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terça-feira, outubro 28, 2008

Passagem pela ex-Carretera de La Muerte e por Los Yungas

Havia uma razão que me fez voltar à Bolívia: passar na ex Estrada da Morte.
Sempre se falava nessa estrada e eu queria passar por lá para ver como era.
Quando saí de La Paz estava sol mas depois de subir até La Cumbre apareceu a chuva nessa zona. Descendo para o início da estrada da morte a chuva e o nevoeiro eram constantes. O piso era regular e dava para passar bem. Se calhar o início não meteu medo pois não se via a altura onde andava.
A estrada é estreita e só de longe a longe há espaços para cruzar veículos. Realmente deveria ser assustador andar por aqui na época em que havia trânsito. Agora há uma estrada nova e pela antiga só os ciclistas a descerem ou algum motociclista louco como eu.
Passar nalguns dos pontos que tinha na memória, de ver em alguns programas de televisão, foi emocionante. Lembrar imagens de camiões a passar por ali fez-me pensar no que seria nesses tempos.
Só mais abaixo no vale não havia nevoeiro e era possível ver a altura, mesmo assim, onde passava a estrada.
Em Coroico também estava mau tempo e choveu quase toda a noite.
No dia seguinte continuei para fazer uma ronda pelos Yungas, zona onde vivem os indígenas com esse nome e entra um pouco na floresta amazónica. O Chuck tinha-me dado os trajectos de GPS e fui seguindo o percurso feito por ele.
Até Caranavi a estrada parecia a continuação da estrada da morte.
Também era estreita e havia alguma lama causada pela chuva da noite anterior. Muitas vezes era preciso encostar para deixar passar os veículos de frente, em especial os camiões.

Nesta parte também se conduzia pela esquerda e alguns sinais lembravam-no.
Mas a paisagem era espectacular.
Cheguei a Guanay ao final da tarde e arranjei um pequeno alojamento no centro da cidade que não é grande. O que falta é a gasolina, sempre um problema na Bolívia e agora ainda mais. Em duas bombas de gasolina não havia combustível. Ainda tinha para mais uns 150 quilómetros. Deve arranjar-se nalgumas povoações, mas a preços de mercado negro.
Subindo e descendo a estrada, melhor caminho, atravessa zonas espectaculares. Vê-se a floresta e as montanhas. Passa por alguns povoados pequenos.
Numa das partes mais baixas foi preciso atravessar um rio. Achei que levava muita água e também era um pouco largo. Ainda me meti à água mas tinha muita pedra. Duas pessoas que estavam ali prontificaram-se a ajudar-me e atravessei com a moto à mão ajudado por eles.
O rio teria uns 40/ 50 metros de largura e a corrente era forte. Melhor assim que cair. A água dava por cima dos joelhos.
... foi preciso pôr as botas a escorrer um pouco!
Em Mapiri tive de comprar um pouco de gasolina numa loja, não havia “surtidor”. O vendedor disse-me que a partir dali a estrada seria pior, com muita pedra e algumas subidas aos "SS". Ele ainda disse que a estrada até ali estava boa e depois estava pior. Se era assim como iria ser para a frente, nem imaginava o que me esperava.
Realmente a estrada era do piorio. Muita pedra solta, subidas e descidas acentuadas. À saída de uma aldeia havia um caminho em frente e outro à esquerda. Parei logo e fiquei na dúvida mas um rapaz fez-me sinal que era para a esquerda. Comecei uma subida que nem queria a creditar que fosse possível fazer. Lembrei-me do homem em Mapiri me haver dito que na parte final havia uma subida aos "SS" cheia de pedras.
Consegui chegar ao cimo sem cair. Quando houve um pouco de espaço, parei e fiquei um pedaço a recuperar o fôlego e a admirar a paisagem que era simplesmente fantástica.

Uns 150 kms de subidas e descidas.

Pequenos regatos para passar e alguma lama na parte final. Tinha de ir pelo trilho dos carros para não cair no lamaçal, mas uma vez não entrei direito e tive de ir pela valeta durante um pedaço.

