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quinta-feira, outubro 09, 2008

Cusco, umbigo do mundo

Estou há uns dias em Cusco, a antiga capital dos Incas. Estes consideravam a sua cidade o “umbigo do mundo”, por ser o centro da civilização. Durante a colonização espanhola também foi uma cidade importante e ainda hoje se vêem as construções desses tempos.
Quando cheguei aqui procurei uma oficina para ver o que se passava com a transmissão pois andava a ouvir uns estalidos há alguns dias. Já são uns trinta e sete mil quilómetros e pensei que estaria a chegar ao fim.
Na oficina deu para ver que o pinhão já estava a ficar sem dentes. Não se consegue arranjar um novo para substituir mas fizeram uma adaptação que me permite andar mais uns quilómetros. Mesmo assim procurei ver se se conseguia arranjar um kit novo em Lima só que o modelo da minha moto não foi comercializado no Peru e não há. Pedi um para Portugal que espero chegue ainda esta semana.
Conheci um motociclista mexicano, o Fernando Borbolla, que está a viajar pela América do Sul e que estava na oficina a reparar os estragos na sua moto por causa de um acidente que teve.
Andei às voltas pela cidade para conhecer alguma coisa mas não fui visitar nenhum museu. Já estou farto de ver museus.

Fui visitar a fortaleza de Saqsaywaman, sobranceira à cidade. Tem umas paredes com pedras enormes que encaixam na perfeição.
Na hospedaje onde estou há alguma informação sobre como ir a Machu Picchu sem gastar muito dinheiro. Os preços para ir de comboio são elevados.
Fui de moto até Santa Teresa e daí segui num micro-bus até à hidro. Achei melhor deixar a moto no hostal pois diziam que não era seguro deixá-la no estacionamento.
A estrada até passa por uma zona muito interessante.
Pelo caminho ainda visitei os parques arqueológicos, não ruínas, de Moray
e Ollantaytambo.
A partir daqui a estrada começa a subir até aos 4.300 metros de altitude do Abra Malaga para descer outra vez até aos 1.400 metros em pouco mais de 40 quilómetros, de cada lado.
Já no vale, a partir de Alfamayo, começa a terra. A estrada tem muita pedra aguçada mas felizmente não houve nenhum furo.
Por estes lados quase não há placas informativas e em Santa Maria se não fosse um controlo policial teria seguido em frente para Quillabamba. Mas havia uma corrente e um polícia perguntou para onde seguia. Quando disse que queria ir para Santa Teresa ele disse que era por um desvio uns metros atrás.
A estrada passava a ser de uma via e era escavada numa encosta ao longo de um vale. Havia pontos onde fazia impressão o pouco espaço para cruzarem veículos se fosse necessário.
A hidroeléctrica é o ponto até onde vem um comboio que faz ligação com Águas Calientes, base para ir a Machu Picchu. Até essa cidade só se pode ir de comboio desde Cusco ou Ollantaytambo ou então deste ponto, a hidro.
Tinha lido que se podia caminhar ao longo da linha do comboio. Mas fazer aqueles oito quilómetros custou-me um bocado, já há bastante tempo que não fazia caminhadas e não tinha resistência.
Um pouco antes de Águas Calientes, na Puente Ruinas, tinha de sair da linha e subir o monte até à entrada de Machu Picchu. Uma placa informava que eram 1,76 quilómetros. Mas aqui ainda foi pior. A subida era quase uma escada que teria centenas de degraus. A certa altura resolvi seguir pela estrada que sempre tinha um desnível mais suave, seria mais longo mas menos cansativo.
Quando comecei na Hidro seriam umas sete e um quarto da manhã e só cheguei lá acima pouco depois das onze. Mas ia parando para fazer fotos.
Comi alguma coisa do que levava pois havia cartazes a dizer que não se podia comer lá dentro.
Comprei o bilhete e entrei.
Pensei que ia sentir alguma coisa de especial mas nada!
Andei por ali um pedaço pelo meio de todas aquelas paredes e ia escutando algumas explicações dos guias. Ao fim de quase duas horas achei que já chegava e resolvi descer para Águas Calientes, só que desta vez resolvi ir de autocarro. Mas foi muito caro. Para fazer uns três quilómetros cobraram 7 dólares, 21 soles.


Na estação disseram que não havia comboio, só às dez da noite. Tinha de voltar a pé.
Cheguei à hidro pouco depois das quatro horas. Regressei de táxi a Santa Teresa. Havia mais um lugar e afinal era só cinco soles, no micro eram quatro.
Depois de uma noite de chuva, na saída já havia sol.
Voltei a Cusco pela mesma estrada até Urubamba. Na subida, já o tinha feito na descida, para Abra Malaga é preciso atravessar alguns regatos que passam por cima da estrada e não por baixo. Agora, até levam pouca água mas deveria ter havido muita pois nalguns pontos a estrada estava cheia de pedras.
Depois de Urubamba regressei por outro lado já que havia uma alternativa para não voltar pela mesma estrada.
Passei em Pisaq, mais umas ruínas,

