domingo, março 30, 2008

Ainda em Bs.As. mas já pronto a continuar

Estas semanas em Buenos Aires serviram para descansar um pouco mas também para tratar uma alergia que tinha há várias semanas e não passava. Aproveitei para vir até cá por causa do aniversário do "Pollo" em Azul.
Agora já estou bem e na próxima quarta-feira vou continuar. À boa maneira portuguesa deixei para a última da hora a renovação do seguro e só na segunda-feira o terei, espero eu pois por aqui não podemos estar confiantes nos prazos.
Poderia seguir na terça mas alguns argentinos falaram-me que na quarta-feira, feriado por aqui, vai haver um almoço de “Transalperos” e como fica mais ou menos no caminho que quero seguir decidi ficar mais um dia e ir com eles. Depois sim espero recomeçar, mas logo depois se calhar vou parar mais uns dias em San Rafael, a terra do santo padroeiro dos motociclistas portugueses, e em Mendoza. Depois verei.
Esta semana tive alguns dias mais movimentados que nas anteriores.

No bairro da Recoleta há um parque bonito com árvores fora do comum, para mim, e nesta segunda-feira de Páscoa havia muita gente por lá, com músicos como de costume.

Fui visitar o cemitério da Recoleta onde estão sepultados alguns políticos e a alta sociedade de Buenos Aires, segundo de disseram. Junto ao mausoléu de Evita, Eva Perón, as pessoas eram mais que muitas. Neste cemitério não havia campas rasas, só grandes capelas e mausoléus. Há um outro grande cemitério na cidade, em Chacarita, onde estão intelectuais e artistas, mas este não cheguei a visitar.


Na terça-feira, depois da última consulta onde tive autorização para viajar, fui até ao bairro La Boca. Diziam-me que era uma zona perigosa e para ter cuidado mas, felizmente, não vi nada de especial nesse ponto. O que achei foi que era tudo caro – zona turística.
O nome do bairro deriva da localização onde está. Fica na foz, la boca, de um riacho.
As casas são pintadas com várias cores porque as pessoas que viviam aí aproveitavam as sobras da tinta para os barcos pois eram pobres e não podiam comprar tinta para uma pintura completa.
Como o estádio do famoso grupo de futebol Boca Juniors fica nesse mesmo bairro tentei saber se seria possível arranjar um bilhete para ir ver um jogo. Disseram-me que sim e que o clube iria jogar na quinta-feira com o Colo Colo, do Chile, para a Copa Libertadores. Então até quinta, disse eu.





Na quarta encontrei-me com uma moça colombiana que tinha conhecido em Novembro e por acaso falei no jogo e ela disse que também gostaria de ir. Queria aproveitar a oportunidade de ir comigo para sentir o que era estar no meio daqueles adeptos, pois nenhum dos seus amigos vai ao futebol.
Na quinta ao início da tarde voltei a La Boca e consegui os dois bilhetes. Meio caros, cerca de 16 euros cada, mas já andava há uns tempos com vontade de ir ver e sentir como era um jogo de futebol por aqui. Nestes últimos anos apenas fui uma vez ao estádio do Dragão, mais para ver o estádio do que pelo jogo.

Como o jogo era só às nove da noite andei mais um pouco por ali vendo os preparativos à volta do estádio. Às sete a Giovanna chegou e fomos comer qualquer coisa e seguimos para o estádio. Ficámos no topo sul, no meio dos adeptos do Boca Juniors.
Antes de o jogo começar deu para sentar na bancada mas quando os jogadores entraram toda a gente se levantou, até porque cada vez mais gente chegava e já quase não havia espaço.
Todo este tempo os “inchas” cantaram e insultaram os chilenos.
O Boca Juniors precisava de não perder para ainda ter uma hipótese de se qualificar para a fase seguinte. Mas pouco depois do início o Colo Colo meteu um golo. O estádio calou-se mas passados instantes voltaram às canções sempre puxando pela equipa. Mesmo quando foi expulso um jogador e passados mais uns minutos falharam um penálti que empataria o jogo eles não se cansavam de cantar.
Até ao final, depois de gritos de alegria, OHs de desânimo e insultos ao árbitro, o Boca acabou por ganhar por 4 a 3.


Foi uma noite espectacular.
Na sexta disseram-me que o seguro estaria pronto na segunda. Espero bem que sim.
Nestas últimas semanas tem havido uma greve dos fazendeiros e agricultores por causa de uma taxa sobre as exportações que o governo decretou. Nalguns pontos do país já começa a faltar o leite e a carne. Agora há menos “asados”. Espero que resolvam depressa o problema, pois sem “asados”…
Km 08913, Buenos Aires, S 34º 32,477’ W 58º 31,000’

sábado, março 22, 2008

Buenos Aires, mais uns dias

Este dias em Buenos Aires têm servido para descansar um pouco e visitar o centro da cidade.
Quase todas as ruas e avenidas têm árvores, mas mesmo assim sente-se um pouco a poluição.
Na praça de Maio, em frente a “La Casa Rosada” do governo, há sempre manifestações e cartazes de protesto.

