quarta-feira, março 05, 2008

Buenos Aires, agora de férias

Ainda em Melipeuco, tentei ir ver o vulcão mas não consegui. Há uma estrada que circunda o vulcão mas sempre bastante afastada da base. Tinha de ir a pé e eu não estava para isso. Passei em alguns pontos da estrada que estavam tão mal que tive de ir sempre em frente pois não queria voltar atrás e passá-los de novo. Mesmo assim houve um ponto em que não pude passar e voltei para trás até um cruzamento que me afastava do lugar onde estava alojado. Tive de ir fazer uma volta muito maior mas preferi não arriscar a cair.
A continuação para a Argentina foi demolidora. Logo à saída da cidade começava a estrada de rípio que estava num estado muito fraco. Foram cerca de sessenta quilómetros, até Icalma, com subidas e descidas cheias de pedra em que muito poucas vezes consegui passar dos quarenta quilómetros por hora. Mas o panorama compensava o esforço.


A partir dali e até Liucura o rípio já estava bom e era possível andar um pouco mais depressa, mas nunca muito rápido. A subida para a fronteira, em Pino Hachado, já era de asfalto.

Esta entrada na Argentina foi a mais complicada até agora.

No controlo de passaportes não estava ninguém e foi preciso esperar uma meia hora e depois para a entrada da moto é que foi o bom e o bonito.
Estive a falar e argumentar, não digo discutir pois acho que nunca discuti com ninguém, mais meia hora com a funcionária da alfândega. Não me queria fazer o impresso da importação temporária da moto. Dizia que não era preciso e eu dizia que sim. Ia falar com o chefe e voltava e dizia que não e eu dizia que tinha de ser. Finalmente, se calhar já farta de me aturar, levou-me ao chefe que me preencheu o impresso que eu queria. No final disse-me que pensava que eu era brasileiro, neste caso não seria preciso. Mas eu tinha-lhe mostrado o passaporte e ela até esteve a ver a moto e perguntou de onde eu era. Enfim…

Novamente numa estrada que atravessa uma região seca durante dezenas e dezenas de quilómetros.


A minha ideia era atravessar a Argentina para ir até Azul onde vive o Pollo de La Posta del Viajero em Moto que fez anos no dia 4 de Março. O deserto não tem grande coisa a ver e fui andando até ao final da tarde. Pouco antes de General Roca, passei por quilómetros de pomares onde as maçãs vermelhas reluziam por entre o verde das folhas. À volta da cidade vi vários canais com água para irrigação. Foi dos poucos sítios onde vi este aproveitamento da água.

À noite, depois de jantar, fui dar uma volta pela cidade. Estava calor e sempre arejava um pouco. Vi uma moto que não conhecia e tirei-lhe uma foto. Sempre que vejo uma moto nova ou melhor dizendo diferente tento tirar uma foto. Um senhor aproxima-se de mim e pergunta-me porque estou a fotografar aquela porcaria de moto.
Aquilo não vale nada, disse. Estas motos chinesas são uma porcaria. Há muitas marcas.
Eu respondi que sempre que via uma moto diferente procurava tirar uma foto. Foi o ponto de partida para uma conversa interessante. Depois fui até casa dele onde me mostrou uma Motoneta. Uma espécie de mini-moto italiana, de 1952, de 125 cc e dois cilindros, toda de alumínio. Nunca tinha visto nada assim. Ele ainda tinha mais três motos, todas de pequena cilindrada. Na manhã seguinte foi ter comigo para ver a minha Transalp.

Continuei a travessia da Argentina dentro daquela monotonia das planícies meio secas.
Ao chegar perto de Bahia Blanca num dos carros que passa por mim um sujeito acena mas segue e eu também aceno. Mais à frente sou eu que passo pelo carro e quando vejo o condutor conheço-o e faço sinal para parar. Era o Óscar de Viedma, organizador do encontro dos Horizons Unlimited. Estivemos um pouco na conversa e depois cada um continuou o seu caminho. Quem diria que assim no meio da estrada nos voltaríamos a encontrar passados três meses.
Próximo de Azul apareceu o que menos gostaria de encontrar, a chuva. Depois de tantos dias de calor e secura finalmente a chuva. Viam-se mesmo as nuvens a descarregar a chuva e eu ia direitinho para esse sítio. Bem, mas tinha de continuar!

Em Azul, na La Posta, estava um alemão que anda a viajar há vários meses e vinha de norte. Conheceu o Hamish e a Emma no Peru. Há tempos caiu na Bolívia e partiu um pulso. Teve de ir para a Alemanha para se tratar mas ainda não está em condições. Ficou mal curado e agora não pode andar muitos quilómetros seguidos senão começa a doer-lhe o braço. Espero que nunca me aconteça o mesmo. Chegou depois um casal de suíços que também os conheceu, mas na Austrália.
Soube que afinal a festa de anos vai ser no próximo sábado dia oito e achei que não valia a pena ficar aqui uma semana.
Continuei para Buenos Aires para fazer uma revisão à moto e a todo o material que tenho. A chuva esteve presente quase todo o caminho. Próximo da cidade havia pontos em que a estrada estava seca como se não chovesse há muito e de repente noutros vinha uma descarga de água que alagava tudo.
Quando cheguei à Dakarmotos pensei que não iria ter lugar para ficar, pois estava muita gente. Velhos conhecidos e novas caras. Afinal sempre se arranjou um canto para mim.
Agora acho que vou ficar por aqui umas semanas. Preciso de férias, pois há cerca de cinco meses que ando na estrada.
No sábado irei a Azul e depois volto novamente.
Tenho de fazer uma revisão à moto e ver também como está todo o meu material.
Não sei quando vou voltar a escrever. Parece que agora que me concedi umas férias não me apetece fazer mesmo nada. Prá semana.
Km 08125, Buenos Aires, S 34º 32,477’ W 58º 31,000’

9 comentários:

Anónimo disse...

