Antes de sair de Corumbá ainda fui dar uma volta de barco no rio Paraguai. Foi interessante. Descemos um pouco o rio, uns 25 quilómetros, e voltámos a subir. Deu para conversar com algumas das pessoas.
Continuei para sul e entrei numa estrada de terra para o interior do pantanal. A estrada era de piso duro e durante os primeiros quilómetros ia por uma zona muito seca até que chegou a Porto da Manga. Aí foi preciso atravessar um rio numa balsa.
A partir do rio a estrada já entrava numa região com mais água seguindo durante quilómetros no meio do pântano. Viam-se alguns animais, sendo que a maioria era capivaras e aves.
Depois da Curva do Leque a estrada começou a ter muita areia. Ao longo de todo este percurso havia muitas pontes de madeira e várias vezes ao entrar nas pontes havia um degrau e a suspensão da frente batia. As pontes estavam quase todas num nível mais elevado que a estrada e a estrada subia até lá mas com a passagem dos carros a terra ia caindo e as tábuas ficavam a descoberto e formavam um degrau. As pontes têm quase sempre três tábuas de cada lado, com uns cinco centímetros de espessura, e é preciso entrar de modo a não parar.
Se for preciso pôr um pé no chão falta o espaço e a moto desequilibra e pode dar para cair ao rio. As pontes não têm grades de protecção. Algumas têm travessas partidas e convém sempre passar pelas tábuas ao longo da ponte.Fiquei na Pousada Santa Clara porque o Hamish me tinha dito há meses que era um lugar interessante.
Foi meio caro mas a estadia incluía uns passeios pelo pantanal.
O primeiro foi pelo rio e foi muito interessante. Pensei que iria ver muitos animais mas não. Apenas algumas capivaras e jacarés. Uns tucanos e ainda mais aves de que não sei o nome.
A certa altura o guia parou o barco e disse que íamos pescar. Eu disse que nunca tinha pescado mas ele disse que não havia problema, que havia muitos peixes.
Bem, afinal os peixes até se prendiam no anzol mas eram piranhas!
Demos a volta e o guia disse que ia arranjar os peixes para o jantar da noite. Encostou numa pequena praia e disse que poderíamos dar um mergulho no rio enquanto ele limpava os peixes para o jantar. Eu perguntei se não havia piranhas mas ele disse que podia ir à vontade que não haveria problema.
Depois de sair da água deu-me outra vez uma cana para pescar. E pesquei uma piranha!
Mas afinal havia piranhas naquele lugar.
À noite sempre comemos algumas piranhas que até eram saborosas.
No dia seguinte fomos andar a cavalo. Nunca tinha andado a cavalo mas disseram que os cavalos já estavam habituados.
Os cavalos estavam habituados mas eu não. É mesmo ruim andar a cavalo. Enquanto ia a passo ainda dava mas quando o bicho começava a correr aquilo saltava tudo e eu também. A suspensão do cavalo devia estar avariada. Ia sempre a bater naquele banco duro como madeira. Nem tinha um guiador para poder agarrar e levantar-me e não levar tanta pancada. Passados dois dias ainda sentia o meu assento pisado.
Na parte de tarde fomos andar a pé pela mata mas não deu para ver muitos animais. Andam todos à solta e não estão fechados como num jardim zoológico.
Também se vêem árvores com formas algo fora do comum, para mim.
Saí manhã cedo em direcção a Bonito. Um brasileiro que conheci umas semanas antes de partir tinha-me dito que devia passar por lá pois havia rios onde quase não se podia nadar pois os peixes eram demais. Achei um exagero mas, agora, ao entrar no Brasil também me disseram para ir a Bonito pois era bonito.
Antes de chegar a Bodoquena tive de passar pelo meio de uma boiada que seguia pela estrada. Foram uns minutos de tensão atravessar pelo meio de todos aqueles animais, que não eram poucos. Se por acaso um se assustasse e começassem a correr não sei o que seria.
