Saí em direcção a Puno para visitar o lago Titicaca. A estrada desde Cusco vai por um vale muito bonito. A cor avermelhada da terra e o pouco verde que se vê fazem um lindo contraste.
Muita gente nos campos preparava a terra para as sementeiras. Quase todos trabalhavam com juntas de bois, apenas vi um tractor num campo.
No ponto mais alto desta etapa, Abra La Raya a 4.312 metros, parei para tirar umas fotos. Já estava de capacete enfiado para partir quando uma senhora me perguntou, em português, se eu era português. Disse que sim e ela disse-me que também era. Estava com o marido francês num grupo de franceses.
Estivemos a falar um pouco e depois ela disse que tinha de ir pois o autocarro já estava para partir. Disse-me que tinha sido o único português que tinha encontrado até agora, mas que em todas as viagens que fazia, cada dois anos, encontrava sempre algum português.
Arranquei mal sabendo o que me esperava. Ao entrar em Juliaca um polícia mandou-me parar. Perguntou se eu tinha a carta internacional. Eu disse logo que não, tinha uma mas tinha caducado. Disse que não poderia continuar e tinha de me multar. Entretanto aproxima-se outro polícia e logo a seguir mais outro. Veio a conversa do costume, de onde era, para onde ia, há quanto tempo estava a viajar…
O problema da carta internacional é que só é válida por um ano e para pedir uma nova o ACP exige a apresentação do original. Antes de vir eu ainda disse que iria andar mais de um ano mas mesmo assim disseram que teria de enviar o original por correio com uma fotocópia do BI. e uma fotografia. Depois devolviam tudo novamente por correio. E quanto tempo demoraria tudo isto? Deveria haver outra forma de poder pedir uma carta nova.
Atravessar a cidade foi um problema. Como de costume não há indicações nenhumas e numa confusão de carros e carrinhas, triciclos e mototáxis quando cheguei a um cruzamento não reparei no sinaleiro que estava numa das esquinas e não no centro. Parei já no meio do cruzamento. Mandou-me encostar e chamou outro polícia.
Já estou feito, pensei.
Quando o polícia chegou ao pé de mim começou a perguntar se as regras não eram iguais no meu país e se não obedecia ao sinaleiro. Eu só disse que no meio daquela confusão não tinha visto o sinaleiro. Depois de um sermão deixou-me seguir. Agradeci e toca a andar…
Duas vezes em poucos minutos e ao fim de um ano sem problema nenhum!
Quando cheguei a Puno tive de atestar pois a moto tinha pedido a reserva um pouco antes e tinha ficado a magicar que eram poucos quilómetros. Mas depois lembrei-me que foram muitos quilómetros a andar bem e sempre a grande altitude, nos 3.800 a 4.300 metros de Abra la Raya.
No posto de Turismo soube como visitar o lago.
Há barcos que de meia em meia hora vão até às ilhas flutuantes de Uros. Estas ilhas ficam numa parte mais abrigada do lago e há umas trinta, segundo disse um dos habitantes. Cada uma tem cinco famílias, normalmente, que vivem da pesca e do artesanato que vendem aos turistas.
Há duas outras ilhas, mas naturais, que ficam mais no interior do lago mas é preciso sair de madrugada e para uma delas são preciso mesmo dois dias. Uma visita às flutuantes foi suficiente.
O lago Titicaca pareceu-me um lago normal. Acho que o lago General Carrera na Patagónia chilena era mais bonito, pelo menos para mim.
Não gostei muito de estar em Puno e resolvi continuar mesmo com a ameaça de chuva.
A estrada contornava o lago e ao chegar ao ponto onde a estrada cortava para a Bolívia virei para esse lado. Afinal ainda queria ver mais umas coisas por lá.
Ao passar em Copacabana não fui à cidade. Tanto ouvi falar dessa cidade que se calhar era apenas mais outra cidade turística.
Mais à frente era preciso atravessar o lago numa barcaça para continuar para La Paz. Estava um vento forte e as ondas abanavam a barcaça. Tive de ir sempre apoiando a moto pois tinha medo que caísse.
Entrei em La Paz por El Alto. A estrada não tinha indicações, já é normal. Depois de andar um pouco no meio de um trânsito meio louco perguntei pela Praça Murillo, ponto de referência. A pessoa a quem perguntei disse que estava a ir em sentido contrário, tinha de dar a volta e seguir descendo para o vale. Ao fim de largos minutos consegui chegar a uma estrada que descia para o vale.
A vista da cidade era espectacular. Ver toda a extensão da cidade espalhada pelas encostas foi magnífico.
Quando cheguei mais abaixo tive de perguntar várias vezes mas consegui chegar ao hostal, El Carretero, que o Hartmut me tinha indicado.
Andei às voltas pela cidade e fui ter ao posto de turismo um pouco por acaso. Arranjei um mapa da cidade e subi ao miradouro de Killi Killi. Dá para ver quase toda a cidade. Foi muito interessante.
5 comentários:
Está a ver que não doi escrever e enviar fotografias.
Continua.... pois deixaste felizes mais 700 amigos.
Até á próxima.
Graciano
Depois de um ano sem ninguém te incomodar, dois polícias em poucos minutos... Muito bem.
Essa La Paz até mete medo só de olhar. Onde estão as zonas verdes?
Continua, amigo Queirós e parabéns pelo ano ininterrupto de viagem.
Abraço
Nestes
Queirós, é impossível fazer uma grande viagem, sem ter pequenos precalços. Ainda tens muito para andar, muitas coisas para ver e contar aos teus amigos que estão cá, sempre à espera de novidades tuas.
Para frente é o caminho !
Força Transandes !
Valente - MCP
Ó meu caro António, "português das arábias", você parece o cavaleiro errante. Faz uma trajectória de autêntica borboleta, completamente ao sabor do acaso e da circunstância. Nesse sentido, o seu desprendimento é uma lufada de ar fresco para o nosso quotidiano. Ler e perceber isso dos seus escritos é uma benção para a alma. Boa continuação.
Oi Queirós, a capital da Bolívia tem um belo nome e muito sugestivo para os tempos que ainda correm por aí. Ao sabor do vento pelos exotismo do Lago Titiaca, por Abra La Raya e só faltou a 'praia' de Copacabana ;) Excelente!
Sempre por onde o espírito te levar..
Abraço,
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