Páginas

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Na Colômbia, país do café

Esta saída de Ibarra parecia quase como a partida de casa, uns largos meses atrás.
Depois de seis semanas com esta família, foi como começar uma nova viagem. Levantei-me de madrugada para me despedir dos miúdos e dos mais graúdos pois entram muito cedo, às sete da manhã, na escola. O mais velho ia trabalhar também a essa hora.
Voltei a dormir um pouco e só pelas dez e tal da manhã arranquei. Agora com uma despedida dos pais e da avó.
Choveu durante a noite e ainda pensei que teria de adiar por mais um dia a partida mas a chuva parou já de manhã. Manteve-se sempre uma neblina que não permitia tirar fotografias em condições durante o percurso até à fronteira.
A burocracia nem foi tão complicada como me disseram que seria. Confirmei que tinha de comprar e usar um colete reflector com a matrícula da moto. Espero que uma lei como esta não se venha a aplicar em Portugal, apesar de há uns anos já se ter falado nisso a nível de União Europeia.
A estrada até Pasto segue por um vale muito agradável mas tem umas bermas muito estreitas e não dá para parar.


Há muitos camiões e quando se cruzam é perigoso estar parado nesse ponto.
Quando entrei nessa cidade fiquei impressionado com a quantidade de motos a circular. São de pequena cilindrada, vi muito poucas com mais de 200 cc., e ainda se vêem muitas a dois tempos. Noutros países quase só via motos a quatro tempos.
Ao procurar um hotel, um taxista indicou-me uma zona onde havia bastantes à escolha mas só vi um com espaço coberto para guardar a moto.
Na saída de Pasto tive de atravessar a cidade e a certa altura um condutor perguntou-me para onde queria ir. Foi simpático da parte dele indicar-me a saída para Popayan.
As encostas das montanhas têm muito mais árvores que no Equador. Aí quase só se via erva.
Subindo e descendo, dos 3.000 até aos 2.000 metros e à s vezes menos, a estrada com muitas curvas seguia ao longo de um rio lá no fundo.
Nas subidas era impressionante o som dos motores dos camiões. O trânsito é muito intenso e muitas vezes as linhas duplas não existem, senão nunca mais se chega ao destino.
Até El Bordo a estrada tinha um piso impecável e bem marcado, até vi uns trabalhadores a lavar os rails. Não me lembro de ter visto isso em Portugal. A partir daqui a estrada começou a estar bastante degradada apresentando muitos pontos com desníveis acentuados por causa de aluimentos e às vezes buracos.
Em Popayan havia ruas fechadas por obras e depois de uma volta pelo centro sem ver um hotel onde ficar decidi seguir na direcção de Cali e ficar mais fora da cidade. Encontrei um pequeno, mesmo à saída. Não é grande coisa mas tem espaço para a moto.
A manhã estava de sol e fui ao centro ver como era a cidade. As ruas estavam bastante limpas e as casas todas pintadas de branco. Não vi grandes monumentos mas também já vi de sobra.
Depois de almoçar passei numa ponte antiga coberta de tijolo burro, como chamamos a esses pequenos tijolos maciços.

A chuva ameaçava cair e regressei ao hotel, seriam umas três horas. Passei no mercado e vi as pessoas que se preparavam para regressar às suas aldeias com as compras ou vendas feitas.
Pouco depois começou a chover e bem até ao final da tarde.


Havia um grupo de anões no hotel. Quando estava a preparar tudo eles fartaram-se de me fazer perguntas sobre a moto e a viagem. Era um grupo que fazia exibições tauromáquicas.
A estrada até Cali continuava pelas montanhas mas lentamente desceu para um planalto onde as plantações de cana de açúcar enchiam todos os espaços disponíveis. Próximo da cidade passou a ser uma estrada com duas faixas para cada lado quase como uma auto-estrada.
Alguns comboios, camiões com quatro e cinco reboques, circulavam pela estrada transportando a cana.
Ao passar em Cali parei para abastecer. Logo a seguir juntou-se um grupo à minha volta querendo saber tudo sobre mim e sobre a moto. Estive mais de meia hora na conversa.
Mas o calor começou a ser bastante e a fome também por isso arranquei para ir almoçar já fora da cidade.
Num dos muitos controlos policiais que há ao longo da estrada, não falando dos controlos do exército, a polícia mandou-me parar para verificar os documentos. Como tinha tudo em ordem um deles pergunta-me pelo seguro. Eu disse que não tinha, que não tinha conseguido arranjar nestes primeiros dias na Colômbia. Ele deixou-me seguir sem me multar mas dizendo que se daqui a mais uns dias não o tivesse poderia ficar com a moto presa até conseguir um.
Tenho de ver se consigo o SOAT, seguro obrigatório para acidentes de trânsito, aqui em Arménia antes de continuar. É que os controlos são mais que muitos e nalgum deles vou ter de parar outra vez.
Já muito próximo desta cidade começou a chover. Já por duas ou três vezes por volta das quatro da tarde a chuva aparece. Penso que vou ter de parar antes desta hora para evitar a chuva. A época da chuva é agora mas disseram-me que este ano não tem chovido muito, sorte a minha.
Entrei em Armenia debaixo de chuva, já mais suave, procurando um hotel onde ficar. Não vi nenhum com garagem e num que me pareceu melhorzito ainda perguntei mas além do preço alto também não tinha garagem. Mais à frente vi um que apesar de não ter garagem era metade do preço do outro. Tem condições razoáveis, apesar do quarto ficar virado para a rua e o barulho ser bastante. A moto teve de ficar num “parqueadero” coberto na rua ao lado e mesmo com o preço a pagar, 3-000 pesos por dia mais 3.000 por noite, ainda não será muito caro.
Para já parece que os preços não são maus.
Quando fui dar uma volta pela cidade não faltaram pessoas a pedirem-me dinheiro, se calhar tenho cara de turista, e senti algum receio em andar pelas ruas. Talvez por causa dos roubos em Lima e também porque todos dizem que é meio perigoso.
Na praça Bolívar havia um grupo a tocar música tradicional e aproveitei para tomar um café expresso, quase como os de Portugal, num quiosque ao lado e ouvir um pouco dessa música. Afinal a Colômbia tem o melhor café do mundo.