Os últimos quilómetros eram estrada de chão, não de asfalto, mas de bom piso.
A Pousada São Jorge, no centro, foi-me recomendada pela Valéria que tinha conhecido nos passeios anteriores. Um lugar agradável.
Em Bonito, marquei lugar numa descida do Rio da Prata e fui com mais quatro pessoas fazer essa visita. Era uma flutuação, como lhe chamam. Foi preciso vestir um fato de mergulho e com máscara entrar na água. A água tinha uma temperatura muito agradável na ordem dos 22/23 graus. Custou-me um pouco a habituar a respirar pela boca através daquele tubo que prende na máscara mas consegui ao fim de uns minutos.
Depois foi só deixar o corpo ir descendo na corrente, quase sem ser preciso nadar apenas controlando a posição em relação à corrente para não bater em nada. O rio é muito baixo e algumas árvores têm os ramos na água.
Achei fantástico!
Ver todos aqueles peixes, grandes e pequenos, escuros e às cores. A guia de vez em quando parava o grupo e ia dizendo os nomes dos peixes mas eram muitos e estranhos e não me lembro nem acho que interesse muito. Mas achei muito bonito. Ainda deu para ver um jacaré lá no rio. A minha máquina não dá para fazer fotos debaixo de água.
Ao final da tarde, depois do almoço, ainda fomos ver o Buraco das Araras. Era como um poço muito largo, com uns trezentos metros de diâmetro, onde as araras fazem os seus ninhos. Há outras aves mas em muito menor número. O melhor lugar para ver as araras era nas árvores em redor do buraco pois lá ficavam muito longe.
No dia seguinte fui até ao Balneário Municipal, espécie de praia fluvial com boas condições para passar ali umas horas.
Dei um mergulho no rio e nadei um pouco no meio dos peixes. Pouco depois fui almoçar e fiquei a apreciar todo o movimento que por ali havia.
A certa altura chegou um grupo de motociclistas que começou a andar por ali. Alguns deles falaram comigo e disseram que eram do BMW Clube do Brasil que tinha organizado um encontro em Bonito. Eu disse que para mim era coincidência estar por ali mas eles convidaram-me a ir jantar com eles. Agradeci e disse que à noite me juntaria a eles. Mais tarde aluguei uma máscara e fui outra vez nadar no meio dos peixes.
Também consegui umas fotos de uma arara azul e amarela que existe em menor número que as azuis e vermelhas.
Afinal os peixes nos rios não eram tantos como disse o brasileiro mas eram mesmo muitos.
À noite foi agradável jantar com os motociclistas. O presidente do clube ainda disse para passar por Curitiba, a sede do clube. Pode ser que passe por lá.
A região de Bonito tem algumas coisas interessantes para visitar. O problema é que é preciso pagar para visitar qualquer deles. Ficam todos, penso eu, em propriedades privadas e é preciso um guia para controlar os grupos o que torna tudo muito caro.
Achei que já tinha visto e gasto o suficiente e resolvi continuar. Continuei um pouco mais para sul para Ponta Porã. A estrada passa numa região muito plana e onde se vêem muitas manadas a pastar. É uma região ganadeira.
***
O meu plano inicial de viagem não previa andar pelo Brasil nesta ocasião, mas como também não sigo nenhum plano à risca acho que vou andar por cá umas semanas. Pelo menos até mudar de ideia.
Várias pessoas disseram-me que deveria ir até ao Nordeste pois tem paisagens fantásticas. Acho que será um destino como outro qualquer e assim vou atravessar este país enorme e depois ver por que lado regressarei à cordilheira andina.