e onde havia uma reunião de vendedores a discutir sobre os lugares e licenças de venda. Na descida ainda tirei umas fotos a uns lavradores que trabalhavam na encosta de um monte.
Mais à frente passei por Tambomachay, onde pouco havia para ver, e Puka Pukara, uma espécie de fortaleza.
Cheguei a Cusco mesmo ao cair da noite.
Conheci o Manu e a Paki, ciclistas catalães que andam pela América do Sul.
No sábado à noite fui ver um concerto de Raul Garcia Zárate, um guitarrista já com uns oitenta anos. Foi muito bom.
No domingo de manhã fui a Tipon para ver mais umas ruínas. Tem um sistema de rega ainda em funcionamento desde o tempo dos incas.
Fui de autocarro até Tipon e depois num táxi até às ruínas.

No regresso vim a pé para apreciar melhor a paisagem e poder tirar umas fotos.
Ao chegar ao povoado fui a um restaurante onde anunciavam o “cuy”, que não é mais que a cobaia ou porquinho da Índia ou chino como lhe chamamos. Tinham-me dito que era uma especialidade deste local.
Não achei nada especial, mas vi outras pessoas a comer como se fosse um petisco. Talvez por estar frio não me soube bem. A carne não tinha sabor, parecia-me leitão que também não é muito do meu agrado. Mas tinha de experimentar…
Ao final do dia o Pierre, um mochileiro francês que estava na hospedaje, despediu-se dizendo que ia para a Bolívia. Foi agradável conversar algumas vezes com ele.
Penso ficar por aqui até ao final da semana, se o kit de transmissão chegar até lá.
Entretanto vou aproveitando para descansar um pouco e para assistir ao 5º. Festival Internacional de Charango. O charango é uma espécie de guitarra de dez cordas de tamanho reduzido. É típico da região dos Andes.
No segundo dia apareceu um tocador com apenas nove anos.

Agora só quero agradecer a todos os que me têm enviado algumas mensagens de apoio.
No dia 2 de Outubro do ano passado saí de casa com destino a um continente que desejava conhecer há muito tempo. Em Buenos Aires, na Dakarmotos, encontrei pessoas que me acolheram com muita amizade e simpatia. Para eles também o meu agradecimento.
No próximo dia 11 faz um ano que me lancei estrada fora. Ia com alguma apreensão, para não dizer outra coisa, entrar num mundo totalmente novo para mim. Felizmente tem corrido tudo bem, sem problemas de maior tanto a nível pessoal como da moto que tem aguentado tudo.
Espero que daqui a um ano possa dizer o mesmo. Nestes últimos tempos cada vez me apetece menos escrever mas sei que há sempre alguém à espera de notícias e por isso vou fazendo um esforço.
Ainda quero andar mais uns tempos por este continente mas de vez em quando já sonho com o regresso a casa e ao convívio com os amigos. Penso que um ano passa depressa e se tudo correr bem no final do próximo verao estarei de volta.

Cusco, S 13º 31,122’ W 71º 58,423’

14 comentários:

  1. Olá Tone

    Um ano passa a correr.
    Ainda há dias andavas a preparar esta viagem e já passou um ano. Podes crer que era difícil acreditar que irias andar por aí tanto tempo e sempre com essa excelente boa disposição. Tens que aproveitar e continuar porque o próximo ano, vais ver, passa também depressa. Parabéns pela iniciativa e faz lá esse esforço de continuar a escrever estas crónicas. Como já te disse em tempos, até podem ser um pouco mais pequenas, mas mantém-nos em contacto.
    Um abraço
    Cândido

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  2. Grande Queiros !!!!
    Parabéns pela disposição e coragem que tens demonstrado. E não desanime em escrever, pois precisamos saber as novidades da sua viagem. Estou acompanhando todos os capítulos, daqui do Brasil.

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  3. Grande Tone !!

    Admiro a tua coragem de te meteres na estrada sòzinho para destinos desconhecidos.
    Quanto a escrever,faz um esforço,que a malta passa o tempo à espera de mais novidades.
    Obrigado pelas crónicas e pelas fotos...........CONTINUA.
    Boa Viagem e volta só em 2010 que os amigos não foge,quando muito "morrem de inveja".

    Abraço

    Graciano

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  4. Poucos dias antes de embarcares encontramo-nos na Associação Cultural e Recreativa Paranho e falamos sobre a tua viagem. Desde aí tenho acompanhado todas as tuas crónicas. Já te escrevi uma vez, mas só uma. Já começas a falar em regresso. Ainda é cedo, mas revela saudades.Parabéns pela coragem de um ano e votos de sorte para pelo menos mais um.

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  5. Viva, amigo Queirós

    Acho piada ainda nos agradeceres.

