quinta-feira, setembro 30, 2010

Final da viagem em New Jersey

Nestes últimos dias apenas tinha na ideia o pensamento de chegar a New Jersey. Um amigo que aí vive disse-me que podia aparecer por lá que ele iria receber-me com mais uns amigos dele.
Combinámos as coisas para sábado à tarde.

Na saída de Ellsworth há uma antiga ponte suspensa ao lado da nova. Parei para uma foto e depois ainda tentei descer ao nível do rio para ver noutra perspectiva só que havia um pequeno forte nessa zona e era preciso pagar a entrada. Achei que não valeria a pena.


Ainda pensei chegar a Boston nesse dia mas o trânsito era muito e iria chegar de noite. Fiquei um pouco antes.
Na manhã seguinte resolvi seguir pelo centro da cidade mas foi má ideia. Saí da auto-estrada para não pagar a portagem numa ponte e meti-me no meio da confusão do trânsito urbano.

Andei às voltas até que tive de pagar para passar num túnel. Não havia outra forma de atravessar o rio.
No centro da cidade vi alguns edifícios antigos mas não se podia parar. Muita gente por ali e nada de estacionamentos, não queria deixar a moto longe e com tudo em cima e andar por ali a pé. Continuei.
Algumas estradas secundárias tornam-se cansativas com muitos semáforos mas servem para passar nalgumas cidades, como Westerley, onde se pode parar.


Voltei à auto-estrada mas pouco tempo depois saía outra vez, anda-se muito rápido. A velocidade é menor que em Portugal mas ainda não me adaptei a andar acima dos cem quilómetros por hora.
Quando regressar vou ter de reaprender.
Cheguei ao ponto de encontro com tempo para almoçar. No final esperei uns dez minutos e chegou o grupo composto pelo Eusébio e a mulher, Natividade, e alguns amigos deles, o Rodo, o Raposo, o Cerqueira e a mulher Cila e ainda o Mani Alves.
Fomos tomar um café e conversar um bocado.
Arrancámos para New Jersey e fomos seguindo por uma estrada secundária durante alguns quilómetros só que eram demasiados semáforos. Voltámos à auto-estrada e num ponto em que há uma portagem encostámos todos e fez-se a fotografia do grupo, que eu tinha esquecido antes de arrancar.

Obras na estrada fizeram-nos desviar do rumo certo e entrámos em New York pela ponte George Washington.

Seguimos ao longo do rio num pára arranca durante uns quilómetros.
Para atravessar o rio foi preciso, aí sim, entrar dois ou três quarteirões na cidade para ter acesso ao túnel Lincoln. Aqui é que foi do piorio, o pára arranca continuava e calor dentro do túnel era demais. O ponteiro da temperatura do motor quase que chegava ao vermelho, mas a moto aguentou sem se queixar.
Mesmo ao cair da noite chegámos a New Jersey, Hillside, a casa do Eusébio.
Um pouco de conversa e a seguir a um duche fomos jantar. Um grupo bem simpático e que sabe receber bem, à boa maneira portuguesa.

No domingo de manhã fui com o Eusébio e o J. Carlos Rodo dar uma volta de moto até New Hope, uma pequena cidade ainda com muitas construções antigas, local onde os motociclistas da região param para um café ou almoçar. Regressámos ao final da tarde.

O primeiro dia para ir a Nova Iorque ficou sem efeito, logo de manhã a chuva era muita e achei que não seria agradável andar por lá à chuva.
Na terça-feira foi a mesma coisa, chuva todo o dia.
Finalmente, na quarta-feira, fui ver a grande cidade.
Fui de comboio com o Rodo e o filho dele, Ricardo, até Nova Iorque. Na chegada ele deu-me algumas indicações e foi trabalhar.
Andei por ali a ver a zona de Wall Street.


Junto ao rio vi as pontes de Brooklyn e Manhattan.

Ao longe via-se a estátua da liberdade e ainda fiquei a matutar se valeria a pena ir até lá, mas não.

Sei que não vai faltar quem me dê cabo do juízo por não ir até lá mas não sou fanático por grandes cidades nem preciso de ir a todos os lugares.
Deambulei pelo bairro chinês.

A certa altura vi o acesso para a ponte de Brooklyn de onde se podia apreciar um pouco da cidade e atravessei-a quase até ao outro lado.


Não faltavam turistas por ali e várias vezes ouvi falar português. Voltei ao centro.
Ao final da tarde voltei com o Rodo e o filho. O Eusébio passou na estação e trouxe-me para casa.
Não tenho palavras para agradecer todo o apoio e carinho com que fui recebido pelo Eusébio e sua esposa, Natividade.
Agora só falta, no sábado, entregar a moto no transitário e comprar a passagem para mim.
O final da viagem chegou mas ainda quero voltar a Nova Iorque se o bom tempo ajudar, não quero andar por lá à chuva.