Olá tone por cá tá tudo bem,dizes que não vais escrever porque vais de férias tens mais tempo.Eu cá vou andando mais a Alice de volta das galinhas mas vamo-nos arranjando como podemos.O que é preciso é que andes bem.Estamos a chegar á páscoa.Queres que te mande umas amendoas?Eu estou como quero!Tenho um secretário e diversos motoristas.Que tudo te corra bem.Um beijinho e um abraço e uma ferradela no cachaço!!!!!

cancruz disse...

Olá tone

Ao que tu escreves, realmente já deves precisar de férias da escrita. É surpreendente que consigas ter sempre tema e que haja internet para enviares as tuas crónicas. Se queres, escreve menos, mas vai contando coisas, porque nós vamos lendo ainda que nem sempre se consiga comentar. Diverte-te na grande cidade
Um abraço
Cândido

fernando_vilarinho disse...

Bom descanso e bons passeios pela colossal cidade.
Com 5 meses de viagem e com tantas aventuras passadas, se fosse eu precisava de quase outros 5 meses de descanso para voltar a viajar pela estrada fora. Parabéns pelo percurso 'escolhido' na viagem, os textos, as fotos e todo o big trabalho e paciência que dá colocá-los online!
Bem, Buenos Aires dava para estar um ano a visitar. Espero que vás à livraria "El Ateneo Grand Splendid", a livraria mais bela do mundo e a maior da América Latina

Votos do melhor para a viagem e um abraço,
fernando

Anónimo disse...

Nem penses nisso!!!!! Escreve menos, mas escreve. Era o que faltava deixares de escrever muito tempo... habituaste-nos mal, agora aguenta, mas já ninguém passa sem a tua crónica...
Não tens razão para estar cansado. Foste numa Honda, carago,... se tivesses ido numa BM, ainda está bem, agora um maquinão como o teu nem cansa porque ele rola sózinho....
Continuação de boa viagem
pedro leite

Anónimo disse...

Grande Queiros,

Parabéns por tudo o que fez até agora. É uma obra de arte. Você merece um descanso, mas por favor não deixe de colocar as fotos e os textos. Você tira férias mas nós que lemos não precisamos e não queremos férias. Continue firme e forte.

Anónimo disse...

Este Gajo manda cá uma lata...
O Vadio do caraças anda no bem bom há uns meses enquanto nós por cá temos de nos contentar com os relatos da sua vadiagem e continuar a sonhar acordados. Todos os dias a tentar arranjar maneira de fazer o mês caber no bolso e este gajo manda uma destas!
Que a praga do caracol perneta se abata sobre a tua farta cabeleira como castigo por tal blasfémia...
Estás aí a curtir a vida e é isso que tens obrigação de fazer. Ninguem te mandou para aí de castigo. Se era para estares na pastorícia tinhas ficado pela Trofa a jogar as cartas no jardim com os teu colegas reformados, seu cara do c****o!
Bora lá a curtir a "Movida" Argentina e já agora aproveita para ver um programa desportivo que dá num canal qualquer daí. Posso te dizer que sempre é melhor olhar só para ela do que ouvir o Nestes a torcer pelo Fê Quê Pê...

Um abraço

Mustafá (um Marroquino da margem norte)

Anónimo disse...

Ola Montanheiro
Obrigado pelo Postal
Eh fixe fazer ferias nas ferias
As ferias nao sao grandes quando divinas aproveita
Saudaçoes Montanheiras
EP

Anónimo disse...

Deixa-te de tretas e continua a escrever que a malta quer saber tudo.
Não acredito que tu tires férias,acho mais logico ter sido a burra a ficar cansada.
Em vez de ires na honda se tivesse ido de BM,ainda estarias fresco que nem alface.
Diverte-te mesmo de "ferias" e continua que vais bem.

G.Albuquerque

PS:não deixes crescer a repa do cabelo para a frente dos olhos,senão,turva-te a visão.

Anónimo disse...

Olá queirós
Agora que eu começo a lêr novamente os teus relatos e vêr as bonitas paisagens que há por essas bandas vou ficar chupar no dedo porque resolves meter férias sem avisar ninguém "não se faz".
Queirós apesar de não têr lido os teus relatos e não têr mandado nenhuns filetes "temos" falado muitas vezes em ti.

Obrigado pelo postal.

Um grande abraço meu e do Hugo e beijo da Zéza.

Ps:perguntas pela saúde,esteve bem até á sete semanas atrás,com uma nova crise bastante forte onde me provocou algumas roturas musculares uma delas um pouco grave,mas tudo um dia vai passar(se deus assim o desejar)o minimo que eu posso fazer é esperar pela proxima vêz com a maxima calma.
Queirós goza bem a vida é que nós mais te desejamos.