sexta-feira, maio 02, 2008

Ao longo do Pacífico, no Chile

Antes de sair de Papudo achei que seria melhor seguir por uma estrada secundária em vez da Ruta 5, auto-estrada.
O tempo estava muito incerto, quase a ameaçar chuva. Ir pelo interior em vez de seguir junto da costa poderia não ser bom por causa das nuvens a baixa altitude. Felizmente estava mais aberto.
La Ligua e Cabildo foram as primeiras povoações, já não sei se são cidades ou não, que passei. A estrada ainda era de asfalto e seguia por um vale verdejante no meio de pequenas montanhas com pouca vegetação.
Depois passou a estrada de terra batida, não era rípio, e começou a subir e descer as encostas. Também se tornou mais estreita e nalguns pontos parecia mesmo um caminho onde só caberia um carro. Por duas ou três vezes estive quase a cair por causa do muito pó que havia no caminho. Não era no ar mas sim no chão! Era escorregadio como lama. Já me disseram há tempos que na Bolívia há estradas que chegam a ter mais de um palmo de pó.

Pouco antes de Las Palmas havia alguns quilómetros de asfalto que acabavam à saída de um túnel com cerca de um quilómetro e voltava o caminho de terra. A descida até Quilimari era por um vale com muita secura. Mas não deixava de ser bonito. Até uma barragem estava seca.

Voltei à Ruta 5 por alguns quilómetros para em los Villos sair em direcção Illapel.A estrada subia e descia uma montanha mas infelizmente estava nevoeiro não deixava ver grandemente a paisagem. A tarde estava a meio e achei que era melhor voltar à Ruta 5 e segui por Tunga e Mincha. Aqui atestei e tentei saber onde haveria algum sítio para arranjar onde dormir.


Só em Tongoy, a 120 quilómetros, poderia arranjar onde comer e dormir. Por estes lados as distâncias são grandes e não há muitas cidades.
Já passava das cinco da tarde e pensei que não valia a pena pensar duas vezes. Os dias cada vez são mais curtos, ainda mais indo para norte. Eram sete e meia quando cheguei, já a noite tinha caído. Mas à entrada da cidade havia um hotelzinho, Agua Marina, e havia lugar. A moto teve de ficar no átrio da entrada, pois não tinham garagem.

A cidade fica numa península e em pouco mais de duas horas dei a volta. É uma cidade turística mas nesta época, a meio do Outono, quase que não há visitantes.
O porto de pesca tem um molhe de acostagem e tem mais barcos que em Papudo.
Nestes dias no Chile tenho comido mais peixe do que em todos os outros meses na Argentina, aí é só carne. Experimentei mais uma vez comer marisco mas nem aqui. Não sou cliente.


De Tongoy continuei pela costa passando por Guanaqueros, outra pequena cidade junto ao mar. A estrada foi sair à Ruta 5 e sem alternativa. Mais uma portagem, pensei eu. Mas não!
Os quilómetros até La Serena eram livres de portagem. Esta cidade era grande demais e fui continuando.
A partir daí a Ruta 5 deixou de ser auto-estrada. Ia subindo e descendo ao longo da costa até que começou a seguir mais pelo interior. A região tornava-se cada vez mais seca e só se viam alguns arbustos secos ao longo da estrada. Viam-se algumas pequenas povoações e ficava a pensar como podiam estas pessoas viver assim no meio deste deserto.

Ao final da tarde fiquei em Vallenar, já na região de Atacama.
Na manhã seguinte quando acordei nem queria acreditar. Estava a chover!
Nesta região desértica havia de chover nesta manhã que tinha ideia de sair a visitar os arredores. Mas a chuva parou pouco depois e da parte de tarde sempre saí.
Subi o vale do rio del Transito até San Felix. A estrada asfaltada tinha bom piso e ia subindo entre duas encostas muito secas e que pareciam ser só pedra. Só mesmo no leito do rio se via vegetação. Havia muitas vinhas implantadas nos espaços mais planos e mesmo subindo um pouco encosta acima. San Felix é uma pequena aldeia com poucas casas.


Ao regressar ainda entrei noutro vale mas ao fim de uns dez quilómetros voltei para trás pois era muito igual ao outro.
Apesar de estar a ir para norte o frio tem-se feito sentir. Durante o dia ainda se está bem mas à noite já faz um ar fresco.
Ao sair de Vallenar em vez de ir pela Ruta 5 achei que seria mais interessante ir até Huasco e ir pela costa.
Huasco é uma pequena cidade com uma central térmica e um porto onde carregam minério de ferro.

