quinta-feira, novembro 06, 2008

Em Lima à espera da carta

Queria visitar o “cañon del Colca” pois tinha lido que era o segundo mais profundo do mundo.
A estrada de Arequipa até Chivay, de onde sai uma estrada que acompanha o rio durante uns quilómetros, é de bom asfalto mas tem um movimento grande de camiões. É a ligação para Puno e Cusco e além disso passa numa região mineira.
Sempre num sobe e desce a parte final vai mesmo até quase aos 4.900 metros de altitude para depois baixar até aos 3.600 de Chivay.
Para entrar na cidade tive de pagar um bilhete que dava acesso ao desfiladeiro. Nesta ocasião apareceu um sujeito que me pediu para tirar umas fotos à moto e em especial às malas.
Disse-me depois que era o pároco da aldeia e que anda a pensar fazer uma viagem pelo Peru na sua moto mas queria arranjar umas malas do género das minhas.
Perguntei-lhe então se conhecia algum hostal com lugar para guardar a moto e ele disse que podia ficar no centro paroquial, lá havia espaço. O padre Mário levou-me ao centro paroquial e apresentou-me ao pai, o senhor Jorge. Era um espaço agradável.
No início, poucos quilómetros, a estrada é de asfalto e o barranco do Colca não é tão impressionante como imaginava. Tem muitos socalcos nas margens trabalhados pelos agricultores.

Mais à frente, já na terra, há alguns miradouros e o desfiladeiro começa a ser mais profundo. Perto de Cabanaconde era onde me pareceu o ponto mais alto. Aí vi, penso eu, dois condores mas estavam a voar tão alto que eram muitos pequenos.
Até esta zona a estrada ainda era mais ou menos mas depois ficou mais estreita e com muita pedra. Também foi a partir daqui que a estrada começou a afastar-se do rio, indo mais para o interior das montanhas. Mais uma vez sobe e desce até que num ponto havia uma bifurcação e meti para o lado que descia, pois a cidade de Huambo seria num ponto mais baixo. Por sorte vinha um camião em sentido contrário e perguntei se ia bem.
Não, disse o condutor, é pela outra estrada. E agora?, pensei eu. Dar a volta neste caminho estreito e a descer vai ser uma trabalheira. É que via que era sempre assim. Mas consegui ao fim de uns metros encontrar um ponto mais largo e depois de meia dúzia de vezes à frente e atrás, quase a cair, lá dei a volta e entrei na outra estrada.
A partir de Huambo a estrada melhora um pouco mas ainda volta a subir aos 4.200 metros para depois descer até aos 1.300 já próximo da Panamericana asfaltada.
Sempre no deserto fui até Nasca para ver as famosas linhas. A estrada vai quase sempre perto do mar e nalguns sítios o vento era forte e enchia a estrada de areia.

Até foi preciso duas máquinas andarem a limpar a estrada, mesmo assim para passar ainda abanei um pouco. Parei um pouco longe. Havia muita areia no ar e podia estragar a máquina.

Nasca é uma cidade sem nenhum interesse. Apenas serve de ponto de estadia para quem quer ir ver as linhas, penso eu. Comprei um bilhete numa agência e no dia seguinte levaram-me ao aeroporto. Aí vi que seria possível ir até lá e comprar directamente o bilhete numa das muitas companhias que fazem os voos.
O avião leva cinco passageiros mais o piloto e é meio acanhado. Não íamos apertados mas o espaço não era muito. Com um casal de canadianos e outro de espanhóis lá fui eu ver as linhas.Quando o avião levantou ainda foi mais ou menos mas depois parecia uma folha ao sabor do vento. Abanava e tremia que fazia impressão. Ao aproximar-se das figuras o piloto dizia: aqui está o astronauta.

Dava uma volta à figura com o avião todo inclinado e seguia para a seguinte. Mais outra figura e mais outra volta. Aquelas voltas até me metiam medo. O avião todo inclinado e uma grande pressão na cabeça e no estômago.
As figuras viam-se razoavelmente bem mas para tirar uma foto era um problema pois nem dava tempo a firmar a máquina.
Eu sei que o avião não pode parar no ar para se poder apreciar bem as figuras, mas foi sempre a dar gás.

Continuei para Lima que é uma cidade enorme ou melhor um conjunto de cidades.


