domingo, maio 18, 2008

Ainda pelo norte, Salta

Na segunda de manhã estava com a ideia de subir ao cerro de San Isidro mas não deu para ir.
Ao fim destes meses todos (ei! Já são sete), a moto não pegou pela manhã. Ainda tentei com a ajuda de um argentino ligando uns cabos do carro dele à moto mas mesmo assim, nada.
As velas já tinham vinte e cinco mil quilómetros e como normalmente ando devagar estavam mais sujas e o motor encharcou. Não pegava mesmo.
Como disse, por norma rolo entre os oitenta e cem quilómetros por hora nas estradas de asfalto, mas muitas vezes vou ainda mais devagar para poder ir apreciando melhor a paisagem. Nas estradas de terra procuro não passar dos cinquenta quilómetros por hora. Assim tento evitar mais uma queda ou furo. Desta forma os consumos também são reduzidos.
O argentino ia passar pelo centro da cidade e levou-me até uma oficina de motos. Só que aí não havia as velas indicadas e comprei umas que o mecânico disse que também davam.
Voltei ao parque de campismo e pensei: agora há que mudar as velas! E as duas por debaixo do depósito?
Depois de uma volta à moto vi como podia levantar o depósito, só que por azar tinha atestado no dia anterior e estava pesado, mas consegui trocar as quatro velas.
Valeu a pena. Pegou logo. Mas com todo este processo, até porque por aqui nunca há pressa, desisti de subir ao cerro pois as pernas também me doíam da subida à cascata do rio Colorado. Já há muito tempo que não fazia uma caminhada mais puxada.
Assim no dia seguinte saí de Cafayate pela Ruta 68 em direcção a Salta. A Quebrada de Cafayate tem um rio que corre num vale entre paredes rochosas quase sempre num tom avermelhado. Parece um “Canyon” com as rochas a tomar as mais diversas formas.



Em Salta procurei um hotel para ficar mas nos dois que perguntei não havia lugar. No posto de turismo informaram-me onde era o camping. Não tinha visto nenhum sinal.
Perguntei se o “Tren a las nubes” estava em actividade e disseram-me que não, só no mês de Julho. O “tren a las nubes” é um comboio turístico que vai de Salta, a cerca de 1.200 metros de altitude, até depois de San Antonio de los Cobres a 4.200 metros de altitude.
No camping encontrei o Hartmut, alemão que conheci em Azul. Foi até à Patagónia e agora vai a caminho da Bolívia.
Um dia chegou para conhecer um pouco da cidade. Salta é uma cidade bastante grande. Tem uma pequena colina que se pode subir para ver uma panorâmica da cidade mas não estava com vontade para caminhar. Fui visitar o museu antropológico que me desiludiu um pouco. Tem algumas coisas interessantes mas é muito pequeno. Decididamente, visitar museus não é o meu forte.


Como não há comboio para ir “a las nubes” tive de utilizar a moto.
O vale é muito bonito mas também seco. Na parte inicial da subida um pequeno rio corre no meio do cascalho que cobre um vale bastante largo. A linha do comboio fica na encosta do outro lado, mas ao fim de poucos quilómetros atravessa o rio e passa a ir ao lado da estrada.
Depois de uns quilómetros de terra começa uma estrada de asfalto muito bem conservada e óptima para fazer de moto. Só que é preciso cuidado para não distrair com as formas que as rochas têm e os cactos que crescem por todo o lado, mesmo no meio das rochas.
Vêem-se pequenas aldeias, muito poucas, ao longo da estrada e às vezes casas isoladas no meio daquele deserto.
Várias vezes a linha do comboio e a estrada se cruzam pelo vale acima.



San António é uma cidade bastante grande, para o sítio, e aí tive de perguntar qual o caminho para ir ver o viaduto mais famoso na linha do comboio, o Viaducto La Polvorilla. Ainda mais vinte quilómetros à frente, numa estrada de terra que nalguns pontos estava meio degradada.
Tiradas as fotos da praxe tive de regressar. Voltar a fazer quase cento e setenta quilómetros, agora a descer, parte em terra batida e parte em asfalto para não chegar de noite era o objectivo. Cheguei mesmo ao cair da noite.
Por agora estas subidas às altitudes de 4.000 metros nao me têm afectado. Apenas sinto um pouco de falta de ar mas inspirando fundo algumas vezes fico bem. Dores de cabeça ainda nao sinti por causa do mal das alturas. Espero continuar assim, quando mais para a frente chegar a ir aos 5.000 metros.