A estrada costeira para norte é nova e de terra batida. O piso está tão duro que quase parece cimento. Estava ligeiramente húmida mas não escorregava. Nem quero imaginar como será com chuva. No início uma placa dava as boas-vindas à região de Atacama.
Dum lado o mar com a costa rochosa e pequenas praias de areia e do outro apenas terra seca e muitas vezes areia. A estrada era mais ou menos plana e por vezes descia ao leito dos rios secos para as pontes não serem compridas e altas.


Ao passar em Carrizal Bajo parei para almoçar. Pequena aldeia de pescadores e onde havia um restaurante que servia os trabalhadores que estavam a reparar a estrada. Por isso até havia um desvio que descia à praia e depois voltava à estrada.
Os últimos quilómetros antes da Ruta 5 já pareciam mesmo num deserto. Tudo seco e sem sinal de vida. Nesses cem quilómetros que fiz junto à costa teriam cruzado comigo meia dúzia de carros.

Por aqui não tenho encontrado parques de campismo e tenho ficado em pequenos e grandes hotéis e residenciais. Ao chegar a Copiapó fiquei num meio caro mas depois vi que os preços são semelhantes nos outros. O que tenho encontrado é sítios mais ou menos baratos para comer.
No primeiro de Maio fui participar e ver as celebrações na praça principal. Pelo que vi os problemas dos trabalhadores são os mesmos que em Portugal. Falta de condições de trabalho, ordenados baixos e emprego precário. Também há as empresas intermediárias que colocam os trabalhadores e lhes pagam salários de miséria.
Há várias semanas que tem havido manifestações e greves principalmente dos mineiros.


A região de Atacama tem o deserto como ponto de interesse, além doutros. Vou ver como será.
A partir de agora aparece na parte superior da coluna direita do blog um mapa com o trajecto que tenho vindo a fazer.
Também afixo neste post o mapa:


Por acaso, o mapa está actualizado mas mais para a frente não sei como será. Vou tentar sempre que possível ir mantendo o trajecto em dia. Poderei talvez ir pondo um ponto na localização.
Vou tentar.
Mas que dá trabalho dá. E eu que me reformei para não trabalhar mais.
Além de ter de escrever e escolher as fotografias, agora isto. Mas tá bem, penso que o pessoal gostará de saber por onde ando.



Km 12288, Copiapó, S 27º 21,681’ W 70º 20,252’

7 comentários:

Anónimo disse...

Não te queixes.
Trabalha que ainda tens bom corpo.
Diverte-te e continuação de optima viagem.

graciano

Anónimo disse...

Va! Nao chores. Queres trocar comigo?

Eusebio Pedro

Anónimo disse...

Olá António! És uma verdadeira caixinha de surpreas! Cada vez com mais competências! Mais profissional nos relatos que fazes!
As paisagens são de facto muito diferentes! Mais secas e áridas! Mas o que importa é que não te percas no meio do deserto!
O Jorge está cá, veio passar dez dias! Continua a tua aventura, toma conta de ti!
Beijinhos
Belacruz

ontheroad disse...

ola antonio,
vejo pelos teus relatos e fotos que continuas em grande forma.
Quando estas a pensar entrar na bolivia?
talves nos encontremos algueres por là?
continuacao de boa viagem

Anónimo disse...

Olá Queirós:
Vejo que continua tudo bem contigo,continua a gozar esse teu "trabalho"boas fotos e excelentes relatos, não me importava que podesses trocar comigo.
Continua com toda esse espirito de aventura,são o que eu a Zéza e o Hugo te desejamos.

Já agora Queirós o Trofense subiu á 1ª. liga este fim de semana, no proximo jogo vai-se decidir se, além têr subido é campião.
Os prédios da Trofa estão todos engalanados de fachas gigantescas azuis e vermelhas.

Unknown disse...

Grande Queiros.
Vai sempre devagar, mas avante ! Todo dia é dia de novas paisagens para a delícia dos olhos. Ao sabor do vento.

Anónimo disse...

Ele é relatos...
Ele é fotos...
Ele é coordenadas...
Ele é mapas...
Não há dúvida, um autentico homem dos sete instrumentos, vê-se logo que é do Norte, carago....