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sábado, fevereiro 28, 2009

Já no norte da Colômbia, no mar das Caraíbas

Antes de sair de Arménia tinha de arranjar um seguro para não ter problemas com a polícia. Perguntei num pequeno escritório mas só me faziam um seguro para um ano. Mesmo assim indicaram-me um outro local onde poderia tentar ver se conseguia um para um tempo mais curto, 60 dias que me deram na entrada da Colômbia. Depois de uns telefonemas as moças do escritório conseguiram fazer-me um seguro para esses dois meses. Foi muito mais barato.
A estrada até Ibagué tem de atravessar as montanhas, a Cordilheira Ocidental, e vai num sobe e desce cheio de curvas. Os camiões são muitos e é preciso sair rápido depois de uma curva para conseguir ultrapassar com um mínimo de segurança. Como outros faziam o mesmo, de longe a longe aparecia um carro ou até um camião a ultrapassar outro mesmo a entrar nas curvas. Todos nos encolhíamos e felizmente nunca houve azar. A velocidade também era baixa.
Na saída de Ibagué segui a primeira indicação de Bogotá e comecei a estranhar ver muito poucos camiões. Quando parei para meter gasolina perguntei se ia bem para Bogotá e disseram-me que sim. Comecei a ver no mapa os nomes das localidades que ia passando e vi que tinha metido por uma estrada secundária. Era bastante boa e não tinha muito trânsito. Se calhar nem foi mau ter seguido essa estrada.
Quando a estrada desceu até uns 400 metros de altitude o calor começou a apertar. Tive de tirar o forro interior do blusão pois transpirava demasiado. Já na aproximação a Bogotá, tive de o voltar a vestir pois o frio começou a aparecer. A altitude voltava a aumentar até uns 2.600 metros, nível onde se situa a capital.
Mas já muito perto da cidade o trânsito era infernal. Com três filas de carros e camiões a rolar quase a passo nem a altitude conseguia amenizar o calor que sentia vindo de todos os motores a trabalhar. E as motos! Eram mais que muitas e sempre passando no meio das filas. Eu também ia tentando passar sempre que podia mas não queria arriscar muito.
Mesmo ao entrar na cidade, na periferia, começou a chover. Perguntei onde poderia encontrar um hotel e tentei seguir as indicações mas com a chuva e o trânsito é difícil manter o rumo. Encontrei um meio caro, 23 € por noite mas era um bom hotel. Depois vim a saber que nessa zona era tudo dentro desse preço. Havia a Feira da Moda de Bogotá num parque de exposições mesmo perto e até foi uma sorte encontrar um quarto vago.
Fui dar uma volta pelo centro da cidade mas não gostei muito do que vi. Parece e é uma cidade muito velha e por todo o lado havia casas e prédios degradados e a cair. Também é certo que havia obras em muitos sítios mas mesmo assim não gostei muito da cidade.
Por aqui as motos também são ao magotes, até vi um bairro, se se pode dizer isso, em que várias ruas quase só tinham oficinas e lojas de acessórios para motos. Aproveitei para comprar umas luvas. O par que tinha para usar nas horas de calor já derreteu. Não sei quantas vezes já cosi e pus uns remendos nas luvas. Agora estavam mesmo a ficar muito esburacadas.
A passagem por Bogotá foi só para conhecer uma pessoa. Tentei telefonar-lhe e ao fim de algumas tentativas consegui falar-lhe e marcar um encontro para essa noite para jantarmos juntos. Era a mãe da Giovanna, que conheci há uns tempos na Argentina. Ela insistia que quando passasse em Bogotá deveria conhecer a mãe.
Foi um serão muito agradável e a senhora era muito simpática.
No meio da conversa falámos nos pontos a visitar e ela disse que não deveria perder Villa de Leiva e Medellin. Eu ainda disse que não queria entrar nas cidades grandes mas ela insistia que Medellin não podia faltar no meu roteiro.

