terça-feira, maio 19, 2009

A caminho do far-west

Uma semana, ou melhor dez dias, foram suficientes para recarregar baterias para enfrentar um mundo novo, para mim.
Foram uns dias muito agradáveis na companhia do Lou e de alguns amigos que o visitaram.
Aproveitei para levar a moto a fazer uma pequena revisão pois já fez uns 55 mil kms desde que partimos da Dakarmotos em Buenos Aires.
A moto tem estado impecável e sempre responde sem problemas. A preparação feita na Mototrofa, antes de vir, foi feita por pessoas que sabem o que fazem.
Quando perguntei se era necessário fazer alguma coisa quando chegasse às grandes altitudes apenas me disseram: Nada!
E realmente já subi e desci montanhas com milhares de metros de altitude e a moto sempre respondeu bem. Às vezes quando tentava acelerar mais um bocado, pois sentia a moto muito lenta, ela não respondia e eu pensava que já estava a fraquejar. Mas depois olhava para o GPS e via que íamos nos 3.800 ou mais metros de altitude e claro que a moto não podia responder tão rápido, faltava-lhe o ar.
Até agora, nos Estados Unidos, só tenho encontrado gasolina com 85 a 91 octanas. As bombas têm sempre três qualidades com 2 octanas de diferença e já encontrei também algumas vezes gasolina com etanol, 10%. A grande maioria das vezes meto gasolina da mais barata, 85 a 87, e a moto não se queixa e vai mantendo os níveis normais de consumo.
Mas vamos ao que interessa.
Na segunda, dia 11, arranquei com o Lou, pois ele também ia sair para casa da mãe lá para o Nebraska, e seguimos juntos todo o dia até casa de uns amigos, o Chester e a Holi, onde pernoitamos.

Para completar a recepção, depois de uma visita a uma plantação de “pecan”, fruto muito parecido com a noz, fomos jantar uma grande posta de carne grelhada que foi uma maravilha. Já não comia carne assim desde a Argentina.
Como o Lou ainda tinha muitas centenas de milhas para fazer até chegar a casa da mãe tivemos de nos levantar cedo. Depois de um pequeno-almoço saboroso partimos.
Já há muito tempo que não precisava de vestir o forro interior do blusão pela manhã. Mas estava fresco e foi melhor do que a meio do caminho ter de parar para o vestir.
Ao fim de uns quilómetros foi preciso dizer adeus e seguir cada um para seu lado. O Lou para Norte e eu para Oeste. Voltaremos a ver-nos se tudo correr bem.
Indo eu a caminho do Oeste vi que as planícies continuavam e muito secas. Todos falam que não tem chovido o necessário.
Vi muitos daqueles mecanismos para bombear petróleo. Afinal o Texas é o estado americano com mais petróleo, tirando talvez o Alasca, não sei.
Entrei no Novo México e tudo continuava quase igual. Algumas informações de trânsito eram ligeiramente diferentes mas sempre a mesma paisagem.
Ao passar em Roswell não vi nenhum extra-terrestre nem naves espaciais.
Ao aproximar-me de Albuquerque vi uns sinais da “Route 66”. Saí da estrada principal e fui para uma paralela, a tal Route 66, onde arranjei um motel para dormir.

No dia seguinte passei em Albuquerque para tentar contactar uma pessoa que teria algumas informações par me dar mas não estava.
Eu já sabia mais ou menos para onde ir e dirigi-me ao Pueblo dos Acoma. É uma pequena aldeia construída numa “mesa”, uma daquelas formações rochosas que se vêm nas planícies. A aldeia foi reconstruída e quase ninguém vive lá. As casas são quase todas de segunda habitação.


