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segunda-feira, junho 23, 2008

Em Uyuni mais uns dias

Fui ficando em Uyuni à espera de gasolina e do Nuno que estaria para chegar neste fim de semana. Também não podia seguir para Sucre pois havia bloqueios na estrada em Potosi.
Na segunda ao final da manhã fui a uma bomba de gasolina e já havia combustível. Abasteci a moto e enchi um pequeno bidão de seis litros só para prevenir.
Na terça fui até ao salar de Uyuni para poder ter uma ideia de como era. Era impressionante a extensão do lago, seco.
Numa faixa mais junto à margem havia pessoas a recolher sal.


Uns quilómetros à frente um hotel de sal estava construído no meio do salar. Já não é utilizado como hotel mas apenas como atracção turística. Na margem, na aldeia de Colchani, há um hotel de sal que está em utilização.


No interior do salar a uns sessenta quilómetros da margem fica a Ilha Incahuasi ou do Pescado. É uma ilhota que se percorre a pé em meia hora. O que tem de interessante são os inúmeros cactos, alguns com centenas de anos.


Para andar por ali ia seguindo os trilhos dos jipes das excursões. Nalguns pontos havia buracos no sal e via-se água por baixo. Tinham-me avisado para ter cuidado pois a camada de sal podia partir se saísse desses trilhos.

Estava era um frio danado. Parado ao sol não se sentia mas ao andar fazia mesmo frio. Quando ia para a ilha Incahuasi tive de parar e trocar de luvas pois já estava a ficar com os dedos gelados.
Ao passar em Colchani fui dar uma volta pelo povoado.

Regressei a Uyuni mais para o final da tarde. Já antes tinha visto este cartaz de publicidade mas penso que nao vou experimentar!

Na quinta-feira recebi uma mensagem do Nuno a dizer que tinha tido problemas e chegaria no domingo ou segunda.
Depois destes dias todos pensei que poderia esperar mais dois ou três dias.
No domingo no final do almoço ia para o hotel para lavar uma roupa e vi à porta dois ciclistas. Eram eles, o Nuno e a Joana tinham acabado de chegar. Tinham-se atrasado pois deram a volta por outro salar, de Coipasa, e tiveram muitos dias em que tinham de andar com as bicicletas à mão pois era tanta areia no caminho e até dunas que se atrasaram mais que o previsto. O mais importante é que tinham chegado bem.

Agora vou ficar mais um ou dois dias com eles e seguir, não sei ainda para onde. Talvez para Sucre e descer para junto da selva amazónica. Lá faz menos frio!

KM 15852, Uyuni, S 20º 27,794’ W 66º 49,400’

domingo, junho 15, 2008

Em Uyuni para ver o salar

Em Tarija foi muito difícil encontrar um mapa da Bolívia. Quando fomos a uma bomba de gasolina para abastecer perguntei se tinham mapas e disseram que não. O gerente telefonou para o Instituto Geográfico Militar e de lá disseram que excepcionalmente me venderiam um.

Abastecemos de gasolina “especial” com 85 octanas pois não havia da “Premium” com 90.

Passei depois no IGM e comprei um mapa.

Saímos de Tarija ao final da manhã e fomos subindo a encosta com um certo receio de que a chuva aparecesse. Iria ser muito difícil subir a montanha com o piso enlameado.


Já no planalto ao fim de alguns quilómetros apareceu um piso pavimentado com cimento. Uma estrada muito boa numa descida para um vale muito bonito. Serpenteando ao longo de uns vinte quilómetros entrou num povoado, El Puente, e voltou a ser terra. Mas aqui seguia ao longo de um rio, seco.

Mais uma vez voltou o cimento e um vale de tons avermelhados que foi um gozo percorrer.


Parámos em Villa Abecia num hostal que o sujeito da gasolineira em Tarija nos havia indicado. O Hostal Cepas de mi Abuelo é muito agradável. Uma antiga casa agrícola recuperada onde os quartos têm o nome de cepas de videiras, Malbec, onde ficámos, Sauvignon, Chardonay e outras… Deve ser muito bom passar aqui uns dias mais no verão. Há muito a ver.

A estrada vai sempre num vale espectacular, as paredes são de rocha vermelha.


Em Camargo ao abastecer só havia gasolina sem octanas. O Hartmut perguntou quantas octanas tinha e o gasolineiro só disse que tinha gasolina e diesel.

Perguntei como era a estrada de Palca Grande para Cotagaita e um condutor disse que era razoável. Ele tinha feito essa estrada de manhã num carro baixo e não teve problemas de maior. Veio por essa estrada pois à saída de Potosi havia um bloqueio na estrada e ele teve de fazer um desvio e vir por secundárias.

