segunda-feira, maio 12, 2008

Após o Chile de novo a Argentina, mais a norte

O deserto de Atacama era um dos pontos que queria visitar. A estrada de Copiapó até Diego del Almagro é de asfalto bom e vai subindo até aos dois mil metros.
Realmente apenas se vê terra seca e rocha ao longo de quase cem quilómetros. Há algumas minas que se vêem da estrada e outras ficam por trás da montanha.

Em Diego de Almagro havia cortes na estrada e tive de utilizar uma antiga via férrea para contornar os obstáculos. Os mineiros estão há bastante tempo a reivindicar melhores salários e condições de trabalho. Sempre o velho problema.

A subida para El Salvador mostrava um vale espectacular, com a estrutura de apoio a uma mina e os vagões do comboio que não circula.

Quando iniciava a procura de lugar para ficar um casal de motociclistas ajudou-me e guiou-me nessa procura. Obrigado Victor e Carolina.
Perguntei a um carabinero se se podia subir até ao Paso de San Francisco e ele disse que sim que não havia neve. Ao lado um sujeito ouviu e deu-me algumas informações.

Tive de arranjar um bidão, com 6 litros, para poder chegar até ao primeiro ponto de abastecimento na Argentina pois são quatrocentos e cinquenta quilómetros pela montanha sem gasolina.
O depósito da moto dá, normalmente, para uns trezentos e cinquenta quilómetros e tinham-me dito que a grandes altitudes o consumo era maior. Não sei porque é que a nova Transalp de 2008 tem um depósito mais pequeno e ainda é mais pesada. Havia de ter um depósito de uns vinte e cinco litros e ser mais leve. Certamente a Honda não quer que se utilize este novo modelo para viajar.
Logo à saída de El Salvador mais um corte na estrada. Foi preciso dar a volta e atravessar os terrenos de uma empresa mineira.
Muitas curvas e curvinhas numa estrada que ao fim de uns quarenta quilómetros passou a terra batida e sempre a subir. De vez em quando descia um pouco mas voltava a subir. A certa altura cruzou-se comigo um jipe e o condutor parou para conversar um pouco. Aproveitei para perguntar como estava a estrada.

Mais à frente estava a estrada internacional que vinha de Copiapó, também de terra batida mas endurecida com sal. Parecia cimento, só que de vez em quando estava partida e aparecia cascalho.
A moto comportava-se lindamente, sem falhar e sempre a responder à aceleração quando era preciso.
Na alfândega chilena, a cem quilómetros da fronteira, tive de vestir o forro interior do blusão e as calças impermeáveis pois estava a ficar mais frio. Com esse esforço fiquei ofegante devido à altitude a que estava, já nos quatro mil metros.
Nos 4.500 metros apareceu alguma neve nas bermas e comecei a pensar se mais acima ainda haveria mais. Felizmente não.


Quando parava para fazer alguma foto e tinha de dar alguns passos ia muito devagar mas mesmo assim ficava com falta de ar.
A moto esteve impecável na subida para o “Paso de San Francisco” a 4.726 metros de altitude. No meu GPS indicava 4.765 metros. A moto respondia bem e não falhava. Pensei que ia sentir alguma falta de potência mas não. Uma máquina!


Do lado argentino a estrada era de asfalto e ia descendo muito lentamente.
Tanto de um lado como de outro a paisagem é muito seca, só pedras e terra seca. Vê-se alguma erva mas apenas junto a um ou outro fio de água que vem da neve.


Fiquei em Fiambalá pois já estava a escurecer e a gasolina a acabar. Afinal o consumo manteve-se dentro do normal, cerca de 4,7 l/100 kms. Talvez o vento que desta vez soprava a favor tenha ajudado.
Tentei ir ver as dunas de Sanjul mas não encontrei o caminho. Não havia indicações e como era a hora da siesta não havia a quem perguntar.

A região desértica mantém-se deste lado da cordilheira. Depois de Tinogasta a estrada ainda acompanhava um rio durante algum tempo, mas é tudo muito seco.
Cheguei a Belen um pouco cedo mas achei que já poderia estacionar. É uma cidade pequena e sem grandes pontos de interesse, pelo menos não encontrei nada especial.

Nos noticiários tem aparecido que as cinzas do vulcão Chaiten, no Chile, estão a começar a atingir algumas cidades na Argentina. Este vulcão entrou em actividade há uns dias e foi preciso evacuar milhares de pessoas na região.
Quando passei por lá há algum tempo nada faria prever uma erupção. Por um lado ainda bem que nada aconteceu, mas por outro até gostaria de ter estado por lá para ver como são as tais cinzas. Também em Futaleufú, onde estive, as cinzas obrigaram à evacuação das pessoas.
Um vale muito bonito com um rio, o Salado, era o trajecto na saída de Belen. Fui seguindo para norte e a estrada segue num vale meio seco.
Fui visitar as ruínas de Quilmes, cidade sagrada para este povo. Apenas se vê a base das casas e das paredes que compunham a aldeia. Um panfleto informa que há um conflito para que os descendentes dos quilmes recuperem a sua cidade sagrada.