Mas finalmente cheguei a Consata, uma pequena povoação no meio destas montanhas.
Não havia um restaurante onde comer e tive de cozinhar alguma coisa do que levava.
A estrada continua num sobe e desce espectacular. Melhorou um pouco mas ainda há sítios com muita pedra. Os regatos para atravessar também são muitos.
Ao fim de uns tempos a moto pede a reserva e fiquei logo a magicar. Com 104 quilómetros não pode ser.
Em Mapiri tinha metido gasolina e o depósito ficou quase cheio. Gastar uns quinze litros em cem quilómetros foi demasiado, mas tinha sido muita subida e descida em primeira e segunda velocidades. Fiquei logo preocupado pois é uma região com poucas aldeias. Na primeira perguntei onde poderia arranjar gasolina e disseram-me que mais acima em Tacoma haveria. Sempre que passava nalgum grupo de casas ia perguntando e diziam-me sempre em Tacoma.
Vi umas casas muito acima na montanha mas continuei. Ao fazer uma curva vi que a estrada continuava sem haver mais aldeias. Onde ficaria Tacoma?
Reparei que havia um desvio à esquerda e pensei que seria para Tacoma, onde ficariam as tais casas que tinha visto. Subi por esse desvio e ao fim de uns quatro quilómetros estava Tacacoma.
Parei na praça e comecei a perguntar onde poderia arranjar gasolina. No primeiro ponto não havia, depois havia um homem que teria mas tinha ido para a chacra e só voltava ao fim da tarde, se não houvesse outra hipótese teria de esperar. Indicaram-me outra pessoa e fui até lá mas não estava. Finalmente apareceu uma outra pessoa que me arranjou quinze litros, mas a 6 bolivianos por litro, lá teve de ser.
Mais umas dezenas de quilómetros numa estrada razoável mas muito estreita e sempre a grande altura. Uma vez ao cruzar com um camião encostei-me à parede do lado esquerdo, literalmente, pois não queria ficar do lado do precipício. Se o camião me tocasse era um daqueles tombos…
A meio da tarde cheguei a Sorata onde resolvi ficar, pois para a frente ainda faltariam bastantes quilómetros até outra povoação com lugar para dormir.
A partir de Sorata a estrada passa a ser de asfalto.
Depois de fazer esta volta de perto de quinhentos quilómetros penso que passar na estrada da morte foi uma brincadeira. A partir de Guanay a estrada é bastante estreita e com zonas de muitas subidas e descidas violentas, não falando das pedras e dos rios para atravessar.
Voltei a atravessar o lago Titicaca
e resolvi ficar em Copacabana para conhecer um pouco da cidade. Não gostei muito, é apenas um ponto de partida para visitar as ilhas no lago além de que é tudo mais caro. Uma hora de internet custava 12 bolivianos quando em La Paz eram só 2, como noutros lugares. Também cheguei a pagar 4, mas aqui era um exagero.

Na passagem da fronteira para o Peru encontrei três brasileiros de Campinas, S. Paulo, o Fabrício, o Caio e a Rita. Estavam a preparar-se para seguir e ainda falámos uns momentos. Havia mais um mas já tinha seguido para o lado peruano. Conhecem o Carlos Azevedo, que tem umas viagens fantásticas e muita informaçao em www.ateaofimdomundo.net
Depois de tratar de tudo cheguei à parte peruana e eles ainda lá estavam, mais o Sidney, que é o presidente do Clube Big Trail e tem um blogue http://www.sidmotoaventura.blogspot.com/ . Estavam em duas Suzuki DR Big e numa Yamaha XT, penso que a 600. Seguiram em direcção a Puno, pois as férias estavam a acabar.
Para chegar a Moquegua tive de atravessar o altiplano e rolar a altitudes de 4.300 a 4.600 metros. Ao início da tarde uma nuvem negra apareceu no horizonte e pensei que iria apanhar uma chuvada. Felizmente não, mas começou a cair um pouco de neve e a trovejar. Vesti o fato de chuva que ajudou a proteger do frio.
A cidade não tem nada de especial. Afinal está na região que é a continuação do deserto de Atacama do Chile.
A ligação até Arequipa é apenas uma travessia do deserto que se prolonga por dezenas de quilómetros. Parecia incrível ver algumas casas ou melhor barracas no meio daquele deserto, ao lado da estrada.

Em Arequipa encontrei um pequeno hotel, o San Gregory, que nem está mau e fica perto do centro.
Há mais um motociclista que se prepara para iniciar uma viagem pelas Américas. Enviou-me umas mensagens dizendo que no dia 1 de Novembro parte para Caracas. Tem uma página na internet http://www.argentinalaska.com/ para quem quizer e puder acompanhar. Só que é uma viagem programada ao pormenor. Nao tem nada a ver com aquilo que eu ando a fazer.
Boa sorte Santiago.
Arequipa, S 16º 24,319’ W 71º 32,330’

sexta-feira, outubro 17, 2008

Afinal, de novo na Bolívia, La Paz

Nos últimos dias em Cusco aproveitei para assistir ao festival de charango. Vieram músicos da Argentina, Bolívia e Colômbia, além de peruanos. Foram umas noites bem interessantes. Entretanto o kit da transmissão chegou no sábado de manhã e à tarde na oficina do Richard e Henry, na Av. Infancia, fizeram-me a substituição. É uma oficina aonde os viajantes recorrem quando passam por esta cidade.
Saí em direcção a Puno para visitar o lago Titicaca. A estrada desde Cusco vai por um vale muito bonito. A cor avermelhada da terra e o pouco verde que se vê fazem um lindo contraste.