Vou ter de ficar por aqui umas semanas parado enquanto espero que me chegue a licença internacional de condução. Até agora nas vezes que a polícia me tinha mandado parar nunca ma tinham pedido mas no Peru já ma pediram, depois de caducar a que tinha. Felizmente o polícia não me multou.
Aqui no Peru há polícia por todo o lado e na estrada é o mesmo. Nos outros países por onde andei até agora nunca tinha visto tantos polícias.

Lima, S 12º 02,774’ W 77º 01,629’

9 comentários:

Anónimo disse...

Ora viva!

Estas crónicas tem um duplo efeito: 1º ficamos a conhecer lugares que nem sabiamos que existiam! por isso continua a escrever se fazes o favor. 2º provocam uma certa "inveja" e uma vontade enorme de partir já hoje!

Quanto à carta, tens tempo, espera e aproveita para conhecer a zona onde te encontras.

Se me saír o euromilhões eu levo-te a carta pessoalmente, assim é mais rápido!!!!

Um grande abraço amigo e que tudo te continue a correr bem.

Pimenta

Anónimo disse...

boas tio tone!!! aquele desfiladeiro é qualquer coisa de espetacular... por cá a avó esta cheia de saudades e o trofense ja conseguiu ganhar o seu primeiro jogo contra o setubal apos 7 jogos, vamos em antepenultimo...

espero te ver daqui a um ano, volta rapido que aqui as saudades e a inveja apertam...

beijos e abraços
nuno, joana, chico e rui

Anónimo disse...

Umas semanas parado? Vais ficar umas semanas parado?

E não te vai dar nenhuma filoxera, Queirós?
Aproveita e goza então. Essas fotos que mandas são de partir a moca. É cada deserto junto à praia, sãos os desfiladeiros, são esses desenhos gigantescos feitos sabe-se lá como...

Grande abraço
Nestes

Anónimo disse...

Caro Queirós, essa de teres de ficar por Lima umas semanas à espera da Carta de Condução Internacional cheira-me a desculpa...
Será que a Índia já apareceu?
Estou mesmo a ver que nas próximas fotos já vais aparecer a tocar flauta e de barrete de lã enfiado na cabeça...
Vê lá mas é se te divertes e não te esqueças de mandar convite para o casório.

Um abraço

PS. Diz ao Pimenta para se pôr na fila para o Aeromilhões porque eu cheguei primeiro.

Mustafá

fernando_vilarinho disse...

Viva Queirós, depois de um ano com tantas andanças mereces bem um tempo de descanso.

Vai ser difícil bater o record do guiness da maior banda desenhada, mas cá em Portugal, e com a ajuda do portátil Magalhães já estamos a trabalhar para bater a BD de Nazca. Vai ser algures no deserto alentejano!! ;)

alegra-te, daqui a uns tempos passas de novo para o hemisfério norte, vais deixar os 'mouros' do sul ;)

Boa estadia e bons assados de perú,

Anónimo disse...

... a Carta.. chega ou não chega ?!?!?!

Vai andando de lhama e mascando umas folhas de coca !!!
abraço
J.

Anónimo disse...

Não me impressionei c/ o canyou del colca.gostei mais do caminho que vai até la.Em chivay tem termas naturais.e tambem onde começa o primeiro curso d/agua que é o primeiro formador do Rio Amazonas.e tambem outro curso dágua que vai ao oceano pacifico .
Voltaste para a panamericana por uma estrada que quase não passa ninguem.Es corajoso ,em caso de pane seria dificilimo.
De Nazca p/ Lima não conheço.
EQUADOR E COLOMBIA .é muito bonito
voçe não pode perder.
Abraços .
ZANETTI.

Anónimo disse...

Olá Tone, estou a ver que continuas em grande forma.
Tens fotografias espectaculares, que para mim até fico arrepiada só de ver, imagina se tivesse de passar por aí.
Aproveita para descansar uns dias enquanto esperas pela licença.
Beijos e abraços da familía Pinheiro

Anónimo disse...

Alô!!??
Han visto el Señor António Queirós?
Es un tio que va en moto y habla portunhol...
Se ha quedado a reposar en Lima y aún non a dado notícias.
Se cree que ha cogido una índia y se olvidou de los amigos que esperan sus reportes de viaje...
Alô, alô!?

Mustafá