No início de 1996 o meu amigo Humberto Pimenta descobriu Anzánigo, pequena aldeia no pré-Pirenéu entre Huesca e Jaca.
Numa revista de motos vinha uma informação sobre uma concentração invernal chamada “Javali’s Treffen” no primeiro fim de semana de Fevereiro. Pensou que seria um desafio ir até aos Pirenéus no Inverno e com dois amigos, o Jorge Santos e o António Fernandes, foi ver como era esse encontro de motociclistas.
A viagem e o encontro decorreram bem mas o que mais os impressionou foi o ambiente vivido e a simpatia do organizador, Emilio Moliné.
Conheceram uns franceses que os convidaram a ir até à região de Bordéus e participar num encontro de PanEuropean que organizavam.
O encontro foi realizado num parque de campismo que tinha sido em tempos um dormitório dos trabalhadores de duas barragens que foram construídas na região.
Esse parque de campismo só abre nalguns fins de semana para realizar encontros de motociclistas e no verão, de Junho até final de Agosto. Durante estes meses os motociclistas têm um preço especial, muito em conta.
Quando regressaram, os três não se cansaram de elogiar o ambiente vivido e o local que merecia uma visita mais demorada.
Como estava na ocasião de marcar férias consegui a segunda quinzena de Agosto para assim poder acompanhar o Pimenta que queria ir para lá nas suas férias.
Em finais de Abril, o Pimenta e o Santos foram até França. Vieram encantados com a simpatia com que foram recebidos.
Entretanto íamos falando no assunto no moto clube e mais alguns amigos se mostraram interessados em ir até lá.
No dia da saída juntou-se a nós o Henrique Maia. A Susana, o Daniel e o Pedro Zagalo iriam lá ter uns dias mais tarde.
A pequena aldeia de Anzánigo fica no “pré-Pirineo Aragonês”. Na estrada de Huesca para Jaca há um desvio depois de Ayerbe que leva a essa povoação que só no verão ganha vida. Nestes últimos anos só tinha dois habitantes permanentes – que não se falavam.
Ao chegar a Anzánigo vi que o parque de campismo ainda estava em construção. Havia uma zona relvada para montar tendas e outra para caravanas. Também tinha uma piscina para os dias mais quentes, muitos no verão. Os velhos dormitórios estavam a ser recuperados para funcionarem como um grande refeitório ou como camaratas. Num deles havia pequenos quartos individuais, de quatro camas.
Depois de montadas as tendas e refrescados fomos até ao bar para refrescar por dentro.
Muitos motociclistas, quase todos espanhóis, que nos receberam de uma maneira muito simpática dizendo que era a primeira vez que portugueses iam acampar ali.
Sempre com a barreira da língua a impedir uma boa comunicação lá fomos tentando conversar com alguns deles. Mas depois de uns copos de cerveja a barreira foi desaparecendo.
O dono do parque de campismo revelou-se uma pessoa muito simpática e passámos todos muito tempo na conversa.
No dia seguinte à chegada ficámos por ali para tentar conhecer melhor o ambiente e assim podermos escolher os locais a visitar.
A primeira saída foi para ir até França para ver uma subida impossível. O Gaspar, um pequeno espanhol de Valência, desafiou-nos a isso e nós achámos que seria um bom início de actividades nas férias. O problema é que saímos um pouco tarde pela manhã e ele não sabia bem o lugar onde era por isso quando chegámos já estava a acabar ou tinha acabado, não me lembro. Mas foi uma volta interessante.
Uma visita ao castelo de Loarre, perto de Ayerbe, não podia faltar.
Subimos até uma das fronteiras com França, agora já na companhia dos outros três camaradas que entretanto tinham chegado, por vales verdejantes que vistos lá do alto quase pareciam tapetes de veludo. Passámos para o lado francês descendo toda a montanha para voltar a subir mais à frente e regressar por outro lado. Estradas muito boas para circular de moto e com paisagens fantásticas.