Quando nos despedimos fez-me prometer que se um dia voltasse à Colômbia tinha de voltar a visitá-la. Eu só prometi que sim.
No dia seguinte fiz um desvio para Villa de Leiva. A Giovanna já me tinha falado dessa terra e num dos guias que comprei dizia que merecia a pena uma visita.
Desta vez nem me enganei a sair de uma cidade grande como já me tem acontecido noutras. A estrada até Tunja estava cheia de obras. Em muitos pontos era preciso parar por causa das faixas de rodagem fechadas. Mas a paisagem ia compensando apesar de chuviscar, por vezes.
Ao início da tarde cheguei a Leiva. Depois de encontrar onde ficar ainda fui dar uma volta pela vila que não era muito grande. As ruas mais centrais estão calcetadas com pedras irregulares e para andar por ali magoava os pés e os tornozelos. Até quando cheguei na moto custava, por ter de ir devagar. A praça central era grande, li que seria a maior praça da Colômbia, também com pedras irregulares. A vila ainda mantém todo o casario como se fosse do tempo da sua fundação, quase não há casas novas. Mas tudo bem conservado e limpo.


Um par de horas foi suficiente para visitar a vila e no dia seguinte já dava para continuar.
Para ir em direcção a Medellin teria de atravessar a cordilheira central por uma estrada de terra. Perguntei como estaria e disseram-me que não devia ir por lá. Como estamos na época de chuvas a estrada estaria cheia de lama e seria perigoso. Poderia haver deslizamentos de terra.
Até os camiões ficam atolados, disse uma das pessoas.
Teria de voltar quase a Bogotá para seguir para norte outra vez. Havia uma outra estrada mais pelo interior que era bastante boa e sem muito trânsito.
Ao fim de uns quilómetros havia carros parados. Fui avançando a pensar que haveria um controlo ou algum acidente. Felizmente nada disso, apenas uma árvore que tinha caído e bloqueava a estrada. Mas já lá estavam alguns homens a tratar de desimpedir a passagem.
Nos arredores de Bogotá foi mais complicado passar pois não havia grandes indicações e o trânsito era demasiado.
Depois de Chia e do desvio para Cota começou a chover. Tive de vestir o fato de chuva pois era mesmo chuva forte e estava escuro para onde me dirigia. Felizmente parou de chover ao fim de alguns quilómetros, mas ainda terei andado mais de meia hora à chuva.
Cheguei a Honda ao final da tarde. Pensei que daria para fazer mais quilómetros mas o trânsito de camiões e a estrada nas montanhas não deixam andar mais depressa. Mas o que é preciso é chegar bem.
À noite, depois de comer, estive na conversa com o dono do hotel, o John, e uma empregada, a Pilar, um filho, o Diego, e um sobrinho, o Óscar. Fazia calor e andava muita gente na rua. Foi agradável estar ali umas horas.
O calor nem durante a noite abrandou e pela manhã até custava vestir o blusão com o calor, mas tinha de ser.
Mais montanhas e muitas curvas depois e estava perto de Medellin.
Uns motociclistas colombianos que tinha conhecido no Equador indicaram-me um hostal onde ficar mas só me deram o nome e o telefone. Entrei na cidade e a certo ponto tive de parar e pedir para telefonarem por mim a perguntar a direcção. Falar ao telefone é mais complicado perceber o castelhano desta gente.
Consegui chegar à zona mas não atinava com o lugar. Aquele quarteirão estava meio difícil de entrar. Tive de ir em contramão durante alguns metros e afinal o hostal não tinha garagem para a moto por estar com obras. Tive de ficar noutro um pouco mais acima.Andei às voltas por Medellin e gostei mais desta cidade do que de Bogotá. Por onde andei também vi alguns pontos com casas meio velhas mas no geral pareceu-me uma cidade moderna e com muita actividade.


Li que depois da guerra com os cartéis da droga a cidade começou a prosperar e agora está num nível de desenvolvimento elevado. Vêem-se muitos prédios novos e bairros bem arranjados.

Nao podia faltar uma passagem pela "Plazoleta de las Estatuas", de Botero.