Hillside, NJ

quinta-feira, setembro 23, 2010

Uma passagem pelo leste do Canadá

Na saída da cidade de Québec tive de atravessar o rio S. Lourenço de barco. Uma última vista da cidade.

Fui seguindo sempre na estrada 132 ao longo do rio, sempre muito plano. Os campos muito verdes e com milho a começar a secar.

Numa pequena cidade vi umas esculturas de madeira que iam pela praia e mar dentro.

Mais à frente as rochas tinham uma cor atraente.

Pus-me a ver as distâncias e ao chegar a Rivière du Loup achei que estava na hora de encostar.

Há um hostel na cidade e ficou mais barato do que em Québec, tem pequeno-almoço incluído e até tem espaço para aparcar a moto.
Continuei a seguir o rio mas é sempre igual, pelo menos não achei nada diferente de outros. Vou tentar seguir mais directamente para a Nova Scotia.
O frio não tem sido muito mas a meio da tarde tive de vestir o forro interior pois levantou-se um vento bem frio. Já mais ao final da tarde começou a chover e optei por ficar em Ste. Anne des Monts, num albergue da juventude. Uma tenda era o dormitório.

Em vez de contornar toda a península fui pela estrada 299 que segue directamente para sul.
Ao abastecer aconteceu uma coisa que nunca me tinha acontecido. Meti a agulheta no depósito e comecei a encher, mas de repente olho para a bomba e vejo que é gasóleo. Paro logo mas já tinha metido dois litros e pouco.
Pensei que não haveria problema se enchesse o resto do depósito com gasolina normal, afinal o gasóleo também arde. Ficaram 2,2 litros de gasóleo para quase 16 de gasolina.
Arranquei e tentei ir sempre a andar meio rápido para o motor aquecer e não parar. A moto ia andando sem falhas e convenci-me que não iria haver azar.
Atravessei a península de La Gaspesie pelo parque nacional com o mesmo nome só que da estrada apenas via a floresta e algum rio de vez em quando. Algumas árvores já têm as cores do Outono.

Desde que saí de Ste. Anne des Monts o tempo tem estado muito bom, céu limpo e não está frio. Pelo que tenho visto nos lugares onde tenho acesso à televisão as temperaturas variam entre os oito graus de mínima e os 18 a 20 de máxima.
Segui um pouco junto da costa mas não dava para ver grande coisa e afinal continua sempre igual, não há assim nada espectacular.

Todos me diziam para dar uma volta pela ilha Prince Edward que era muito interessante. Para lá chegar é preciso atravessar uma ponte bem comprida, ainda tentei ver quantos quilómetros teria mas esqueci-me de ver na saída, mas serão à volta de dez.

A ponte tem uma taxa de atravessamento mas só para sair da ilha, eu como estava a entrar não paguei. Mas vou pagar a passagem de barco para a Nova Scotia para encurtar caminho.
No centro de visitantes

disseram-me que a maior parte dos parques de campismo já estão fechados, vai ser o que eu temia, vou ter de dormir sempre em motéis e lá se vai a massa…
Atravessei a ilha até à parte norte e pelo caminho vêem-se algumas pequenas colinas com campos verdes rodeados de árvores mais escuras. É bonito mas para já é muito igual a tantos outros sítios que já passei.

Tinha na ideia ficar na costa norte mas não existe quase nada de alojamentos e tive de seguir para a costa leste. Em Souris encontrei um motel, caro como todos.
Os dias já são muito curtos e ficando em parques de campismo iria ser uma seca, pois a partir das sete e pouco já é noite.
O céu estava limpo quando saí pela manhã. Ao longo da estrada em direcção a Wood Islands onde iria para apanhar o ferry para a Nova Scotia viam-se muitos sítios com pessoas a venderem coisas usadas e outras novas. Disseram-me que ao domingo de manhã é costume.

Cheguei quase uma hora antes da partida do barco para ter lugar. A ponte que liga a ilha ao continente está fechada até à uma da tarde, por causa de uma corrida para angariação de fundos contra o cancro. Um canadiano, Terry Fox, anda a correr e a atravessar todo o país com esse fim, só que ele é deficiente físico, falta-lhe a perna direita e corre com uma artificial.
Por isso havia muitos carros para atravessar e alguns ainda ficaram no cais à espera do barco seguinte.