Muita gente nos campos preparava a terra para as sementeiras. Quase todos trabalhavam com juntas de bois, apenas vi um tractor num campo.

No ponto mais alto desta etapa, Abra La Raya a 4.312 metros, parei para tirar umas fotos. Já estava de capacete enfiado para partir quando uma senhora me perguntou, em português, se eu era português. Disse que sim e ela disse-me que também era. Estava com o marido francês num grupo de franceses.
Estivemos a falar um pouco e depois ela disse que tinha de ir pois o autocarro já estava para partir. Disse-me que tinha sido o único português que tinha encontrado até agora, mas que em todas as viagens que fazia, cada dois anos, encontrava sempre algum português.
Arranquei mal sabendo o que me esperava. Ao entrar em Juliaca um polícia mandou-me parar. Perguntou se eu tinha a carta internacional. Eu disse logo que não, tinha uma mas tinha caducado. Disse que não poderia continuar e tinha de me multar. Entretanto aproxima-se outro polícia e logo a seguir mais outro. Veio a conversa do costume, de onde era, para onde ia, há quanto tempo estava a viajar…
O problema da carta internacional é que só é válida por um ano e para pedir uma nova o ACP exige a apresentação do original. Antes de vir eu ainda disse que iria andar mais de um ano mas mesmo assim disseram que teria de enviar o original por correio com uma fotocópia do BI. e uma fotografia. Depois devolviam tudo novamente por correio. E quanto tempo demoraria tudo isto? Deveria haver outra forma de poder pedir uma carta nova.
Atravessar a cidade foi um problema. Como de costume não há indicações nenhumas e numa confusão de carros e carrinhas, triciclos e mototáxis quando cheguei a um cruzamento não reparei no sinaleiro que estava numa das esquinas e não no centro. Parei já no meio do cruzamento. Mandou-me encostar e chamou outro polícia.
Já estou feito, pensei.
Quando o polícia chegou ao pé de mim começou a perguntar se as regras não eram iguais no meu país e se não obedecia ao sinaleiro. Eu só disse que no meio daquela confusão não tinha visto o sinaleiro. Depois de um sermão deixou-me seguir. Agradeci e toca a andar…
Duas vezes em poucos minutos e ao fim de um ano sem problema nenhum!
Quando cheguei a Puno tive de atestar pois a moto tinha pedido a reserva um pouco antes e tinha ficado a magicar que eram poucos quilómetros. Mas depois lembrei-me que foram muitos quilómetros a andar bem e sempre a grande altitude, nos 3.800 a 4.300 metros de Abra la Raya.
No posto de Turismo soube como visitar o lago.

Há barcos que de meia em meia hora vão até às ilhas flutuantes de Uros. Estas ilhas ficam numa parte mais abrigada do lago e há umas trinta, segundo disse um dos habitantes. Cada uma tem cinco famílias, normalmente, que vivem da pesca e do artesanato que vendem aos turistas.
Há duas outras ilhas, mas naturais, que ficam mais no interior do lago mas é preciso sair de madrugada e para uma delas são preciso mesmo dois dias. Uma visita às flutuantes foi suficiente.

O lago Titicaca pareceu-me um lago normal. Acho que o lago General Carrera na Patagónia chilena era mais bonito, pelo menos para mim.
Não gostei muito de estar em Puno e resolvi continuar mesmo com a ameaça de chuva.
A estrada contornava o lago e ao chegar ao ponto onde a estrada cortava para a Bolívia virei para esse lado. Afinal ainda queria ver mais umas coisas por lá.
Ao passar em Copacabana não fui à cidade. Tanto ouvi falar dessa cidade que se calhar era apenas mais outra cidade turística.
Mais à frente era preciso atravessar o lago numa barcaça para continuar para La Paz. Estava um vento forte e as ondas abanavam a barcaça. Tive de ir sempre apoiando a moto pois tinha medo que caísse.
Entrei em La Paz por El Alto. A estrada não tinha indicações, já é normal. Depois de andar um pouco no meio de um trânsito meio louco perguntei pela Praça Murillo, ponto de referência. A pessoa a quem perguntei disse que estava a ir em sentido contrário, tinha de dar a volta e seguir descendo para o vale. Ao fim de largos minutos consegui chegar a uma estrada que descia para o vale.
A vista da cidade era espectacular. Ver toda a extensão da cidade espalhada pelas encostas foi magnífico.
Quando cheguei mais abaixo tive de perguntar várias vezes mas consegui chegar ao hostal, El Carretero, que o Hartmut me tinha indicado.
Andei às voltas pela cidade e fui ter ao posto de turismo um pouco por acaso. Arranjei um mapa da cidade e subi ao miradouro de Killi Killi. Dá para ver quase toda a cidade. Foi muito interessante.

