um mapa, pois sentia-me perdido.
A estrada foi atravessando uma região, Chiapas, onde havia pequenas elevações com uma floresta muito escassa. Havia muito gado ao longo de todo o percurso.
O calor também se fazia sentir muito forte.
O pior foi quando cheguei a Chetumal. Como era sexta-feira santa alfândega estava a fechar quando cheguei, eram duas e pouco da tarde. A funcionária não queria fazer a importação da moto pois eu não tinha fotocópias dos documentos e não havia onde as tirar. Estava tudo fechado. Dizia-me para voltar no sábado de manhã.
Quando já estava para ir embora um funcionário de um outro serviço arranjou-me as fotocópias e voltei outra vez à alfândega. A senhora não queria fazer o documento e eu dizia que não queira voltar ali. Por fim fez-me o papel, eu agradeci e fui procurar onde dormir.
Afinal tive de voltar à alfândega pois havia um erro no documento. Quando a senhora me viu começou logo a dizer que não mas eu disse que havia um erro e ela teve de corrigir. Um pouco contra vontade, pareceu-me, mas fê-lo.
Apesar da cidade estar à beira mar o calor não abranda, mesmo o vento que sopra do mar é quente.
Ainda pensei ir a Cancun, até parece verdade, mas como deve ser uma cidade com demasiados hotéis para turistas e sem nada interessante resolvi ir directo para Chichen Itza. Para ver a tal “Maravilha do Mundo”, só espero que não seja como Machu Pichu.
Fui procurar um hotel e quase ficava paralisado de susto. 1.060 pesos, uns 60 euros, foi o preço que me pediram por um quarto e por estar em promoção. Por ali havia mais hotéis mas os preços seriam semelhantes, disse a recepcionista. Mas também me disse que na aldeia mais à frente haveria preços mais em conta, cerca de 500. Já era metade mas mesmo assim ainda era muito. Ao entrar na povoação vi dois hotéis mas pareceram-me dos tais de 500 pesos e fui seguindo. Mais à frente vi uma “Posada” e fui ver. Eram só 200 pesos, 11,50 euros, por noite. Assim já está bem!



As ruínas de “Chichén Itzá” foram eleitas como uma das novas sete maravilhas do mundo. Eu devo andar com os meus sentidos de apreciação das coisas um pouco adormecidos. Não achei as ruínas nada de especial ou diferente para ter uma tal categoria, se calhar por causa do sol e do calor que se sentia.
Andei por lá toda a manhã e vi que as construções são imponentes mas… não sei. Não tenho conhecimentos de arquitectura ou história dos povos para ajuizar.
À hora que eu estava a sair é que estavam a entrar os grupos de visitantes. Nem imagino o que será andar por ali durante a tarde, se de manhã já era um calor sufocante.
Agora já começa a ser hora de virar os cavalos para norte, até para fugir do calor.

Piste, Chichen Itza, N 20º 41,867’ W 88º 35,233’