Fomos tomar um café para nos despedirmos. O Hartmut vai seguir para Sucre e eu quero seguir para Uyuni.

Voltei um pouco atrás a Palca Grande e entrei na estrada que seguia para Cotagaita. Sempre num vale fantástico fui seguindo estrada fora. O piso não era muito mau.

Subindo e baixando segui esse vale com pequenas aldeias longe umas das outras. Numa delas bateram palmas quando passei.

Num certo ponto havia uma estrada que subia pelo outro lado do rio. Olhei para o GPS e fiquei a pensar se seria essa estrada para seguir. Por aqui o GPS não faz os cálculos de rota e só indica a direcção a seguir. Um pouco mais à frente parei e voltei atrás. Perguntei a um sujeito e ele disse-me que era a outra estrada para Cotagaita.

Desci ao rio, seco, e atravessei-o. Subi a outra margem e continuei vale acima.

Nos últimos quilómetros houve um rio para atravessar, mas desta vez com água, e uma subida com pedra solta e regos. Consegui chegar sem problemas de maior.


Na bomba de gasolina não havia gasolina. Só em Atocha, serão uns 100 quilómetros.

Encontrei um alojamento com sítio para guardar a moto.


Há um caminho que corta pela montanha em direcção a Atocha e pensei ir por aí mas um camionista disse que não seria seguro subir o rio Atocha e seria melhor dar a volta por Tupiza. Havia muitos lugares com areia e outros em que tinha de atravessar a água. Ficaria molhado e com o tempo frio iria ser duro.

Fui por Tupiza, que é uma cidade muito pequena, as estradas são uma miséria mas a paisagem é fantástica. Num certo ponto tive de atravessar um rio, não muito largo, mas meio fundo. Estava a ver que desta vez caía.


Depois de abastecer a moto e o estômago apontei para Atocha.

Outra vez uma paisagem espectacular, pena o muito pó. A estrada ia subindo e descendo até perto dos 4.000 metros. Muitas vezes andava quilómetros em segunda e terceira e raramente metia a quarta velocidade. Não falando nas vezes que tinha de andar em primeira, principalmente nas curvas. Nalguns cruzamentos não havia indicações nenhumas, o que valia era o GPS, sempre ia indicando a direcção a seguir.




Atocha também não é muito grande. É uma cidade construída para albergar os mineiros de um complexo para extracção de estanho, prata, volfrâmio e outros metais.


No hostal disseram-me que podia seguir pelo rio acima e uns 10 quilómetros mais à frente podia entrar outra vez na estrada.

Resolvi experimentar e entrei no rio. Em muitos sítios havia água gelada e algumas vezes tive de atravessar por cima do gelo pois era mais baixo que pelos trilhos marcados.

Numa certa zona havia muita areia e estive quase a cair, mas consegui aguentar nem sei como.

Pensei que o camionista tinha razão e se fizesse aqueles cem quilómetros pelo rio iria ser muito cansativo e talvez perigoso.


A estrada era como o costume sempre a subir e descer. Ao chegar à zona de planalto o vento estava mais forte e tornou-se mesmo como uma tempestade. Levantava poeira e areia.

Mais duas vezes estive mesmo quase a cair mas aguentei. Nalguns sítios havia muita areia e era difícil aguentar a moto sempre a direito. Também havia muitos quilómetros de piso tipo lavadouro, demasiados.

Cheguei a Uyuni pela uma e meia da tarde e depois de uma pequena volta encontrei um hotel com lugar para guardar a moto.

O vento abrandou e já deu para andar a conhecer um pouco da cidade.


No dia seguinte de manhã lavei alguma roupa que já estava a precisar. Perto do meio dia vim ao hotel para escrever uns postais que tinha comprado e vi que a roupa estava congelada na parte mais húmida.

Fui visitar o “Cementerio de los trenes” que fica a pouco mais de meia hora a caminhar. É impressionante a quantidade de máquinas a vapor e vagões que estão ali a apodrecer.

Sentia um mal-estar na cabeça e pensei que seria do esforço para andar e da altitude. Masquei umas folhas de coca e pouco depois passou.


Agora estou preso em Uyuni porque as bombas de gasolina estão secas. Numa disseram que talvez segunda-feira e na outra talvez na terça.

Nem posso ir visitar o salar e nem visitar os arredores.

Pensei ir numa excursão, mas estou à espera de um ciclista português que me disse que estaria por aqui nestes dias e talvez ele queira ir e assim iríamos juntos.