Continuei para norte e ao longo de muitos quilómetros a estrada segue ao longo do rio Cauca. Sente-se e vê-se que é uma zona tropical. O calor é muito e a floresta que ocupa alguns espaços ainda não devastados pelo homem é muito densa.
As fazendas para criação de gado seguem-se umas às outras ao longo da estrada.
Nas casas ou melhor barracas que também se vêem ao longo da estrada as pessoas aproveitam as sombras para se tentarem refrescar e vender alguma coisa a quem passa. Mesmo a mim, apesar de ir de moto, ofereciam peixes enormes e gritavam para apregoar as suas mercadorias: fruta ou sumos e outras coisas mais.
Alguns quilómetros antes da costa o rio tinha alagado as margens e ainda se viam grandes extensões de água parada.
Passei por Barranquilla mas nem parei na cidade. Pareceu-me sem interesse e fui ficar numa povoação uns quilómetros à frente, Puerto Colombia.
Fui até à praia mas havia muito vento e as ondas faziam com que a água estivesse muito suja. A areia é muito escura e fina. Mas havia gente na praia.
Segui para Cartagena onde cheguei ao início da tarde. Mais uma vez um calor sufocante enquanto procurava o Hotel Holiday que a Carola e a Katharina me tinham indicado e onde poderia encontrar informação para passar para o Panamá.
A estrada através do Darien Gap não é transitável ou melhor dizendo deixou de existir há muitos anos. Foi abandonada quando as FARC andavam mais activas nessa região e a floresta voltou a tomar conta do espaço desbravado.
Mas antes de acabar por agora só uma foto do colete que tive de comprar quando entrei na Colômbia. Havia os verdes e cor de laranja mas o preto não destoava muito com o fato.

Cartagena, N 10º 25,343’ W 75º 32,694’

12 comentários:

  1. Boas Queirós,
    Estava a estranhar ausência e acaba de cair o teu post!
    Pelo relato parece estar tudo tranquilo na Colombia. Não há indícios de insegurança? Há forte presença de polícia? Pelo relato do Gonçalo cadilhe a Colombia é um pais perigoso registando-se milhares de vitimas de rapto e violencia. Qual a tua opinião?
    Abraço e continuação de boa viagem.

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  2. Já estava com saudades destas crónicas de viagem, sempre com fotos e relatos espectaculares.
    Pelo que vejo o último incidente já passou á história... e p'rá frente é que é caminho.
    Um abraço
    Mário Almeida (falcaodonorte)

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  3. Com colete vetido pareces um dos irmãos metralha.
    Bos viagem

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  4. Tio!

    Tu és um espanto!! Imparável!!! As fotos continuam excelentes!
    Mtos Beijinhos

    P

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  5. Caro António "Metralha" Queirós, fico contente por te ver animado seguindo viagem.

    Já passaram uns mesitos largos desde que estivemos na cavaqueira no MCP. Apesar de seguir as tuas crónicas com a maior atenção confesso-te que me fica sempre a vontade de saber mais...

    Aproveita bem o teu tempo e prepara-te para seres muito assediado pelos que, como eu, querem saber mais profundamente das tuas aventuras.

    Um grande abraço.

    Mustafá

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  6. Caro Queiroz

    Força,os relatos fazem nos sonhar.

    um Abraço
    Rui Baltazar

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  7. Caro amigo, eu estou em Antofagasta e pensava mudar o meu rumo para o norte, mas depois de ver o teu colete com a matricula prefiro rapar todo frio do mundo e ir ate a Terra do Fogo...
    Um grande abra+}o e boa sorte..

    Em Cartagena existe uma companhia que faz o transbordo ate Colon durante 3 dias, estilo cruzeiro de refugiado. Informa-te bem porque parece que os precos ate compensam.

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  8. Boa António... Segue o teu rumo! Se resististe este tempo de espera já nada te fará parar! Fico feliz por ti! Tem cuidado com essas paragens! Por cá continuamos todos a torcer por ti! E como é este o ano do teu regresso vamos já começar a organizar a tua recepção à nossa TROFA! Vamos constituir uma "comissão" para que daqui a nove meses te possamos receber com poupa e circunstância! Aceitam-se inscrições nesta comissão de festas! Sê feliz!
    Beijinhos
    Belacruz

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  9. Já tás matriculado de costas e tudo LOl ;-) bom ver-te por aí, que isto por cá tá a animar os MR a começar o Lés a Lés a chegar... e tu a passear! Boas Fotos, bons relatos,um a boa viagem!

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  10. Viva, Queirós Metralha!

    Pelo tamanho do texto e quantidade de fotos, nota-se que estás cheio de vício.
    Essa viagem está a ganhar piada.
    Obrigadão, Queirós.

    Grande abraço
    Nestes

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  11. Olá Queirós

    Ainda bem q está tudo a correr sobre rodas.

    Quero saber como vais levar a moto para o Panama (avião ou barco?).

    Grande abraço !

    Valente - MCP

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  12. Toma cuidado com agenciadores .para a travessia via cartagena panamá.já li relatos de que pagararam duas vezes e não havia nada. tem muitos vigaristas..
    deve ter muita atenção com preços
    vantajosos ...
    que continue com uma ótima viajem.
    ZANETTI

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