Os passeadores de cães vêem-se um pouco por todo o lado.
Fui a uma livraria, que o meu amigo Vilarinho me recomendou, e realmente é um espectáculo. Chama-se “El Ateneo” e está num edifício que foi construído no início de século XX para ser um teatro, só que nunca o chegou a ser.



Ainda tenho mais uns sítios para visitar mas a cidade é muito grande e para andar nos autocarros é preciso estudar bem os percursos e andar sempre de mapa na mão.
Aqui na Dakarmotos, os viajantes chegam e partem. Aqui é o Wayne do Canadá.
O tempo tem estado bom, apesar de estarmos no final do verão.
Não há novidades para contar.
Apenas quero desejar uma boa Páscoa a todos.
Km 08913, Buenos Aires, S 34º 32,477’ W 58º 31,000’

quinta-feira, março 13, 2008

Ainda em Buenos Aires

Estes últimos dias têm sido para descansar depois de quase cinco meses na estrada.
Nunca pensei que passado todo este tempo ainda não teria chegado a visitar metade da Argentina e Chile. A viagem que estou a fazer é mesmo assim, pelo menos espero que continue assim. Ir andando com calma e parando sempre que me apetecer.
Nesta ocasião estou na Dakarmotos, uma oficina que tem uma espécie de albergue onde dá para ficar por uns dias. Estão cá alguns motociclistas que já conhecia de outros sítios e que encontrei algumas vezes durante estes meses na estrada.
Ted, inglês, e Sebastian, alemão, que conheci em Azul no início de Dezembro, Peter e Carol, canadianos que entretanto já saíram, e Chuck, norte-americano, que conheci em Viedma em Dezembro. Há também caras novas para mim: o Sean, norte-americano, e Wayne, canadiano. Ontem chegou uma moça norte-americana, Christie, com a sua moto de 200 cc.!
Todos estes motociclistas, uns mais novos e outros menos novos, viajam pelo prazer de conhecer nova gente e novas culturas. Para alguns deles será um pouco difícil pois apenas conhecem um mínimo de espanhol. Quanto ao português nem se fala e na próxima semana Ted, Sean e Christie vão seguir para o Brasil.
Nas paredes, quadros próprios ou noutros sítios, os motociclistas vão deixando os seus autocolantes para assinalar a passagem. Na Dakarmotos encontrei dois de portugueses que já por cá passaram e na La Posta, em Azul, também havia um, de um deles.
Depois de no passado fim de semana ter ido até Azul para festejar o aniversário do Jorge “Pollo”, de La Posta, com muitos motociclistas que lá foram, regressei a Buenos Aires.


Tenho ido ao centro da cidade, pois a Dakarmotos fica num bairro periférico, para conhecer um pouco da cidade que é enorme e reencontrar algumas pessoas que conheci há tempos. O comboio até ao centro passa perto e também há autocarros mas é preciso fazer transbordos.
Uma pequena revisão à moto e pintura das protecções raspadas na queda e a máquina está pronta para seguir viagem. Também já fiz, mandei fazer, uma limpeza à maquina fotográfica que estava cheia de pó. Até parece nova.
Penso que para a semana já estarei pronto para continuar.
Muitas pessoas pensarão que viajar de moto pela América do Sul é complicado. Tem as suas coisas menos fáceis, como algumas estradas de rípio quando estão em mau estado ou a falta de gasolina nalguns postos se chegamos aí na reserva, mas é uma experiência de vida muito interessante. Dá para conhecer muitos motociclistas de todo o lado que nos vão contando as peripécias das suas viagens. O que posso dizer é que até este momento não tenho sentido problemas e tenho encontrado pessoas acessíveis e simpáticas. Haverá um número reduzido de excepções.
Quem tiver a oportunidade de fazer uma viagem assim não a deixe passar e não tenha medo de vir até cá pois é uma experiência muito interessante.
Mesmo que por qualquer motivo tenha de regressar sem cumprir o meu plano que é chegar ao norte do continente, os meses que já passei aqui serão recompensa suficiente.
Km 08913, Buenos Aires, S 34º 32,477’ W 58º 31,000’

quarta-feira, março 05, 2008

Buenos Aires, agora de férias

Ainda em Melipeuco, tentei ir ver o vulcão mas não consegui. Há uma estrada que circunda o vulcão mas sempre bastante afastada da base. Tinha de ir a pé e eu não estava para isso. Passei em alguns pontos da estrada que estavam tão mal que tive de ir sempre em frente pois não queria voltar atrás e passá-los de novo. Mesmo assim houve um ponto em que não pude passar e voltei para trás até um cruzamento que me afastava do lugar onde estava alojado. Tive de ir fazer uma volta muito maior mas preferi não arriscar a cair.
A continuação para a Argentina foi demolidora. Logo à saída da cidade começava a estrada de rípio que estava num estado muito fraco. Foram cerca de sessenta quilómetros, até Icalma, com subidas e descidas cheias de pedra em que muito poucas vezes consegui passar dos quarenta quilómetros por hora. Mas o panorama compensava o esforço.