Ele já há dois anos que saiu do Alasca e quer chegar a Ushuaia. Nestas últimas semanas tem sido acompanhado por uma amiga.

A página dele na internet é www.ontheroad.eu.com e tem umas fotos e histórias fantásticas.

KM 15852, Uyuni, S 20º 27,794’ W 66º 49,400’

domingo, junho 08, 2008

Bolívia, país novo para descobrir

No último dia em Salta ainda dei mais um pequeno giro e aproveitei para visitar a catedral.
O tempo estava melhor e saí com o Hartmut para norte a meio da manhã.
A estrada, Ruta 9, em grande parte do percurso é uma estrada muito estreita mas tem um bom piso de asfalto. Nos primeiros quilómetros a estrada vai a meia encosta numa zona muito arborizada. Depois passa por um vale muito interessante, mas igual a tantos outros.

O frio manteve-se por algum tempo mas depois já foi preciso tirar o forro interior quando parámos em Tilcara para comer. Já era meia tarde e só faltavam quarenta quilómetros para Humahuaca.
Procurámos um parque de campismo, que ficava nos arredores, e enquanto nos preparávamos para montar as tendas vi que o GPS indicava 2.980 metros de altitude. Penso que é a maior altitude a que já acampei. A noite previa-se fria, pois é o normal nesta época do ano.
No dia seguinte de manhã havia alguma geada junto das tendas a confirmar o frio nocturno. Mal o sol apareceu o calor também surgiu e durante a tarde quase parecia o verão. Mas quando o sol desaparecia ao final da tarde voltava o frio.
Humahuaca é uma pequena cidade já com traços mais andinos, onde se vêem muitas pessoas com os trajos típicos da zona.
Mais um dia na cidade, com uma pequena caminhada pelos arredores, foi suficiente para esta paragem.




Na sexta ao final da manhã seguimos em direcção à fronteira, depois da que foi talvez a noite mais fria destes últimos dias. Até a água das garrafas, dentro das tendas, tinha pedaços de gelo. Era preciso ir em busca do calor.
Sempre num planalto com uma altitude a rondar os 3.500 metros, a estrada atravessava uma região muito seca. Não havia árvores e apenas se via erva seca que alguns lamas iam comendo.
Ao chegar a Abra Pampa, pequena cidade a meio caminho para a fronteira, encontrámos a estrada cortada por pessoas que reclamavam mais subsídios para combater a fome e pobreza. Tivemos que esperar mais de uma hora até que nos deixassem passar.

Parámos para comer alguma coisa e disseram-nos que em La Quiaca, cidade fronteiriça para onde íamos, tinha havido confrontos entre a polícia e populares que queriam invadir a Câmara Municipal. Também pelos mesmos motivos, exigir melhores condições de vida. Também nos disseram que a fronteira estaria fechada.
Decidimos continuar e depois em La Quiaca veríamos como estavam as coisas.
Continuava a estrada pelo planalto seco.
Ao chegar a La Quiaca abastecemos e aí disseram-nos que a fronteira estava aberta.
Aproveitámos para passar ainda neste dia e assim não perder muito tempo pela manhã nos trâmites fronteiriços.
Não houve dificuldade no processo, até nem havia muita gente, e ficámos logo na cidade de Villazon, já na Bolívia.
No sábado de manhã saímos cedo para tentar chegar a Tarija não muito tarde. Disseram-nos que seriam necessárias seis horas para fazer os menos de duzentos quilómetros de distância.
Foi preciso pagar uma portagem de 5 bolivianos à saída da cidade para poder entrar na estrada de terra batida. Não era rípio e por isso o pó era muito e então quando passava um camião era como uma cortina que tapava a visão.
Seguindo numa zona ainda muito seca a estrada descia até perto dos 2.600 metros e seguia por alguns quilómetros junto a um rio. Voltava novamente a subir e sempre com muitas curvas lá chegava outra vez aos 4.000 metros. A paisagem era espectacular e ver lá de cima os vales mais abaixo era uma sensação óptima.