    Nós é que te dizemos MUITO OBRIGADO pela tua pachorra em nos ofereceres relatos, fotos e mapas com periodicidade quase profissional.
    É que ler esta viagem é bem diferente que num programa qualquer de televisão. Tu és um dos nossos e interpretamos muito melhor as sensações.
    Ou seja, também vamos viajando.
    E nessas montanhas para Machu Pichu...
    Arre...
    Um grande abraço e não te sintas corroído pelas saudades.
    Aqui cá nos vamos amanhando.
    Abraço
    Nestes

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  6. Viva Sr. António,
    O meu nome é Santiago e sou de Santa Maria da Feira.
    Gostaria de felicitá-lo em primeiro lugar pela coragem que teve em abraçar esta aventura.
    De certa forma a sua atitude encorajou-me a seguir o seu caminho, portanto no próximo dia 01de Novembro iniciarei a minha viagem Sabática de Lés-a-Lés designada por "argentinalaska", com a duração de 400 dias..
    Espero sinceramente poder encontrá-lo pelo caminho, quem sabe!!!
    A data prevista para a saída era no dia 15 mas devido a problemas técnicos com a moto e com o envio da mesma para Caracas, decidi adiar o projecto por mais duas semanas... assim ganho mais tempo!
    No próximo dia 16 estará online a minha página e gostaria que desse uma "miradita", portanto o endereço web é: www.argentinalaska.com"
    Continuação de uma boa viagem e se puder ajudá-lo em alguma coisa, não hesite em me contactar..
    Que Deus o acompanhe!
    Com os melhores cumprimentos.
    Santiago Marquez
    s.santiagomarquez@gmail.com

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  7. Amigo Queirós! daqui do velho continente e da minha parte vai um abraço, por esse ano de boas crónicas que nos deixa a sonhar com viagens a esses locais recônditos das Américas que nos dás a conhecer.
    Afinal é mais um ano de crónicas, e estamos sempre à espera de mais.
    Continuação de boa viagem, não penses no regresso para já.

    Mário Almeida (falcaodonorte)

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  8. O viajante .transmissão de moto tambem gasta..tens que levar sempre uma ralação completa de reserva .(cuidado c/enmendas de corrente )já me deixaram na mão.
    na Argentina encontrarias peças p/esta moto.aqui no brasil não há.
    enviaria p/ voçê c/muito gosto.
    não termine a viajem agora .ainda tem equador.colombia e venezuela.
    um abraço .
    ZANETTI .

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  9. Viva Queirós! Muito Parabéns por 1 ano de viagem! Cada dia uma nova aventura! E já andaste quase o equivalente a uma volta ao mundo (pela linha do Equador - 41 mil km). Achei engraçado dizeres em Machu Picchu «Pensei que ia sentir alguma coisa de especial mas nada». Mais emoção só mesmo em frente do estádio da luz ;) eheh

    Parabéns igualmente pelo grande esforço que tens feito no relato diário da tua Viagem e pelas belas Fotografias. São um excelente acervo documental.
    E obrigado por todas as coisas que me tens enviado pelo correio

    Por mais um ano de uma Grande e Estupenda Viagem!

    Um Abraço,

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  10. Então amigo queiros, como vais? pelo que tou a ver as coisas tão a correr mais ou menos, olha o pessoal de Moncorvo que teve em Mendonza contigo, manda-te um grande abraço e esperamos por ti em Moncorvo para uma grande jantarada, isto se antes eu não te encontrar pela América Latina (está dificil, mas um dia vou partir..)

    Nuno

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  11. Caro Queirós, Os meus parabéns pelo teu primeiro aniversário de vadiagem total. Tomara estar aí contigo para bebermos umas bejecas juntos e discutir os pormenores da tua viagem. Compreendo que já sintas saudades mas todos nós daríamos tudo para estar no teu lugar.
    Olha que podes sempre guardar a moto aí num qualquer local de confiança e apanhar uma avião para Portugal e assim matares as saudades durante alguns dias...
    Imagino que chegar ao fim do dia e não ter alguém com que conversares sobre os locais e experiências vividas possa ser algo desmotivante mas pensa no corropio em que vais andar quando regressares para contares as tuas aventuras...
    Quanto às crónicas, por muito que isso nos custe, não te sintas obrigado a publicá-las com tanta frequência. Se tiveres pachorra vai dando notícias semanalmente ou de quinze em quinze dias.
    Um grande abraço
    Caldeira

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  12. É sempre com grande curiosidade que venho aqui ler as crónicas e seguir o percurso.
    Acredita que na tua moto vão muito mais que sonhos, vamos uma quantidade enorme de gente que não tem possibilidade de avançar num projecto desses.
    Não há pressa em regressar mas quando chegar, é obrigatória uma sessão de fotos, relatos, conversa, comida e bebida com esta legião de entusiastas.
    Grande abraço e parabéns por este 1º ano completo em viagem.
    Eduardo

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  13. espectacular!!! continua força tio tone!!! parabens pelo no viagem!!!

    Beijinhos e abraços!!

    Joana,Nuno,Rui E CHICO

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  14. Grande Queiroz:

    Continua assim que estás melhor do que aqui. É só ameaças de recessões por estes lados.
    Não voltes tão cedo. Boa sorte.

    Rui, Jerónimo, Pontes e Pinto

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