Aqui o Palácio Legislativo.
Depois de entrar no Peru há semanas atrás tinha pensado que não voltaria à Bolívia e continuaria para norte. Mas as coisas são assim, todos os dias os planos se podem mudar.

La Paz, S 16º 29,581’ W 68º 07,955’

quinta-feira, outubro 09, 2008

Cusco, umbigo do mundo

Estou há uns dias em Cusco, a antiga capital dos Incas. Estes consideravam a sua cidade o “umbigo do mundo”, por ser o centro da civilização. Durante a colonização espanhola também foi uma cidade importante e ainda hoje se vêem as construções desses tempos.
Quando cheguei aqui procurei uma oficina para ver o que se passava com a transmissão pois andava a ouvir uns estalidos há alguns dias. Já são uns trinta e sete mil quilómetros e pensei que estaria a chegar ao fim.
Na oficina deu para ver que o pinhão já estava a ficar sem dentes. Não se consegue arranjar um novo para substituir mas fizeram uma adaptação que me permite andar mais uns quilómetros. Mesmo assim procurei ver se se conseguia arranjar um kit novo em Lima só que o modelo da minha moto não foi comercializado no Peru e não há. Pedi um para Portugal que espero chegue ainda esta semana.
Conheci um motociclista mexicano, o Fernando Borbolla, que está a viajar pela América do Sul e que estava na oficina a reparar os estragos na sua moto por causa de um acidente que teve.
Andei às voltas pela cidade para conhecer alguma coisa mas não fui visitar nenhum museu. Já estou farto de ver museus.

Fui visitar a fortaleza de Saqsaywaman, sobranceira à cidade. Tem umas paredes com pedras enormes que encaixam na perfeição.
Na hospedaje onde estou há alguma informação sobre como ir a Machu Picchu sem gastar muito dinheiro. Os preços para ir de comboio são elevados.
Fui de moto até Santa Teresa e daí segui num micro-bus até à hidro. Achei melhor deixar a moto no hostal pois diziam que não era seguro deixá-la no estacionamento.
A estrada até passa por uma zona muito interessante.
Pelo caminho ainda visitei os parques arqueológicos, não ruínas, de Moray
e Ollantaytambo.
A partir daqui a estrada começa a subir até aos 4.300 metros de altitude do Abra Malaga para descer outra vez até aos 1.400 metros em pouco mais de 40 quilómetros, de cada lado.
Já no vale, a partir de Alfamayo, começa a terra. A estrada tem muita pedra aguçada mas felizmente não houve nenhum furo.
Por estes lados quase não há placas informativas e em Santa Maria se não fosse um controlo policial teria seguido em frente para Quillabamba. Mas havia uma corrente e um polícia perguntou para onde seguia. Quando disse que queria ir para Santa Teresa ele disse que era por um desvio uns metros atrás.
A estrada passava a ser de uma via e era escavada numa encosta ao longo de um vale. Havia pontos onde fazia impressão o pouco espaço para cruzarem veículos se fosse necessário.
A hidroeléctrica é o ponto até onde vem um comboio que faz ligação com Águas Calientes, base para ir a Machu Picchu. Até essa cidade só se pode ir de comboio desde Cusco ou Ollantaytambo ou então deste ponto, a hidro.
Tinha lido que se podia caminhar ao longo da linha do comboio. Mas fazer aqueles oito quilómetros custou-me um bocado, já há bastante tempo que não fazia caminhadas e não tinha resistência.
Um pouco antes de Águas Calientes, na Puente Ruinas, tinha de sair da linha e subir o monte até à entrada de Machu Picchu. Uma placa informava que eram 1,76 quilómetros. Mas aqui ainda foi pior. A subida era quase uma escada que teria centenas de degraus. A certa altura resolvi seguir pela estrada que sempre tinha um desnível mais suave, seria mais longo mas menos cansativo.
Quando comecei na Hidro seriam umas sete e um quarto da manhã e só cheguei lá acima pouco depois das onze. Mas ia parando para fazer fotos.
Comi alguma coisa do que levava pois havia cartazes a dizer que não se podia comer lá dentro.
Comprei o bilhete e entrei.
Pensei que ia sentir alguma coisa de especial mas nada!
Andei por ali um pedaço pelo meio de todas aquelas paredes e ia escutando algumas explicações dos guias. Ao fim de quase duas horas achei que já chegava e resolvi descer para Águas Calientes, só que desta vez resolvi ir de autocarro. Mas foi muito caro. Para fazer uns três quilómetros cobraram 7 dólares, 21 soles.