Sempre vou ter de comprar uma máquina fotográfica nova. As que tenho são duas Sony. Uma V1 que tira fotos muito boas mas que desde que a deixei ao sol, por esquecimento, no Valle de la Luna à saída de S. Pedro de Atacama começou a não abrir bem quando a ligo. Tenho de ligar e desligar várias vezes até ficar bem. A outra é uma S800 que só dá para tirar fotos numa posição. Todas as funções no painel posterior deixaram de actuar. Assim não tenho pachorra. É certo que as duas já me caíram ao chão algumas vezes e pó foi coisa que nunca lhes faltou.
Pedro Juan Caballero, S 22º 33,480’ W 55º 43,181’
9 comentários:
Olá Tone
Fazes bem em continuar por aí, a julgar pelas fotos é um sítio espectacular.
Apesar de ser um pouco tarde, a Beatriz ainda está aqui comigo e não resistiu a fazer alguns comentários: Já não me lembrava bem da cara do tio Tone! Há tanto tempo que ele anda a passear... Gostava de ir também passear como ele. aqui é um bocado chatinho sem ter que fazer. (está de férias em casa sem ter que fazer há dois meses...)
Um abraço
Cãndido
Oi Queirós! Já pareces o David Attenborough aí no Pantanal! ;) Boa descrição de cor, sons, animais exóticos e muitas aventuras pelo meio. Isso realmente é um mundo á parte, admirável em tudo. Gostei muito de ler e descobrir cenas interessantes por aí. A América do sul está a ficar cada vez + pequena para o teu rodado.. eheh
Agora estás numa terra onde se fala o português e só com isso já te deves sentir meio em casa. Imagino!
Um Abraço e o melhor para a tua grande Viagem,
p.s.: se comprares uma máquina compra uma Canon, que te dura muito tempo. È todo-o-terreno!
Boas Queirós! Nessa tua grande viajem vejo que já aprendes-te a pescar piranhas e que as selas dos cavalos não tem amortecedores, eu a pensar que andavas a passear de mota!...
Continua a fazer umas belas crónicas e a mostrar-nos fotografias espectaculares.
Mário Almeida (falcaodonorte)
Então como eu havia comentado,bonito é muito interessante.se vai comprar uma camara nova aproveita os melhores preços nas zonas francas de bolivia e paraguai .ca dentro do brasil é bem mais caro.
continuo seguindo sua viajem.
abraços ZANETTI.
Olá Queirós,
Grandes férias, essas tuas!!
Andas agora a preparar-te para o rali dos sertões ;-)
Realmente tens duas boas máquinas, mas elas não feitas para aguentarem tanta coisa... O que te aconselhava nesta altura seria uma máquina do género da Olympus 770SW. É uma verdadeira máquina TT. Já a vi a funcionar debaixo de água, e depois os resultados, e fiquei admirado. Podes ver uma pequena review em:
http://video.about.com/cameras/Olympus-Underwater-Camera.htm
Abraço, Joaquim Alves
Grande Queiros. Suas fotos estão ótimas. Tenhas cuidado com as piranhas, elas mordem você e até o seu bolso. Aproveite bem porque tem muita coisa bonita a ver no Brasil. Se seguires para Curitiba, vale conhecer o Parque de Vila Velha, curiosa por suas formações rochosas. Tenhas grande viagem.
Ena!
E estavas indeciso se havias de entrar no Brasil...
Depois de tanto deserto, finalmente vemos cor.
Acho piada dizeres que viste poucos animais. Pois. Foram só crocodilos, capivaras, tucanos, araras, piranhas e mais as aves que não sabes o nome...
E ainda a descida do rio em "flutuação"!
Espectacular.
Até já te ris nas fotos! :-)
Força e um grande abraço
Nestes
Grande homem de Transalp
Isso é cada aventura melhor que a outra..essa de comer piranhas, quem diria, é caso para dizer que lhe viraram o feitiço contra o feiticeiro...Continua Quierós, pois nota-se que estás a divertir-te bastante com essa grande aventura, Cumprimentos
Grande Queirós, o "LLL" (Lucky Luke Lusitano) com a sua Joly Jumper Transalpina
um abraço
pl e catarina
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