Não notava nada de especial em andamento com as velas que tinha, apenas de manhã o motor demorava um pouco mais a aquecer. Parecia-me.
Na sexta de manhã fui comprar as velas certas e óleo para mudar. O óleo já tinha seis mil quilómetros e assim tratava de tudo ao mesmo tempo. As quatro velas pouco mais custam que uma em Portugal.
Antes do meio dia ainda fui levar o banco da moto a um estofador para trocar a capa. A que tinha já estava a abrir e era melhor reparar tudo de uma vez. Tantas vezes a moto ficou ao relento ao frio e durante o dia ao sol que a napa acabou por ficar seca e estava a desfazer.
O Hartmut também anda às voltas com um problema eléctrico e já tentou várias oficinas mas não conseguem resolver a coisa.
O banco ficou bom, pelo menos parece, e custou apenas 30 pesos, seis euros.
No final uma lavagem da moto que bem precisava.
Esta semana com o Hartmut tem sido bem interessante. À noite vamos até ao centro beber um copo e apreciar a vida nocturna.
Ainda vou ver os dias que vou ficar por aqui.
Km 13734, Salta, S 24º 48,728’ W 65º 25,170’

7 comentários:

Anónimo disse...

Como queres velas se a Bela ficou aqui? Olha a tua Santa, está às voltas com as marchas de Stº António! Versos, cantorias, ensaios, adenalina ao máximo! É fantástico ouvi-la falar com a Alice e a desenharem estratégias e pormenores! Tu bem sabes como é! Continua a tua aventura que nós por cá vamos rolando! E felizes com o Trofense na 1ª divisão nacional!
Beijinhos
Belacruz

Anónimo disse...

Olá Amigo Queirós!! Não te esqueças da menina (a transalp) continua a dar-lhe mimos, porque ela e o seu motar ainda tem muitos Kms pela frente, para levar a bom termo a grande aventura.
Apenas te quero deixar uma dica: se poderes legenda as fotografias, para os teus atentos leitores ter uma melhor compreensão do que vemos.
Um abraço e boas curvas...
Mário Almeida (falcaodonorte)

Anónimo disse...

Olá AntónioQ

E querias tu que as velas durasse, eternamente, já em Abril te queixaste delas e ainda duraram até agora...Mais uma vez Parabéns pela excelente viagem e crónica, Continuação de excelentes passseatas

Abraço V

Transouto

Anónimo disse...

Pois é Queirós, estás a ver o que os nossos descobridores sofriam a andar à "Vela".

Sim senhor, vais regressar daí um verdadeiro informático, mapas e tudo. Parabéns.

Agora uma moto de 2 cilindros e quatro velas é mesmo só para dar trabalho, mas se fores limpando regularmente as duas que tens fácil acesso vais ver que a menina pega melhor. E não te esqueças de limpar o filtro de ar, pois não és só tu que ficas com falta de ar com a altitude. E a rolar sempre por estradas de pó, já sabes.

Um grande abraço e continuação de boas "Férias".

Mustafá disse...

Caro Queirós continuas em grande.
A Transalp é efectivamente uma grande moto. Se a tratares com o carinho que ela merece levar-te-á a dar várias voltas ao Mundo...
Como vais de orçamento?
Tem cuidado que os preços no Chile são muito elevados segundo o Gonçalo.
Se te faltar que fazer à noite e quiseres dar uma vista de olhos na Net podes espreitar o blog cronicasdevadiagem.blogspot.com é dum tipo que tem coração grande e bolso pequeno como dizem os marroquinos. Não é tão interessante como o teu mas sempre dá para ver caras tuas conhecidas.
Continua a divertir-te por ti e por nós que vamos à tua pendura.
Um grande abraço.

Anónimo disse...

Um grande abra�o amigo! Ant�nio Marques

Anónimo disse...

Um grande grande abraço e parabéns por nos deixares ir também.
É óptimo para se manter o sonho...
E eu que tenho todos os dias de ir para o banco!
Que mais se pode dizer? Continua que vamos contigo.
Abraço
Eduardo