Na estação disseram que não havia comboio, só às dez da noite. Tinha de voltar a pé.
Cheguei à hidro pouco depois das quatro horas. Regressei de táxi a Santa Teresa. Havia mais um lugar e afinal era só cinco soles, no micro eram quatro.
Depois de uma noite de chuva, na saída já havia sol.
Voltei a Cusco pela mesma estrada até Urubamba. Na subida, já o tinha feito na descida, para Abra Malaga é preciso atravessar alguns regatos que passam por cima da estrada e não por baixo. Agora, até levam pouca água mas deveria ter havido muita pois nalguns pontos a estrada estava cheia de pedras.
Depois de Urubamba regressei por outro lado já que havia uma alternativa para não voltar pela mesma estrada.
Passei em Pisaq, mais umas ruínas,

e onde havia uma reunião de vendedores a discutir sobre os lugares e licenças de venda. Na descida ainda tirei umas fotos a uns lavradores que trabalhavam na encosta de um monte.
Mais à frente passei por Tambomachay, onde pouco havia para ver, e Puka Pukara, uma espécie de fortaleza.
Cheguei a Cusco mesmo ao cair da noite.
Conheci o Manu e a Paki, ciclistas catalães que andam pela América do Sul.
No sábado à noite fui ver um concerto de Raul Garcia Zárate, um guitarrista já com uns oitenta anos. Foi muito bom.
No domingo de manhã fui a Tipon para ver mais umas ruínas. Tem um sistema de rega ainda em funcionamento desde o tempo dos incas.
Fui de autocarro até Tipon e depois num táxi até às ruínas.

No regresso vim a pé para apreciar melhor a paisagem e poder tirar umas fotos.
Ao chegar ao povoado fui a um restaurante onde anunciavam o “cuy”, que não é mais que a cobaia ou porquinho da Índia ou chino como lhe chamamos. Tinham-me dito que era uma especialidade deste local.
Não achei nada especial, mas vi outras pessoas a comer como se fosse um petisco. Talvez por estar frio não me soube bem. A carne não tinha sabor, parecia-me leitão que também não é muito do meu agrado. Mas tinha de experimentar…
Ao final do dia o Pierre, um mochileiro francês que estava na hospedaje, despediu-se dizendo que ia para a Bolívia. Foi agradável conversar algumas vezes com ele.
Penso ficar por aqui até ao final da semana, se o kit de transmissão chegar até lá.
Entretanto vou aproveitando para descansar um pouco e para assistir ao 5º. Festival Internacional de Charango. O charango é uma espécie de guitarra de dez cordas de tamanho reduzido. É típico da região dos Andes.
No segundo dia apareceu um tocador com apenas nove anos.

Agora só quero agradecer a todos os que me têm enviado algumas mensagens de apoio.
No dia 2 de Outubro do ano passado saí de casa com destino a um continente que desejava conhecer há muito tempo. Em Buenos Aires, na Dakarmotos, encontrei pessoas que me acolheram com muita amizade e simpatia. Para eles também o meu agradecimento.
No próximo dia 11 faz um ano que me lancei estrada fora. Ia com alguma apreensão, para não dizer outra coisa, entrar num mundo totalmente novo para mim. Felizmente tem corrido tudo bem, sem problemas de maior tanto a nível pessoal como da moto que tem aguentado tudo.
Espero que daqui a um ano possa dizer o mesmo. Nestes últimos tempos cada vez me apetece menos escrever mas sei que há sempre alguém à espera de notícias e por isso vou fazendo um esforço.
Ainda quero andar mais uns tempos por este continente mas de vez em quando já sonho com o regresso a casa e ao convívio com os amigos. Penso que um ano passa depressa e se tudo correr bem no final do próximo verao estarei de volta.

Cusco, S 13º 31,122’ W 71º 58,423’