À medida que os dias iam passando o convívio aumentava e criámos algumas amizades que ainda hoje se mantêm. O Gaspar, de Valência, é um deles e já ficámos em casa dele quando fomos ver o Rali Paris Dakar há uns anos. Também nos convidou, ao Pimenta e a mim, para irmos ao seu casamento.
Outro é o Emílio, o dono do parque, que se revelou uma pessoa muito agradável. Já esteve em Portugal mais que uma vez e passou na Trofa para nos visitar.
Uma outra saída foi até ao Balneário de Panticosa, um centro de águas termais na alta montanha. Pelo caminho aproveitámos para saborear uma água sulforosa e muito mal cheirosa numa fonte ao pé da estrada, mas que era muito boa para o estômago. Ainda parámos na aldeia de Panticosa e subimos numas tele-cadeiras para apreciar melhor a paisagem.
O Daniel e o Pedro continuaram para Andorra e a Susana ficou connosco.
Fomos ao Parque de Ordesa e Monte Perdido que nos encantou. Paisagem fabulosa com os vales entre paredes enormes e os rios com muitas cascatas. Merecia uma visita, ou mais, com tempo para poder apreciar melhor.
Ainda demos uma volta pelos vales de Echo e Ansó que eram uma maravilha. As estradas para lá também eram espectaculares, passando por desfiladeiros e planaltos bem interessantes.
Num dos dias houve um temporal muito forte e com tanta chuva que tivemos que meter motos e tendas dentro de um dos pavilhões que ainda estava a ser recuperado.
A Susana e o Henrique regressaram e eu e o Pimenta continuámos mais uns dias por ali.
Voltámos ao parque de Ordesa para fazer uma caminhada passando junto à cascata do Cotatuero e depois de andarmos por um vale que parecia não ter fim ainda apreciámos a cascata da Colla de Caballo. Foi um espectáculo!
Fomos até Ainsa, pequena aldeia medieval restaurada, um regalo poder estar ali.
Fizemos a pé uma parte do “Cañon de Añisclo” pois o percurso era longo e em linha e não dava tempo para ir até ao final e regressar às motos.
Percorremos mais um pouco aquela cordilheira por algumas estradas que davam um gozo enorme. As aldeias também eram encantadoras e algumas bem antigas e perdidas lá no meio da serra.
Anzánigo tornou-se para nós, para mim e para o Pimenta, um lugar muito especial.
A partir de 96 quase todos os anos íamos até lá pelo menos uma semana. Também chegámos a ir a algumas concentrações de fim de semana, saindo na sexta e regressando na segunda. O parque foi melhorando ao longo dos anos e tornou-se um ponto de encontro com velhos e novos conhecidos. Muitos motociclistas: franceses, alemães, ingleses e holandeses faziam desse parque de campismo uma espécie de oásis nas suas idas ou vindas de férias.
Numa dessas concentrações, no final de Outubro, conheci os franceses que o Pimenta já conhecia. Voltaram a convidar os portugueses a ir a Bordéus no ano seguinte.
Dessa vez, em Maio de 97, já pude ir e ainda voltei lá mais duas vezes.
Sempre que íamos até Anzánigo procurávamos ir conhecendo mais um pouco da cordilheira e das aldeias e cidades em redor, de moto ou a pé. Muitos lugares bem bonitos que conhecemos a pé e que não seria possível de outro modo.
Claro que nestes últimos anos já não passávamos tanto tempo ali mas uns três ou quatro dias não falhavam. Depois seguíamos para outros lados.
Os Pirenéus são uma cordilheira espectacular e quem lá for passar uns dias só pensa em voltar mais vezes para poder conhecer mais e mais…
Em http://www.anzanigo.com/ há muitas informações.
A revisao do texto foi feita pelo meu amigo Humberto Pimenta para tentar cometer poucos erros, quanto a nomes ou lugares.
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