Durante a travessia comecei a ver que o céu estava muito carregado e pensei que ainda ia apanhar alguma chuva, mas felizmente não.
Os primeiros quilómetros eram através de florestas e não dava para ver nada. Só muito para norte próximo de Margaree é que a estrada se aproximou do mar e foi possível ver mais alguma coisa. Neste lugar havia um cemitério num pequeno morro quase como uma ilhota.


Dali até Cheticamp a zona costeira era bastante bonita com a estrada às curvas e a subir e descer entre o mar e as montanhas verdes.
Cheticamp é um pequeno porto já próximo do parque Cape Breton Highlands.

Nessa manhã, quando acordei estava a chover miudinho. Fiquei logo a imaginar o dia todo assim. Felizmente quando estava para sair já não chovia.
A estrada entra no parque nacional Cape Breton Highlands ao longo da costa e vai subindo e descendo de modo que dá para apreciar alguns lugares bem bonitos. Mais no interior e nas montanhas ainda havia nuvens muito baixas o que provocava um nevoeiro que não deixava ver muito.

Ao longo da costa oriental, ao nível do mar, já havia visibilidade outra vez mas a estrada entra muitas vezes para o interior e vai pelo meio de florestas.

Havia um troço da estrada, a partir de Tarbotvale, que estava em obras e tive de parar muitas vezes por causa disso. Alguns pontos tinham terra molhada e ia sempre meio receoso de encontrar alguma lama só que isso não aconteceu e passei sem cair.
Toda esta região é bonita mas muito igual a tantos outros lugares por onde tenho passado.
O furacão Igor passou nesta zona, meio longe, em direcção à Terra Nova mas o seu efeito fez-se sentir com um vento forte e frio.
Ao atravessar New Brunswick o vento soprou o dia todo.
As paisagens continuam semelhantes, é bonito mas se calhar já estou a ficar cansado ou ansioso por acabar a viagem. Talvez as duas coisas.
Ao passar em Saint John vi muitas pessoas a apreciar uma zona de rápidos e parei para ver. Num ponto estreito a maré faz a água do rio retroceder e faz uma pequena queda de água. Quando a maré desce a queda de água é para o outro lado.

Por volta da uma da tarde começou a chuviscar enquanto segui numa estrada junto ao mar.

Pus-me a mexer dali para fora para tentar chegar à fronteira sem muita chuva mas esta parou logo a seguir. Ainda tive tempo para fazer um desvio e ir ver mais uma queda de água, a Lepreau Falls.

Desta vez não custou muito para cruzar a fronteira. Não quiseram revistar nada, ao contrário da outra vez em Junho quando quiseram ver todos os sacos.

Numa ocasião vi um sítio com árvores cheias de folhas vermelhas e que me parecia bom para fazer uma fotografia. Parei e voltei para trás mas já não fui lá. Caí nessa manobra.
Ao virar para trás fui à berma do outro lado e a moto escorregou com a roda traseira no saibro seco e arenoso da berma. Não consegui segurar a moto que tombou para o lado direito. Eu saltei para não ficar debaixo. Dois carros passaram enquanto estava a tirar as malas e os sacos mas nenhum deles parou.

Mais à frente tirei outras fotos. Ao passar nalguns sítios vêem-se muitas árvores com as folhas amarelas e vermelhas mas parece que as fotos não mostram isso.

A tarde já estava a cair e fiquei numa pequena cidade, Ellsworth.

Ellsworth, N 44º 31,524’ W 68ºº 24,010’

quarta-feira, setembro 15, 2010

O outono está a chegar...

Os três primeiros dias no Canadá foram de chuva mas depois a coisa acalmou.
A chuva ia fazendo a sua aparição mas já não de forma contínua.
Continuei ao longo dos lagos, nem sei se era o Huron ou ainda o Superior, são uns atrás de outros. Vê-se terra ao longe e umas vezes são ilhas mas outras já é a terra que se aproxima e quase fecha e passa a ser outro lago.

A estrada 7 vai sempre seguindo por entre muita floresta onde já se vai notando a mudança de cor nas árvores.