A partir dali e até Liucura o rípio já estava bom e era possível andar um pouco mais depressa, mas nunca muito rápido. A subida para a fronteira, em Pino Hachado, já era de asfalto.

Esta entrada na Argentina foi a mais complicada até agora.

No controlo de passaportes não estava ninguém e foi preciso esperar uma meia hora e depois para a entrada da moto é que foi o bom e o bonito.
Estive a falar e argumentar, não digo discutir pois acho que nunca discuti com ninguém, mais meia hora com a funcionária da alfândega. Não me queria fazer o impresso da importação temporária da moto. Dizia que não era preciso e eu dizia que sim. Ia falar com o chefe e voltava e dizia que não e eu dizia que tinha de ser. Finalmente, se calhar já farta de me aturar, levou-me ao chefe que me preencheu o impresso que eu queria. No final disse-me que pensava que eu era brasileiro, neste caso não seria preciso. Mas eu tinha-lhe mostrado o passaporte e ela até esteve a ver a moto e perguntou de onde eu era. Enfim…

Novamente numa estrada que atravessa uma região seca durante dezenas e dezenas de quilómetros.


A minha ideia era atravessar a Argentina para ir até Azul onde vive o Pollo de La Posta del Viajero em Moto que fez anos no dia 4 de Março. O deserto não tem grande coisa a ver e fui andando até ao final da tarde. Pouco antes de General Roca, passei por quilómetros de pomares onde as maçãs vermelhas reluziam por entre o verde das folhas. À volta da cidade vi vários canais com água para irrigação. Foi dos poucos sítios onde vi este aproveitamento da água.

À noite, depois de jantar, fui dar uma volta pela cidade. Estava calor e sempre arejava um pouco. Vi uma moto que não conhecia e tirei-lhe uma foto. Sempre que vejo uma moto nova ou melhor dizendo diferente tento tirar uma foto. Um senhor aproxima-se de mim e pergunta-me porque estou a fotografar aquela porcaria de moto.
Aquilo não vale nada, disse. Estas motos chinesas são uma porcaria. Há muitas marcas.
Eu respondi que sempre que via uma moto diferente procurava tirar uma foto. Foi o ponto de partida para uma conversa interessante. Depois fui até casa dele onde me mostrou uma Motoneta. Uma espécie de mini-moto italiana, de 1952, de 125 cc e dois cilindros, toda de alumínio. Nunca tinha visto nada assim. Ele ainda tinha mais três motos, todas de pequena cilindrada. Na manhã seguinte foi ter comigo para ver a minha Transalp.

Continuei a travessia da Argentina dentro daquela monotonia das planícies meio secas.
Ao chegar perto de Bahia Blanca num dos carros que passa por mim um sujeito acena mas segue e eu também aceno. Mais à frente sou eu que passo pelo carro e quando vejo o condutor conheço-o e faço sinal para parar. Era o Óscar de Viedma, organizador do encontro dos Horizons Unlimited. Estivemos um pouco na conversa e depois cada um continuou o seu caminho. Quem diria que assim no meio da estrada nos voltaríamos a encontrar passados três meses.
Próximo de Azul apareceu o que menos gostaria de encontrar, a chuva. Depois de tantos dias de calor e secura finalmente a chuva. Viam-se mesmo as nuvens a descarregar a chuva e eu ia direitinho para esse sítio. Bem, mas tinha de continuar!

Em Azul, na La Posta, estava um alemão que anda a viajar há vários meses e vinha de norte. Conheceu o Hamish e a Emma no Peru. Há tempos caiu na Bolívia e partiu um pulso. Teve de ir para a Alemanha para se tratar mas ainda não está em condições. Ficou mal curado e agora não pode andar muitos quilómetros seguidos senão começa a doer-lhe o braço. Espero que nunca me aconteça o mesmo. Chegou depois um casal de suíços que também os conheceu, mas na Austrália.
Soube que afinal a festa de anos vai ser no próximo sábado dia oito e achei que não valia a pena ficar aqui uma semana.
Continuei para Buenos Aires para fazer uma revisão à moto e a todo o material que tenho. A chuva esteve presente quase todo o caminho. Próximo da cidade havia pontos em que a estrada estava seca como se não chovesse há muito e de repente noutros vinha uma descarga de água que alagava tudo.
Quando cheguei à Dakarmotos pensei que não iria ter lugar para ficar, pois estava muita gente. Velhos conhecidos e novas caras. Afinal sempre se arranjou um canto para mim.
Agora acho que vou ficar por aqui umas semanas. Preciso de férias, pois há cerca de cinco meses que ando na estrada.
No sábado irei a Azul e depois volto novamente.
Tenho de fazer uma revisão à moto e ver também como está todo o meu material.
Não sei quando vou voltar a escrever. Parece que agora que me concedi umas férias não me apetece fazer mesmo nada. Prá semana.
Km 08125, Buenos Aires, S 34º 32,477’ W 58º 31,000’