No fim do almoço ainda fui tomar um tinto. Não era vinho mas uma taça de café negro.
Só me falta dizer que o ombro tem-se aguentado sem me cansar. Apenas quando necessito de puxar a moto para manobrar ainda sinto alguma falta de força, talvez medo de forçar. Com a paragem os músculos estão meio atrofiados e também pode ser disso.
A terapeuta tinha-me dito que poderia seguir e que para recuperar totalmente ainda teria de aguentar mais um par de semanas. Espero bem que sim.

Armenia, N 04º 32,177’ W 75º 40,410’

15 comentários:

  1. Olá
    finalmente na estrada...
    As saudades são muitas, mas as saudades das tuas crónicas também já estavam a apertar...

    Abraço
    Paulo, Natalia e Isa

    ResponderEliminar
  2. Até que enfim...........
    Mais uma boa cronica e com boas fotos.
    Esceveste mesmo "cana de açucar"???
    Não seria "gesso" ??
    Boa viagem e até à próxima.

    Graciano

    ResponderEliminar
  3. Ainda bem que foste razoavel na tua decisão de continuar e logo verás que não te arrependes. Já estás ao teu melhor, segue com calma, e atenção que há opiniões contraditórias sobre a segurança na Colômbia mas nunca fiando!
    Abraço e coragem.
    Carlos A

    ResponderEliminar
  4. É bom ver novidades por aqui!
    Café de Colombia... é famoso mas nas bandas da América do Sul senti a falta da "bica"!
    Um abraço e Bon Camino!

    tigusto

    ResponderEliminar
  5. Que saudades tinha destas cronicas.

    Força Queiros
    Um grande abraço.
    Rui Baltazar

    ResponderEliminar
  6. Muito bem Queirós, fico feliz de te ver de novo no activo, boa viagem e boas fotos....

    ResponderEliminar
  7. Hola Tio!!
    Finalmente...voltaram os teus relatos emocionados... e segues de novo o teu e o nosso sonho!!!!!
    Força!!!
    Beijinhos e saudades

    Paulinha

    ResponderEliminar
  8. Assim sim Queirós, como vês o ombro, bem como o resto, estão como o aço (já pareço o Nestinho...). Realmente estas crónicas cheias de fotos soberbas já faziam falta por estas bandas...

    Grande abraço e continuação de boa viagem

    Tosta

    ResponderEliminar
  9. Caro Reformado é com muito prazer que te "vejo" de volta à estrada.

    Já se nota pela tua escrita que o astral está a regressar à forma habitual.

    Um grande abraço.

    Mustafá

    ResponderEliminar
  10. Sempre a rolar !

    Sempre a bombar !

    Queirós sem parar !


    Valente - MCP

    ResponderEliminar
  11. Colega Queirós, a tua paragem já estava a causar estragos numa das minhas formas preferidas de levantar a mural (ler os relatos e imaginar como é), sempre que as coisas não correm tão bem.
    Mas o que interessa é que estás melhor e já rolas por essas estradas.

    As melhoras e um abraço

    Nuno Moncorvo

    ResponderEliminar
  12. Boas,
    Até parecia que faltava alguma coisa... sem ler as tuas crónicas ;-)
    Continua, sempre por bons caminhos!
    E para comemorar o teu regresso à estrada, vou beber um tinto.
    Do a sério! :-)))

    ResponderEliminar
  13. Ficámos todos contentes que o teu retorno à exploração-mor desses territórios bem latinos esteja correr o melhor possível.
    Cada país da América Latina tem as suas particularidades e a Colômbia então tem diversas.
    Entretanto, o Chávez foi falar com o Fidel para o avisar que já estavas a caminho. Tb já tens lá uns bons charutos reservados ;)

    Votos de continuação de Excelente Viagem,
    fernando

    ResponderEliminar
  14. Great Queirós!

    Assim, sim!
    Nota-se que estavas cheio de vício. Não há hotel? Arranca-se já para a próxima cidade!
    E até a escrever estás com mais pica.

    Força!
    Grande abraço
    Nestes

    ResponderEliminar