Ao entroncar com a estrada que vinha de Sucre parámos para comer e descansar um bocado, pois aqueles 140 quilómetros de curvas e subidas e descidas foram cansativos. Disseram-nos que a estrada para Tarija era boa. O mapa indicava uma estrada asfaltada para os últimos cinquenta quilómetros e assim já podíamos relaxar um pouco.
O pior foi quando saímos dessa pequena povoação. Ao longe e lá no alto via-se um camião a subir a montanha e a fazer muito pó e mais abaixo também seguia um autocarro a fazer pó.
Mais uns quilómetros de terra e subimos novamente aos 4.000 metros. Passada a montanha a estrada volta a descer e bem, mas sempre de terra e muito pó. Por vezes até um pouco perigoso pois o muito pó escondia pedras que faziam a moto escorregar e as curvas eram muito fechadas. Não se podia apreciar a paisagem que era fantástica porque a concentração era essencial para não haver azar. Nesta parte da estrada havia muito mais trânsito e o pó era demasiado. Descemos mais de 2.000 metros em menos de cinquenta quilómetros.
Ao chegar a Tarija encontrámos um hostal onde ficar e com garagem para as motos. Foi preciso sacudir o casaco e depois as calças para tentar tirar o pó. Ainda deu para ver os últimos quinze minutos do jogo de Portugal.
Tarija é uma pequena cidade que achei muito limpa e com algumas pequenas praças bem arranjadas.
No domingo de manhã vi muita actividade desportiva, num parque ao longo do rio, e até uma corrida de ciclismo.
A partir de agora quero descobrir este país que é muito grande e diversificado. Nao sei como será mais para a frente com as ligaçoes de internet. Vou tentar actualizar sempre que possível.

KM 15275, Tarija, S 21º 31,879’ W 64º 44,171’

domingo, junho 01, 2008

Salta, mais uma semana

No domingo passado estava com a ideia de ir ver as comemorações do 25 de Maio mas achei melhor não ir.
O parque de campismo está integrado num “balneário” que inclui uma piscina ao ar livre, para o verão, e um parque de merendas, mas não tem uma cerca de separação. Como estamos a chegar ao inverno há muito poucos campistas.
Neste domingo vieram muitos autocarros com “piqueteros”, gente paga pelo governo para apoiar as comemorações, que andavam aqui pelo parque de merendas e pelo campismo. Demasiada gente para o meu gosto aqui por perto das tendas. Assim fiquei pelo parque e aproveitei para lavar alguma roupa que já precisava. O Hartmut cozinhou ao meio dia e ficámos a ler o jornal e a conversar.
Aqui na Argentina há vários meses que existe um conflito entre o governo e a gente do campo, por causa dos impostos. Os agricultores organizaram uma comemoração do 25 de Maio na cidade de Rosário, a cerca de duzentos quilómetros de Salta. No dia seguinte no jornal vinham os números de pessoas que estiveram num e noutro lado e, como sempre, variavam segundo as informações do governo e opositores. Mas a greve vai continuando.
Pensava regressar a Mendoza para ir buscar umas coisas que estava à espera de Portugal e na quarta-feira arrumei as coisas e saí.
Deu uma volta mais larga para ir ver uma pequena cidade, General Güemes, antes de entrar na estrada principal. O acesso era por uma estrada secundária de terra que estava em mau estado mas dava para passar.
Afinal não achei a cidade muito interessante mas aproveitei para almoçar num restaurante ao pé da estrada. Muito bom e baratinho.
Na estrada principal, Ruta 9, rumei para sul. Ao fim de uns cinquenta quilómetros começou a chover e a ficar mais frio. Comecei a pensar se valeria a pena ir debaixo de chuva para sul e fazer à volta de 1.500 quilómetros até Mendoza. Parei um pouco a pensar junto a uma capela da “Difunta Correa”. Na Argentina e Chile não faltam estas capelinhas em honra da Difunta Correa” e na Argentina também há em honra de “Gauchito Gil”, patronos dos viajantes.
Dei meia volta para trás. Passei mais uma vez numa portagem onde as motos não pagam, porque é que em Portugal não se passa o mesmo? Até agora, só mesmo nas auto-estradas de acesso a Buenos Aires tive de pagar portagem. No Chile já não é assim, todos os veículos pagam.
Quando cheguei ao parque de campismo o Hartmut disse-me: Eu bem te avisei que o tempo ia mudar e vinha uma vaga de frio. Só na segunda-feira o tempo irá aquecer outra vez. Vou para a Bolívia e podes vir comigo.
Tá bem, disse eu.
Estes dias têm sido bem frios, realmente, mas ao menos não chove.
Por aqui e mesmo noutras cidades há muitos miúdos, e graúdos também, a tentar vender coisas por todo o lado, até entram nos restaurantes para tentar vender.


Vou ocupando o tempo a escrever sobre as minhas viagens anteriores para ir publicando no blog, pouco a pouco.
Neste domingo o tempo já está a melhorar e se tudo correr bem vou seguir para norte, Bolívia.

Km 14450, Salta, S 24º 48,728’ W 65º 25,170’