Em vez de contornar o lago Huron atravessei-o de ferry para sul. O Lou tinha-me dito para fazer isso pois a volta toda ao lago era grande e muito monótona. Em South Baymouth, enquanto estava à espera do barco, também uma senhora me confirmou isso. A Louise estava a trabalhar no Yukon mas reformou-se e estava de regresso ao seu Québec natal.
O barco chegou mesmo ao cair da noite. Os motéis estavam lotados pelo fim-de-semana prolongado, o Labor Day, e tive de encontrar um parque de campismo e montar a tenda já com pouca luz.
Mais uma vez estranhei não sentir o sol na tenda pela manhã. Por volta dos oito começou a chuviscar e fiquei logo a pensar no que iria ser o dia. Mas pouco depois parou a até o sol apareceu e até deu para secar as coisas.
Por falar em secar, a bateria anda meia seca. Não compreendo como depois de muitas semanas sob um calor danado apenas precisei de acrescentar um pouco de água em casa do Lou. Andei mais uns dias com calor e depois já vieram dias mais frescos e nem passou tanto tempo como desde que saí de Victoria.
Tentei arranjar água destilada mas é fim-de-semana e nas bombas de gasolina não encontrei.
Na Bruce Península andei por uma margem e outra mas não consegui ver grande coisa do lago, a faixa mais chegada à água está ocupada com casas e não há acessos públicos, pelo menos junto das estradas por onde andei.
O vento esteve forte durante muitas horas e de vez em quando lá vinha uma chuvada.
Atravessei muitas cidades ou aldeias mas apenas Cambridge me chamou a atenção por causa de alguns edifícios mais antigos.


Finalmente consegui arranjar água numa oficina de automóveis, o empregado deu-me uma garrafa e disse que não custava nada. Assim, está bem. Tratei logo da bateria.
Numa pequena aldeia, Peacock Point, vi uma bandeira portuguesa mas não vi ninguém por ali.
O parque de campismo do Parque Provincial Rock Point era demasiado caro, 36,75 dólares, mas já não em apetecia andar mais e fiquei por ali.
Durante o dia o tempo esteve bom, apenas o vento era bastante forte com o céu enevoado mas sem chuva. Ao final da tarde enquanto me preparava para fazer o jantar veio uma chuvada tão repentina que tive de atirar tudo para dentro da tenda. Depois abrandou mas tive de ficar dentro da tenda a acabar o jantar e a comer.
Mais tarde parou e até o céu estava estrelado. O barulho das ondas e do vento é que era pior, nem deixava adormecer. Uma trovoada ao longe não se ouvia mas os relâmpagos eram bem fortes.
Segui para Niagara Falls. Depois de Fort Erie a estrada segue ao longo do rio por aquilo que parecia um tapete de relva.

Fiquei duas noites num motel que nem foi caro, já há menos turistas pois a escola começou.
As cataratas podem ser apreciadas livremente, não há grades nem vedações a limitar o acesso. Vêem-se desde a estrada que acompanha o rio durante quilómetros. As cataratas são impressionantes e gostei de ver.
Tenho de dizer uma coisa, gostei mais das cataratas do rio Iguaçú, no Brasil e Argentina. Lá havia muitos pontos por onde a água caía e criava quedas de água com degraus e várias formas diferentes. Aqui só há dois pontos e a água cai sem ressaltos, apenas no lado dos Estados Unidos a água salta pelo meio de algumas rochas.


Mas estava na hora de arrancar em direcção a Montreal.
Ao passar em Toronto apenas tirei umas fotos em andamento na auto-estrada.

Nessa noite parei em Kingston.

Ao entrar no Quebec fui ao centro de turismo e encontrei lá um alemão que já tinha encontrado no ano passado algures lá o oeste dos Estados Unidos, penso eu.
A meio da tarde cheguei a Dollar-des-Ormeux, em Montreal, onde fica a casa de José Marques, um primo do Eusébio Pedro, de New Jersey. Fomos dar uma volta pelo centro da cidade mas é uma cidade grande como outras, mas com muitos portugueses.
Receberam-me bem como um velho amigo que espero passar a ser.

A toda a família, José, Zélia, Tânia e Melissa, obrigado. “See you soon”.
Continuando para Québec, voltei ao centro de Montreal mas a chuva apareceu mesmo nessa ocasião. Ainda subi a colina de onde se pode ver toda a cidade mas não se via nada. Tirei uma foto ou duas e arranquei.

Enganei-me e em vez de ir para norte fui para este até que senti que não iria bem, o que eu queria era fugir da chuva.
Mas tive de arrepiar caminho e até Trois Rivières a chuva não parou. A partir daí o céu estava carregado mas não choveu.

Em Québec fui até um hostal que vi no GPS e também num dos panfletos do turismo. Fica na parte antiga da cidade, na zona da colina. Tive de arranjar um parque de estacionamento para a moto pois nem à porta do hostel se pode estacionar, as ruas são estreitas e só mesmo os residentes que tiverem os cartões em dia.
Andei pela cidade que tem ainda parte de uma muralha e duas torres de vigia dos primeiros tempos da colonização.


Algumas ruas são interessantes e há bastantes prédios antigos bem restaurados e conservados.


O tempo está a ameaçar chuva, mas espero que aguente mais uns dias para poder chegar à volta final pela Nova Scotia, que todos me asseguram ser bonita.

Quebec, N 46º 48,737’ W 71º 12,683’