Não achei assim nada de especial.
A histórica estrada 66 segue ao longo da Inter-estatal 40 durante muitos quilómetros. A certo ponto havia uma ponte antiga, já em desuso mesmo pela estrada actual. Parei para fazer umas fotos. Depois de alguns quilómetros a estrada acabava e era preciso ir pela inter-estatal, mas o trânsito era medonho e logo que pude voltei à antiga 66. Numa ocasião a estrada saía para mais longe e até estava quase destruída, havia largas centenas de metros de terra batida.
Passei no Chaco Canyon para ver as ruínas de umas aldeias que teriam sido habitadas até ao século XII.
Na entrada do centro de visitantes estava um sujeito com um telescópio especial para se poder ver o sol. Fui dar uma espreitadela e deu para ver uma mancha solar e uma daquelas chamas que o sol lança de vez em quando.
Aproveitei para comprar um cartão que dá acesso a todos os parques, florestas e monumentos nacionais. Espero que fique mais barato assim.
Dei uma volta pelo desfiladeiro para ver as ruínas mas eram mais umas ruínas.

A estrada para sair do desfiladeiro tinha alguns quilómetros de terra batida que era mesmo terra moída pela passagem dos carros. Foi preciso ir com muita atenção pois aquilo era como manteiga. Tinha de passar em Santa Fe para ir buscar o cartão do banco onde abri uma conta. Em muitas bombas de gasolina quase só se pode meter gasolina com um cartão. Os que tenho nenhum funciona, não sei porquê nem ninguém me soube explicar. Assim também posso transferir dinheiro de Portugal e evitar que o banco me cobre comissões por cada levantamento ou compra que faça com os cartões que tenho.
Com o GPS foi fácil dar com o sítio. O pior foi dar com o cartão. Estavam lá umas pessoas que foram amáveis e procuraram mas não encontraram. Foi preciso telefonar para a senhora do escritório, Angelina, para saber onde estava. Depois de descoberto foi-me entregue sem mais problemas.
O Lou tinha-me dito que em Taos poderia dar uma volta pela montanha que era interessante.
Fui nessa direcção e ao passar na cidade vi umas placas sobre o museu de Kit Carson. Achei estranho mas interessante e fui visitá-lo.
Uma senhora contou uma curta história sobre a vida de Kit Carson e a sua relação com os caçadores e índios, do ódio e apreço que fez suscitar. Também falou sobre uma bandeira, de 34 estrelas, que Kit Carson levantou e desafiou alguém a baixá-la, na altura em que os mexicanos tentavam manter o seu poder sobre a região. Ninguém o fez e por essa razão Taos é uma de catorze cidades com o privilégio de poder ter a bandeira americana hasteada dia e noite. Foi uma visita agradável.
Durante a visita vi uma referência ao monte Pikes Peak. O Eusébio Pedro tinha-me enviado uma mensagem para não perder esse ponto. Achei que deveria procurar novamente pois não o havia encontrado no mapa.

A partir de Taos a estrada seguia pela Floresta Nacional de Carson e mais à frente vi um parque de campismo e fiquei aí. Procurei no mapa e encontrei o monte Pikes Peak. Estaria a uns 400 quilómetros e teria que dar uma a volta por cima e ir ver esse ponto onde em tempos se subia a rampa com carros de rali.
Essa noite foi meio fria. Já há muito tempo que não dormia na tenda e estava a uns dois mil metros de altitude no meio da floresta.
Realmente a volta pelas montanhas foi muito porreira. Estrada boa para rodar e paisagem maravilhosa.
Em Eagles Nest tinha de cortar à esquerda para chegar à estrada principal. Desta vez era a descer e voltou a ser planalto.
Foi sempre a rodar até Colorado Springs.
No início da subida para o Pikes Peak havia um posto de controlo para cobrar 10 dólares. O cartão que havia comprado uns dias antes não dava para esta montanha.
A subida foi espectacular. A estrada está quase toda asfaltada e apenas tem alguns em terra batida mas de bom piso. A certa altura, talvez nos três mil metros, começou a fazer um pouco de frio mas nada de grave. A neve também apareceu mas nas encostas e na berma da estrada.


Lá em cima havia bastante neve mas não fazia muito frio. Custava a respirar e tive de lembrar-me que estava a mais de 4.200 metros para andar devagar de um lado para o outro.