Em Cafayate fiquei no camping municipal Loro Huasi.
Há um grupo de holandeses, todos já de certa idade, que estão em autocaravanas. Também andam a visitar o país. São 9 casais.
Fui ver as cascatas do rio Colorado. Foram perto de três quilómetros até uma queda de água com dez metros de altura. O trilho era muito irregular e foi preciso atravessar o rio, pouco mais que um fio de água, várias vezes. Subia-se dos 1.800 aos 2.000 metros por um vale entre paredes altas e de vez em quando era preciso usar as mãos para poder trepar as rochas.
Havia muitos cactos pelo vale acima.


Km 13487, Cafayate, S 26º 04,840’ W 65º 58,583’

11 comentários:

Anónimo disse...

Então, meu irmão estás com bom aspecto, mas realmente esse trajeto é um deserto.
Nós hoje, vamos para Fátima e rezar para que a tua viagem continue a correr bem.
Um beijo da Inês

Anónimo disse...

Grande Queirós, sempre a rolar e com bons consumos, eh,eh.
Adorei a tua foto com o simbolo do MCP. Continua a descobrir um mundo maravilhoso com a ajuda da tua fiel moto, e a dar a conhecer o nosso estimado Motoclube por esses bandas. Um grande abraço. Valente

Anónimo disse...

Boas,
Ainda bem que tudo continua a correr bem. Até já dá para ver o logo do MCP em relevo, alto-relevo...,:-)

Anónimo disse...

Caro Queirós fico satisfeito por te saber bem.

Acabo de regressar de Marrocos onde organizei o primeiro Encontro Horizons Unlimited.

Só de pensar no tempo que levas na estrada dá-me uma pena imensa de não te poder acompanhar.

Estive lá com o Gonçalo Mata, o Fonseca,a Anatilde, o Carlos Almeida e o Paulo Leite.

Muito gostaria de ter tido lá a apresentares a tua viagem.

Espero que tudo te continue a correr de feição.

Um grande abraço

Caldeira

Anónimo disse...

O Trofense já está na 1º divisão e foi 1º no campeonato....Parabens.
Força...e bota prá frente.

Graciano Albuquerque

fernando_vilarinho disse...

E o Rio Ave tb está na 1ª divisão. E está 3 vezes!! Pelo Rio Ave F.C. e pelas terras onde passa o rio: Guimarães e Trofa. O Vale do Ave é a capital do Futebol nacional - deixou de ser a 2º circular ou a Invicta (Ai Boavista!)!

Queirós, a 4765m estás à altura do Monte Branco! E aí, devido à secura e baixas pressões o ar ainda é mais rarefeito. Aí 4765m equivale na Europa, pelos meus cálculos (ora deixa ver : 10% do PIB são..), a perto de 5300 metros! Não devo estar muito fora do valor exacto.


Já passaste por tantas greves e manifestaçoes que vai ser recebido na Venezuela e na Bolivia como um heroi nacional! Tás um autêntico sindicalista encartado!

Tem piada, que da outa vez passastes atrasado em relação à erupção, e agora passaste adiantado. Tens e acertar o relógio vulcânico que te dei!

Abraço e continuação de Óptima Viagem,
fernando

Paulinha disse...

Olá Tio!

Estou muito contente por saber que continuas bem e que a tua menina não te deixa ficar mal! Nem imaginas as cerejas divinas que andas a perder. A cerejeira este ano esmerou-se! Há tanta cerejinha boa!!! Ou então ha mais porque tu não andas la a penica-la! ehe.. Os dias na Trofa são de festa, como sabes o Trofense subiu à primeira liga e é Campeão!
Tu também o és... por isso continua a viagem! Ainda não temos cachecois com o teu nome, mas sempre que nos escreves é dia de festa!

Beijinhos

Paulinha

JFAlves disse...

Olá grande passeador António.q ;-),

Realmente, estes teus feitos são uma verdadeira demonstração das capacidades da Transalp.
Pena que os tipos da Honda não te tenham visto antes e tenham adaptado o novo modelo a uma utilização muita mais citadina...
Como curiosidade, qual é a velocidade de cruzeiro que usas para conseguir consumos dessa ordem, mesmo em estradas de montanha a tão grande altitude?
Abraço,
TransAlves

Anónimo disse...

Grande Queiros. Se avistares uma águia dos Andes, não perca a oportunidade de fotografá-la. Percorrer essa região é uma epopéia dantina. Vai firme que a América é tua.

cancruz disse...

Olá Tone

Já há muito que não escrevia mas continua a seguir com prazer e orgulho a tua aventura (e um pouquinho de inveja, vá lá...). Não imaginava a altitude a que consegues rolar! Não te dá vertigens?
Um abraço
Cândido

Anónimo disse...

Olá Tone! Grande coragem... só... pelo meio do deserto... do pó! Tu realmente não existes! És demais! Se não existisses tinhas de ser inventado! Não páras! Sempre a rolar...! Enfim, continuas a surpreender-nos cada dia que passa!
Cada vez mais gente vai tendo conhecimento da tua aventura e a interessar-se por ela. Já és um HERÓI! O nosso HERÓI! Vai em frente e aproveita porque quando regressares verás que por aqui as coisas estão cada vez piores! Crise! Desemprego...! Mas nós estamos todos bem! Incluindo a tua DETINHA!
Beijinhos
Belacruz