Na descida parei algumas vezes para apreciar e tirar umas fotos. Também pensei algumas vezes na loucura que seria fazer toda aquela rampa de terra batida, uns 30 quilómetros, nos carros de rali.

Voltei à cidade e depois de almoçar fui ver se encontrava alguma oficina para trocar o pneu da frente que já está a precisar, além de evitar multas com a polícia. Perguntei onde poderia encontrar uma oficina mas foi preciso dar umas voltas até me indicarem uma.
Azar, era segunda-feira e estava fechada.
Tive de voltar lá para trocar o pneu. Apesar de não ter hora marcada trocaram-me mas tive de esperar até depois da uma da tarde. Um casal alemão não teve essa sorte pois queriam trocar todos os pneus. Compraram-nos e carregaram com eles.
Enquanto esperava vi alguns modelos de moto diferentes das que vemos em Portugal.

Ainda fui ver o Parque Garden of Gods. Um parque com umas formações rochosas muito bonitas.

Agora vou seguir a caminho do oeste para o Arizona.
Lembrei-me dos filmes do oeste, de cowboys como lhes chamávamos, quando um daqueles arbustos secos que passavam nas ruas das cidades a rolar também passou à minha frente num dia de vento. Só faltavam mesmo os índios.
Este país é muito grande e tem muito para se visitar o problema é que é preciso pagar para entrar em todos os lados e não é pouco. O nível de vida é demasiado elevado mas espero aguentar até ao fim do planeado.

Manitou Springs, N 38º 51,337’ W 104º 52,831’

7 comentários:

JFAlves disse...

Olá Queirós,

Continuas a deliciar-nos com as tuas histórias de viagem. Os sítios por onde passas e a grande Transalp.
Ainda a semana passada falei sobre ti na Mototrofa. O mecânico que fez o check-up à minha foi o mesmo que fez a revisão à tua. Eles, naturalmente, também se sentem orgulhosos dos teus feitos com essa fantástica máquina!

Continuação de boa viagem.
Espero que além dos arbustos secos também te passe à frente alguma daquelas boas Sioux que apareciam nos filmes de cowboys! ;-)

Joaquim (Trans)Alves

Anónimo disse...

Queiros,

um grande abraço e força nessa Terra dos Cowboys.

Rui Baltazar

Anónimo disse...

Mister Queirós

O país é grande, mas tem uma vontade ainda maior de o conhecer. Vai a todos os lugares que devem ou deviam ser vistos. Não tenhas pressa "Take it easy my brother!"

Rola bem / "Drive safe"

Valente / MCP

Anónimo disse...

E o John Wayne?
Já viste o John Wayne?

Grande viagem. Esse parque das formações rochosas tem muito bom aspecto, amigo Queirós.

Foge ao trânsito e continua a oferecer-nos essas paisagens e experiências.

Cuidado com o Jerónimo. Ainda te tira o escalpe.

Abraço
Nestes

Anónimo disse...

Grande Queirós! Continua com a tua aventura que sou um aficionado na leitura das tuas crónicas.

Um abraço e boa sorte

Mário Almeida (falcaodonorte)

fernando_vilarinho disse...

Queirós em poucos dias foi um rol de insígnias americanas: as pumpjack (essa era petiz demais, tens de mostrar uma daquelas bigs, tipo da série Dallas), os ET's de Roswell, a mítica “Route 66”, o sublime Parque Garden of Gods, o Pikes Peak (a 2ª montanha mais visitada do mundo depois do monte Fuji, no Japão).
Tás contratado para documentarista da National Geographic! E eu ganho 20% do contrato ;)

Mais de 55 mil km de asfalto é só para quem sabe! Parabéns e segue sempre pelo Bom caminho ;)

Abraço

JFAlves disse...

Era dois meses mais tarde, a 19 de Julho... e, além da tua Transalp, subias acompanhado de mais umas grandes máquinas:

http://desporto.autohoje.com/index.php?option=com_content&task=view&id=3500&Itemid=52

:-)))